Há anos não tinha folga em um feriado de 7 de setembro. O deste veio a calhar, porque minha filha aderiu ao chamado da escola para desfilar. Cancelei uma visita que estava programada há semanas e me programei para sair cedo de casa com ela e um colega que pediu carona. Gosto de ficar um tempo no meio desta galera adolescente, 15 anos, que começa a discutir de tudo. Saber um pouquinho do que falam e pensam, puxar conversa, dar corda.
Continua depois da publicidade
Na ida, eles se divertiam com uma versão segundo a qual os chineses, levados pela grita quase geral, teriam trocado as bolas e o nome do presidente. “Bem-vindo à China, senhor presidente Foratemer”, teriam dito. Ri muito. “É piada”, falei a eles. “Não é não, aconteceu”, quiseram me fazer crer. “O que vocês andam lendo além do Facebook?”, cutuquei. E seguimos caminho em razoável alarido.
Leia as últimas notícias de Joinville e região.
Mas não tergiversemos, o foco é o 7 de setembro. Adorei saber que a Júlia marcharia na avenida. Senti mesmo uma pontinha de orgulho. Menos pelo tal civismo (isto precisa estar dentro da gente, na alma) mas por vê-la em atividade, mobilizada, compromissada. E assim também me representaria, porque nunca marchei na avenida. Nos tempos da escola básica, ensaiava muito, pisava muito barro e pedras quando saíamos às ruas nos preparativos para a parada cívica. Mas no dia, meu pai não deixava marchar, achava perda de tempo. Permitia ir assistir. Participar, não. E obedecíamos.
Este ano não escutei o barulho dos ensaios. Senti falta. Porque sustentam tradições, permitem-nos recuar no tempo, relembrar a meninice. Teriam sido os ensaios abafados pelos sons da cidade cada vez mais barulhenta? Ou, com o cancelamento dos desfiles nos bairros, sequer ocorreram? Me fizeram falta as fanfarras ensaiando. Pratos, caixa-clara, bumbos, cornetas e liras de banda. Então, para compensar, lambuzei-me, empanturrei-me deles no período em que fiquei na Beira-rio.
Continua depois da publicidade
O desfile foi uma beleza. Ajuda na construção deste pensamento o dia sem compromisso, a cabeça ocupada apenas por aquele momento de lazer, de ver as diversas turmas passando, lançar um olhar interessado no que estavam fazendo, imaginar o que pensam aquelas cabecinhas, especialmente as pré e as adolescentes e seus hormônios em farra, como são compreendidos, o que conseguem dizer, o que guardam para si, o que a vida lhes reserva.
Espero que tenham um caminhar firme e cadenciado, de olhar atento para frente, como faziam ao marchar ao som contagiante do batuque cívico.