A crise política na Venezuela ganhou força nas últimas semanas com a posse de Nicolás Maduro como presidente por mais um mandato. O ápice do embate ocorreu nesta quarta-feira (23), quando o presidente da Assembleia Nacional Venezuelana, Juan Guaidó, se declarou presidente interino do país. O Brasil, os Estados Unidos e o Canadá estão entre os países que declararam apoio ao movimento de Guaidó, além da Organização dos Estados Americanos (OEA).

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O dia na Venezuela foi marcado por protestos violentos a favor e contra Maduro. Após o anúncio do opositor e do apoio de algumas nações, Maduro afirmou que o país rompeu relações com os Estados Unidos e deu 72 horas para que as missões diplomáticas norte-americanas deixem o país.

Entenda a crise econômica e política que atinge a Venezuela

2014

Preço do petróleo

A queda de mais de 50% nos preços do petróleo, em 2014, marcou o início da crise econômica na Venezuela, inflamando as tensões entre o governo e uma oposição empenhada em tirar Maduro do poder. O petróleo representa a maior parte da renda do país.

2015

Oposição conquista vitória nas urnas

A oposição ao governo de Maduro conquistou vitória histórica nas eleições parlamentares, em dezembro de 2015. O trunfo marcou o fim de 16 anos de hegemonia chavista com a maioria de pelo menos três quintos da Assembleia Nacional. Como manobra para enfraquecer a oposição, Maduro começou a usar a Suprema Corte e a Justiça Eleitoral do país para garantir hegemonia política, diminuindo os poderes do Parlamento.

2016

Fim de diálogo

A coalizão oposicionista, que controlava o Legislativo venezuelano, suspendeu o diálogo com o governo, que não teria cumprido acordos envolvendo o cronograma eleitoral e a libertação de opositores. A oposição pressionou o governo por um referendo revogatório contra Maduro, processo que acabou descartado pelo Executivo. Os opositores, então, pediram a antecipação das eleições presidenciais, marcadas para 2018, o que também foi rejeitado.

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2017

Suprema Corte assume o Parlamento

Em março de 2017, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela assumiu as competências do Parlamento. A decisão, segundo analistas, representa mais um passo rumo a modelo autoritário. O congresso, de ampla maioria opositora, considerou a manobra um desacato. Após forte pressão internacional, o TSJ voltou atrás e revogou a decisão um mês depois.

Protestos

Mesmo com o recuo, a ação do Supremo foi o estopim para uma onda de protestos em todo o país. Com manifestações quase que diárias, marcadas por confrontos entre manifestantes e forças de segurança, mortes, prisões de opositores e cenário de guerra, a crise política no país ficou ainda mais inflamada. A violência vinculada às manifestações entre abril e julho de 2017 deixou 125 mortos.

Invasão no Parlamento

Partidários de Maduro invadiram o Parlamento em julho de 2017. Vinte pessoas, entre elas sete parlamentares, ficaram feridas nos confrontos durante o ato.

O então presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, o opositor Julio Borges, disse que a ação foi ordenada pelo governo. Na época, Maduro condenou o ataque e pediu investigação dos fatos.

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Constituinte

Em 30 de julho de 2017, mais de 8 milhões de venezuelanos votaram para definir os integrantes da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), órgão que seria considerado pelo presidente Nicolás Maduro como legítimo detentor do poder legislativo. O dia da eleição foi violento e terminou com 10 mortos – dois deles adolescentes.

A oposição e vários governos rejeitaram o resultado, considerando a votação "fraudulenta". A maioria votou de acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A oposição diz que Maduro usa a nova constituinte para garantir sua supremacia no poder. Em agosto, a ANC decidiu, por unanimidade, assumir as competências do Parlamento, deslegitimando a Assembleia Nacional, controlada pela oposição.

Com a manobra, o cenário político no país ficou mais tenso. Os opositores consideram a decisão ilegítima e como um instrumento do governo de Maduro para consolidar uma ditadura no país.

2018

Maduro reeleito

Em maio de 2018, Maduro foi reeleito presidente da Venezuela. Em um processo marcado por denúncias de fraude, abstenção de eleitores — o sufrágio não é obrigatório, e apenas 46% dos venezuelanos aptos votaram — e falta de reconhecimento de opositores e da comunidade internacional, o polêmico sucessor de Hugo Chávez obteve um mandato de mais seis anos, a partir de janeiro de 2019.

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Crise migratória

Com o cenário caótico no país, com altos índices de inflação, faltas de produtos básicos e taxas elevadas de desemprego, parte da população da Venezuela decidiu tentar a sorte em países vizinhos. Entre os destinos escolhidos, estão Brasil e Colômbia. Alguns venezuelanos se estabelecem no Brasil. Outros retornam para a Venezuela, após confrontos violentos na fronteira.

Com Roraima não dando conta do alto fluxo de imigrantes, o governo federal intensifica processo de interiorização, transferindo venezuelanos para outros Estados, como o Rio Grande do Sul.

2019

Posse de Maduro

Em 10 de janeiro de 2019, Sob críticas e suspeitas internacionais, Maduro tomou posse para um novo mandato, que irá até 2025. Ele conta com o respaldo das Forças Armadas e da Suprema Corte, mas sofre resistência interna da Assembleia Nacional, que é comandada pela oposição. Países como o Brasil e os Estados Unidos não reconhecem o novo mandato de Maduro.

Presidente do Congresso contesta mandato

Um dia após a posse de Maduro, o presidente do Congresso venezuelano, Juan Guaidó, anuncia que vai assumir a presidência do país, não reconhecendo o novo mandato de Nicolás Maduro. Guaidó afirmou que vai comandar a Venezuela com o apoio da população e do Exército para "convocar uma processo de eleições livres e transparentes que facilitem uma transição pacífica e democrática no país". Guaidó afirma que a decisão segue a Constituição do país.

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Guaidó se declara presidente interino

Cumprindo a promessa, Guaidó fez um juramento constitucional nesta quarta-feira (23) e se proclamou presidente interino da Venezuela.

O gesto de Guaidó foi reconhecido pelo Brasil, pelos Estados Unidos, pelo Canadá e pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Apoiadores e opositores do governo Maduro realizam protestos em Caracas.

Os tumultos no país deixam saldo de pelo menos quatro mortos. Uma estátua de Hugo Chávez foi queimada.

Maduro chama Guaidó de golpista e rompe relações com os EUA

Em um discurso inflamado no Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano, o presidente Nicolás Maduro rechaçou qualquer possibilidade de deixar o cargo. Para Maduro, Guaidó tenta um golpe de Estado semelhante ao de Pedro Carmona, que tentou derrubar Hugo Chávez em 2002. Em retaliação, Maduro ordenou que todas as missões diplomáticas dos Estados Unidos deixem o país em 72 horas.

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— Aqui há dignidade, c… — afirmou.

Crise econômica

O embate político na Venezuela tem como pano de fundo a intensa crise econômica que afeta o país. A instabilidade provocou escassez de comida e remédios e, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação em 2019 vai chegar a 10.000.000%. Segundo a ONU, 2,3 milhões de pessoas deixaram o país desde 2015.