Nos tempos de futebolista, muita fantasia criei. Tentei a lateral-direita, picado pela mosca-azul de um elogio após umas peladas. Cada desarme ou “subida” para apoiar, imaginava um mundaréu de gente à beira do gramado de boca aberta diante de tanto talento, comparando-me aos grandes craques da posição nos anos de 1970. Durou pouco, não era mais escalado. Era limitadíssimo, mas fantasiava o contrário.

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Fui parar no gol. Arrojado, atirava-me nos pés dos atacantes, fazia pontes e novamente fantasiava – melhor que Ubaldo Fillol, Mazaropi, Leão, Bosse, com fã-clube e tudo. Também não rolou.

Em 1983, num festival, comecei um jogo como goleiro, sendo rapidamente substituído, e acabei como árbitro. Ah, arbitragem. Quem sabe. Apitei o segundo tempo. Detalhe: o travessão de uma das traves havia caído. Bola que passasse naquela altura, era no olhômetro para definir se foi gol ou não. Houve apenas um lance polêmico. Não dei o gol, entendi que a bola passaria por cima do travessão, se houvesse um. Pressão, ameaça de surra bem dada, mas resisti. De novo, me senti um cara forte, enérgico, bambambã. Já me via apitando uma final importante, todos aos meus pés. Nunca mais me delegaram o apito.

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Nesta semana, estive no cardiologista. Quando ele perguntou pelas atividades físicas, enchi a boca para dizer que caminho quase que diariamente e às vezes até arrisco uma corridinha. Sentia-me forte, malhado, bem preparado, coisa de dar gosto. Feitos os exames, o teste na esteira mostrou um sujeito esgotado ao fim de 12 minutos no equipamento. O gráfico entregava – e se não entregasse, bastaria olhar o estado do cristão: jogado numa cadeira, língua de fora, abanando-se em busca de ar.

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Após as explicações – tudo certo, apesar do mau condicionamento físico -, o médico definiu meu andar diário como saudável, porém, como uma “caminhada de olhar vitrine”, pouco exigente. E eu achando que estava matando a pau. Se quiser mesmo melhorar o condicionamento, precisa mudar o ritmo. E não criar ilusão.

Muitas vezes, achamos que se está matando a pau. Os exemplos aqui são pequenos, prosaicos, divertidos até. Convém se testar de verdade, submeter-se à análise prática, aos exames dos que nos cercam, à crítica. Não alimentar ilusões.

Tenho visto e ouvido entrevistas de políticos recém-eleitos. Jargões e lugares-comuns tomam conta. Todos matarão a pau quando o exercício do mandato chegar. Vamos aguardar. Periga ser ilusão.