Depois de um início de ano promissor, a economia do país voltou a patinar. A queda de 0,52% no índice de atividade calculado pelo Banco Central (IBC-Br) em fevereiro ampliou as dúvidas sobre o tamanho do fôlego da retomada dos setores produtivos.
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Com a inflação em alta e o fraco desempenho econômico, cresce a expectativa em torno da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana. Em razão do avanço dos preços, especialistas já esperavam que o Banco Central (BC) subisse o juro, mas um avanço da taxa básica agora pode sacrificar ainda mais o crescimento.
– O governo vai apostar mais nas desonerações para conter a inflação. Mas pode ser que o BC opte por aumentar o juro para retomar a credibilidade – avalia Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria.
Há algum tempo o Banco Central vem sofrendo críticas por não dar atenção necessária à inflação e por não ser mais independente do governo. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo poderá elevar os juros para combater a alta de preços, função que fica a cargo do BC.
Especialistas apostam que março deve ser melhor tanto para a indústria quanto para o comércio. Bacciotti estima avanço do índice em 1%:
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– O panorama ainda é muito incerto. A economia não entrou numa trajetória clara de recuperação. De qualquer maneira, o primeiro trimestre do ano vai ser melhor que os últimos três meses de 2012 – afirma.
Mesmo assim, a queda de fevereiro preocupa. Principalmente depois do desempenho ruim no ano passado, quando o país cresceu apenas 0,9%.
Ao mesmo tempo que a economia não decola, o dragão da inflação levanta voo. Apesar do “pibinho” de 2012, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 6,59% no acumulado dos últimos 12 meses até março, estourando o teto de 6,5% da meta do governo. No mesmo período, os alimentos acumulam alta de 13,48%. A redução da tarifa de energia elétrica e a isenção fiscal da cesta básica ajudaram a desacelerar, mas não impediram o avanço dos preços.
– O setor de serviços está muito caro. A alta de preços retira poder de compra da população. A queda nas vendas do varejo mostra um pouco isso – avalia Julio Sergio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
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A queda no índice de atividade econômica calculada pelo Banco Central foi causada principalmente pelo recuo na indústria e nas vendas do varejo em fevereiro. Parâmetro para avaliar todo mês o ritmo da economia brasileira, o indicador – IBC-Br – é considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB).
– O panorama não é tão ruim quanto o ano passado, mas 2013 não será um ano de grandes avanços. Se tivermos sorte chegamos a 2,5% – afirma Gomes de Almeida.
O especialista avalia que se o país continuar registrando baixos índices de crescimento pode causar uma desaceleração maior nos índices de emprego e comprometendo uma das maiores conquistas do atual governo:
– Começo a ter dúvidas se o mercado de trabalho vai continuar aquecido.
Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, pondera que os índices de emprego podem continuar estáveis mesmo com o crescimento baixo, mas isso depende da confiança do empresariado sobre o futuro:
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– Há muita dúvida quanto à manutenção do juro, por exemplo. Mas ao mesmo tempo percebe-se boa vontade do governo em ajudar a indústria. Então, isso pode acabar contando a favor – afirma Bacciotti.
Medidas para segurar o avanço dos preços com pouco efeito
Conta de luz
A queda média de 20% na tarifa residencial de energia elétrica em fevereiro já teve boa parte corroída por reajuste das distribuidoras.
Cesta básica
O impacto do corte de impostos da cesta básica no bolso do consumidor foi menor do que o esperado. Nem todos os itens que ganharam isenção fiscal em março tiveram seus preços reduzidos nos supermercados.
Câmbio
A ameaça de uma inflação mais alta fez o governo atuar no mercado para valorizar o real frente ao dólar e, com isso, estimular a entrada de importados e controlar o preço dos produtos nacionais.
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Iniciativas que ainda não sustentam ritmo elevado do PIB
Redução do IPI
Para tentar estimular o consumo, o governo zerou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de diversos produtos. Medida que já foi prorrogada várias vezes.
Juro
Desde outubro do ano passado a taxa básica está em 7,25%. Mesmo com a inflação aumentando, o governo tem segurado a Selic no menor patamar de sua história.
Gastos públicos
O governo federal elevou suas despesas, mas a maior parte ainda é destinada para custeio e não para o investimento, como as obras de infraestrutura.