Há uns 35 anos não escuto mais alguém dizer a palavra quarar. Você, com o jornal impresso ou digital aberto à sua frente, conhece ela? Muitos sim, é provável. Muitos não, é possível. As três mulheres que me deram colo – mãe Tereza, vó Isabel e dinda Chica – não viviam sem ela. Lavavam roupa em tanques e tinham por hábito quarar até pano de prato. As roupas que passavam pela primeira ensaboada eram estendidas no gramado para pegar um sol antes de voltarem ao tanque. “Botar a roupa para quarar” – seja lá que efeito prático isso tenha – era da rotina. Como será que a indústria definiu (e embutiu) quarar nestas máquinas de lavar que quase falam?

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A palavra dinda também faz tempo que não pinta no âmbito de uma conversa, seja um tró-ló-ló de boteco ou em visita familiar. Vê-la sendo exercitada, então, vai mais longe ainda. “A bênção, dinda; a bênção, dindo”. Respeito e educação, é do que se trata. “Bença, dinda” era como no final saía, em adaptação permitida porque o que valia era o gesto. Sei lá por que este acesso de rebuscar palavras que passaram pela vida. O fato é que sobreveio à lembrança pequeno conjunto das que caíram em desuso.

Meliante. Botei este adjetivo em algumas reportagens de fatos policiais no começo da carreira. Gatuno também. Menos que meliante, mas entrava. Hoje, a coisa é mais hermética, formal.

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Há algumas palavras muito bonitas. Minha filha precisava de um dinheiro para o lanche na escola. Saquei as notas, estiquei os braços e disse-lhe: “Doar-lhe-ei esta quantia”. E completei: “Isto é uma mesóclise”. Ela boiou. Falar assim, “doar-lhe-ei”, “citá-lo-ei”, é uma mesóclise. Isto aprendemos em algum momento da aula, mas o desuso e a falta de curiosidade levam a gente a esquecer. Só lembrei porque li algo a respeito recentemente e fiz uma pequena pesquisa no Aurélio. Mesóclise é uma palavra bem bonita, épica talvez.

Cedilha também soa muito bem. Cedilha. Tem charme e força. Babava vendo as primeiras professoras enchendo a boca para explicá-la. “Aqui é com ?cedilha?, aqui é com dois ?esses? e aqui é com ?cê?”. Custei, mas encasquetei.

Encasquetar. Está aí mais uma. Será que aquela menina do dinheiro para a merenda encasquetou mesóclise?