Tanto aprontou Ed Motta para não ser confundido com os conterrâneos feios e mal-educados que até outro dia lhe pagavam as contas que seu 12º disco não tem qualquer vínculo com o Brasil e com os brasileiros. Lançado em fevereiro na Europa e no Japão, Perpetual Gateways foi gravado nos Estados Unidos com instrumentistas americanos e é todo em inglês. A previsão é de que a edição nacional saia em 11 de março, mas as dez faixas autorais divididas entre soul e jazz deixam bem claro o público-alvo do trabalho: o culto & sofisticado consumidor estrangeiro do primeiro mundo.
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Hard rock, metal & vertentes do som pesado todas as quintas em Males que Vão para o Ben
Como já vinha fazendo antes mesmo de AOR (2013), batizado com a classificação do mercado gringo para adult oriented rock, o cantor investe em uma musicalidade muito mais relacionada à madureza do que ao estilo expresso na sigla. Na primeira metade do álbum, é inegável a influência de Steely Dan. Os timbres elegantes e o groove suave de Hyponcodriac’s Fun, Good Intentions e Heritage Déjà Vu têm tudo a ver com a dupla americana que brilhou na década de 1970 cunhando um pop no qual imperava o requinte do jazz – se você não conhece, vá atrás, por favor.
A segunda parte traz o artista em faceta jazzista mais ortodoxa, puxando-se para ficar pelo menos à altura dos craques que o acompanham. A concorrência é forte, com a banda quebrando tudo e extrapolando as convenções do gênero em Forgotten Nickname, The Owner e A Town in Flames. São os músicos – todos com extensa folha de serviços prestados ao ritmo – que respaldam o caminho adotado por Motta. Pois, em vez de viver de hits radiofônicos, coisa em que já provou que tem a manha, ele preferiu se aventurar em um nicho impopular, onde muitas vezes suas pretensões são encaradas como piada. Que seja feliz com suas escolhas.
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Vinil arranhado
Produzida por Martin Scorcese e Mick Jagger, a incensada série Vinyl, sobre as entranhas da indústria da música nos anos 1970, esbarra em um problema mais inacreditável do que o preço do pacote da operadora de TV a cabo com o canal que a exibe: a trilha sonora. Pela temática e pela época, o conjunto de canções que embala a trama tinha tudo para ser épico. Mas passa longe disso – e a resposta para o nanismo dos artistas escalados está no altíssimo valor do licenciamento de canções originais. Salva-se a racha-assoalho It’s Just Begun, de Jimmy Castor Bunch, e olhe lá.
LANÇAMENTOS
Quilt, Plaza – Em seu terceiro disco, o quarteto de Boston borra as fronteiras entre psicodelismo e indie rock. Descobrir onde termina um e começa outro é a última coisa com a qual se preocupar para se deleitar com pepitas como Eliot St e Passersby. Com alguma sorte e um pouco de justiça, talvez a gente ainda ouça falar muito dessa rapaziada.
TEEN, Love Yes – Como é que ninguém nunca pensou nesse nome antes? A frescura de ser todo em maiúsculas estende-se pelo terceiro trabalho dessa banda formada por três irmãs e uma amiga radicadas em Nova York. Coloque Free Time, All About us ou Tokyo para rolar e brinque de buscar referências, que vão de Madonna fase oitentista a Cocteau Twins.