Pela nona vez consecutiva, o relatório Focus do Banco Central rebaixou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, fixando um percentual de 2,01% – ante os 2,05% da semana passada. Divulgado nesta segunda-feira, o indicador sintetiza as expectativas do mercado sobre o desempenho da economia brasileira.
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A previsão do mercado vai na contramão das projeções do governo. Na segunda-feira, o Ministério da Fazenda confirmou a ZH que a meta oficial, para este ano, continua sendo de crescimento do PIB em 4,5% – mais do que o dobro do estimado pelo Focus. No mês passado, num sinal de que o objetivo inicial pode ser revisto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, falou em “mais de 2,5%” de expansão do PIB.
Mas como ficará a vida dos brasileiros, no segundo semestre, se o prognóstico do mercado se confirmar? O economista Armando Castelar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que o cenário é de “dúvidas e incertezas”. Pondera que a baixa nos juros já deveria ter apresentado efeitos.
– Passou tempo suficiente para que começasse a impactar a atividade – observa Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV.
Castelar entende que a economia, se as providências do governo derem resultado, poderá ter uma performance menos pior ao final do semestre. O professor de economia do Ibmec (grupo empresarial de educação superior) Reginaldo Nogueira também cogita uma reação a partir de outubro. Avalia que o Palácio do Planalto seguirá estimulando o crédito para tentar salvar o ano.
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– O governo terá de acertar no segundo semestre – diz Nogueira, do Ibmec de Minas Gerais.
O nível do emprego e os salários são as maiores preocupações do brasileiro. Na avaliação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, a situação é favorável, por enquanto. Economista da entidade, Lúcia Garcia afirma que a taxa de ocupação vem crescendo, na proporção de metade do PIB.
O valor dos salários também se elevou, na comparação com o ano passado. No entanto, Lúcia alerta que a economia gaúcha é atrelada ao centro do país, depende de encomendas. Se a produção industrial despencar, haverá reflexos no emprego e nos rendimentos.
– Percebemos uma crise, e claro que é ruim, mas ela vai se manifestar como ligeira desaceleração – analisa Lúcia.
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O CENÁRIO
O que analistas estão prevendo para a economia do Brasil, em razão da nova queda no PIB estimada pelo mercado:
– Empregos: a situação, até o momento, é considerada favorável. O mercado de trabalho tem crescido na proporção de metade do que sobe o PIB. No entanto, a desaceleração da produção pode afetar o atual quadro. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, a taxa de desemprego é de 7,3%, segundo o Dieese.
– Inflação: a taxa deverá ficar em torno de 5%, para 2012, abaixo do índice registrado no ano passado. O patamar está dentro da tolerância traçada pelo governo. No entanto, a previsão é de que os preços tornem a subir em 2013, o que é preocupante num cenário de economia debilitada.
– Salários: a situação é razoável, até o momento, na avalição do Dieese. No mês de abril (em comparação com abril de 2011), o rendimento médio do trabalho cresceu 4%. Empregados com maior escolaridade e experiência foram os mais beneficiados. No entanto, o desaquecimento deve frustrar expectativas quanto a reajustes.
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– Juros: a taxa básica de juro, que atualmente é de 8,5%, seguirá em queda, devendo fechar o ano em torno de 7,5%. A estimativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) fará mais dois ou três cortes até o final do ano. O primeiro deve ocorrer já na próxima reunião do Copom, que começa hoje e termina amanhã.
– Investimentos: as aplicações em renda fixa não devem mudar, por enquanto. O desempenho da economia no segundo semestre, se houver reaceleração, trará mais variáveis para análises. A recomendação é para ficar atento e não se precipitar com mudanças bruscas.
– Câmbio: deverá se manter estável até o final do ano. A cotação do dólar deve ficar em torno de R$ 2.
– Economia: poderá experimentar uma leve recuperação a partir de outubro, quando as medidas adotadas pelo governo federal, como a isenção de impostos, começarem a ter efeito. Mas o quadro é de incertezas. Para 2013, a previsão é de crescimento de 4,2% – abaixo dos 4,3% do cálculo anterior.
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