O economista liberal Hazem al-Beblawi, ex-ministro das Finanças, foi nomeado nesta terça-feira novo primeiro-ministro do Egito, seis dias após a destituição do presidente islâmico Mohamed Mursi, que desencadeou uma onda de violência em todo o país.
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O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, que chegou a ser cotado para assumir o governo de transição, ocupará o cargo de vice-presidente encarregado das relações internacionais, anunciou o porta-voz da Presidência, Ahmed al-Muslimani.
Este anúncio foi feito no momento em que a Irmandade Muçulmana enterra as dezenas de manifestantes mortos na segunda-feira durante uma manifestação em apoio ao presidente Mursi.
Apesar de a Irmandade ter convocado uma “revolta” após o “massacre”, nenhum incidente foi registrado nesta terça-feira.
O novo primeiro-ministro é um economista de tendência liberal, de 76 anos, que traçou sua longa carreira em várias instituições econômicas particulares e públicas, egípcias e internacionais.
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Hazem al-Beblawi foi vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças em 2011, durante o período de transição sob o governo militar que se seguiu à queda de Hosni Mubarak.
Pouco após esse anúncio, o Exército advertiu para qualquer tentativa de perturbação neste período “delicado e complexo” de transição, em uma declaração à televisão pública.
A escolha de Beblawi é anunciada depois de vários dias de discussões e da retirada do principal partido salafista, Al-Nur — que apoiou o golpe militar ao lado de movimentos majoritariamente laicos — em razão da violência que causou dezenas de mortes entre os partidários de Mursi no Cairo.
Com o objetivo de relançar a transição política, o presidente interino, Adly Mansour, decretou à noite que a organização de eleições legislativas será iniciada antes do final do ano.
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A declaração constitucional, divulgada pela agência oficial Mena, prevê o início da organização de eleições legislativas antes do final de 2013 e seu fim para antes do início de fevereiro. Em seguida, uma nova Constituição será submetida a referendo, para que depois uma eleição presidencial seja anunciada.
Mas o anúncio foi criticado imediatamente por uma autoridade da Irmandade Muçulmana.
– Um decreto constitucional por um homem nomeado por golpistas… devolve o país à estaca zero – escreveu Esam al-Erian no Facebook.
Já o movimento Tamarrod, que organizou as manifestações em massa contra Mursi, expressou suas reservas em relação ao decreto constitucional e declarou que se prepara com especialistas para uma série de mudanças.
Funerais sob tensão
Enquanto isso, os funerais dos partidários de Mursi acontecem em um clima de extrema tensão, que domina o país desde a destituição do presidente islamita pelo Exército em 3 de julho, após gigantescas manifestações populares para exigir sua saída.
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A violência deixou no início da segunda-feira pelo menos 51 mortos e 435 feridos durante uma manifestação pró-Mursi em frente ao quarte-general da Guarda Republicana, de acordo com os serviços de emergência.
A Irmandade Muçulmana divulgou uma lista incluindo os nomes de 42 de seus partidários mortos, enquanto a Polícia e o Exército indicaram que três de seus integrantes haviam morrido.
Ao amanhecer, os partidários de Mursi rezavam diante do quartel-general, quando soldados e policiais abriram fogo, segundo relato da Irmandade Muçulmana.
Manifestantes declararam à AFP que foram atacados com tiros com munição real e bombas de gás lacrimogêneo, em circunstâncias que permanecem obscuras. A Irmandade Muçulmana acusa o Exército pelo ataque.
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O Exército indicou, por sua vez, que “terroristas armados” tentaram atacar o quartel da Guarda Republicana. A ação terminou com um oficial morto e vários soldados feridos, seis deles em estado crítico, segundo fontes militares.
Nesta terça, uma fonte judicial indicou à AFP que cerca de 650 pessoas começaram a ser interrogadas por autoridades egípcias, acusadas de tentar invadir o quartel-general da Guarda Republicana.
– Não foi um protesto pacífico, os partidários de Mursi portavam armas e pistolas – afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Badr Abdelatty.
Apesar do alerta do Exército, islamitas protestaram segunda à noite em várias cidades, e nesta terça milhares de pró-Mursi se mantinham em frente à mesquita Rabaa al-Adawiya.
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Vários países expressaram preocupação com a violência.