A cena, por se repetir de vez em quando, já deve ter sido percebida pelo leitor, seja numa imagem de jornal, na TV ou, desgraçadamente, ao vivo: há um crime, um corpo no chão e a curiosidade geral a cercá-lo. É uma cena típica das ocorrências. E a pequena multidão tem homens, mulheres e… crianças. Vazão à curiosidade por vezes mórbida.

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Não é de hoje. Desde as primeiras ocorrências que acompanho, em meados dos anos de 1980, esta curiosidade é percebida. E hoje os agentes de segurança ainda fazem o isolamento, esticam uma faixa delimitando terreno, mantém-se a “plateia” uns metros distante a elucubrar situações e motivações enquanto tenta enxergar algo mais.

Cheguei à lembrança destas cenas – que se repetem também ao se passar por acidente de trânsito, por exemplo – ao ler artigo cujo ponto central vai ainda um pouco além na relação das pessoas com a cena de um crime. Trata de outra cidade, com estatísticas de violência maiores que as de Joinville, mas certamente é um quadro que, na essência da reflexão que traz, aplica-se a qualquer lugar.

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Trata-se de um preocupante quadro de precocidade na convivência de crianças (especialmente, que deveriam ser mais bem protegidas destas cenas) com a violência. Uma proximidade altamente nociva.

Diz o articulista, que fazia uma reportagem sobre dados de violência, que “crianças de cinco anos contaram com riqueza de detalhes como uma pessoa agoniza antes de morrer”. Outro exemplo: “Uma delas relatou que o homem soltava sangue (…) pela boca e pedia água, mas ninguém dava. Depois de um tempo, o homem começou a tremer e parou de se mexer”. Última reprodução de testemunho: “Uma menina de 11 anos contou como a maconha causa fome e sono após o uso”.

Não é chocante esta proximidade que as pessoas têm, em especial as crianças, com a violência, sendo ao tomar parte num círculo de curiosos em torno de um corpo atirado na rua ou presenciando cenas urbanas?

Pode nascer aí uma frieza para a vida que não tem nada de alentador.