Ao entrar no sexto mês de impacto direto da pandemia do coronavírus, a economia de Santa Catarina começa a dar sinais de que o pior já passou. Em um ano que provavelmente será de retração da economia brasileira – com uma queda histórica de 9,7% no PIB do segundo trimestre, divulgado na última terça-feira, dia 1º -, o caminho da recuperação catarinense parece ser um pouco menos tortuoso.

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Puxado principalmente pela indústria e pela construção civil, o Estado registrou dois meses seguidos de saldo positivo na geração de empregos, com 3,3 mil novas vagas abertas em junho e 10 mil em julho. Os dados de agosto do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) devem seguir o ritmo de crescimento e continuar amenizando os números negativos registrados entre março e maio.

– Estamos confirmando os prognósticos de que Santa Catarina seria um dos primeiros estados a se recuperar – afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado de SC (Fiesc), Mário Cezar de Aguiar.

Os indicadores econômicos endossam os números do Caged. A queda na atividade econômica catarinense foi brusca especialmente em março e abril, meses em que o Estado conviveu com suspensões em quase todas as atividades, e ainda permaneceu em maio, mas a partir de junho a retomada começou, mesmo que discretamente.

– Um dos últimos setores a se recuperar foi o têxtil, que é o que mais emprega em Santa Catarina, mas em julho ele já teve saldo positivo. O calçadista ainda não se recuperou, mas a maioria dos setores da indústria já está com vendas superiores ao pré-pandemia, como o agroalimentar e o setor de móveis e madeira – destaca Aguiar.

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No pior momento da crise, sem dúvidas o comércio e o setor de serviços foram os que mais sofreram. Lojas fechadas, turismo parado, bares e restaurantes vazios. Mesmo assim, estes setores também começaram a respirar e ver uma luz no fim do túnel. Conforme dados do IBGE compilados e analisados pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de SC (Fecomércio-SC), o comércio começou uma leve recuperação em maio e, em junho, já viu os primeiros saldos positivos no volume de vendas. Os serviços sofreram um golpe mais duro, com desempenho abaixo da média brasileira até maio, mas em junho o jogo também começou a virar.

Teve quem aumentou o faturamento

Supermercados, farmácias e lojas de móveis e eletrônicos sentiram um baque menor e até aumentaram o faturamento durante a pandemia. Do outro lado, quem vende equipamentos para escritório, papelaria e vestuário continua sofrendo. Sinais do home office e de pessoas com mais tempo dentro de casa, investindo nos seus lares.

– Um a cada quatro brasileiros que estavam trabalhando no setor de alojamentos (hotéis) e alimentação deixou de trabalhar nos últimos meses. Em Santa Catarina esse impacto foi menor, de 15% ao invés de 25%. O impacto no Brasil foi mais forte. Santa Catarina teve um choque antecipado, foi muito mais em março e abril, e em junho e julho a gente já viu os setores acelerando – avalia o economista da Fecomércio-SC, Leonardo Regis.

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Exportações em vantagem pelo câmbio

A alta no preço do dólar nos últimos meses ajudou a balança comercial de Santa Catarina no lado das exportações. Se alguns analistas já enxergam a chance do Brasil fechar 2020 com uma queda de aproximadamente 5% no PIB, em Santa Catarina há uma expectativa de variação zerada ou até levemente positiva – o que seria uma grande vitória no contexto do ano.

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– Temos tido um desempenho intenso na balança. O setor de móveis e madeiras registrou uma grande exportação, além do de frangos e suínos. Houve uma paralisação geral na economia do mundo inteiro, é lógico que a corrente do comércio diminua, mas a economia de Santa Catarina está se mostrando resiliente – avalia o presidente da Fiesc, Mário Cezar de Aguiar.

Além do mercado exterior, a economia catarinense está de olho também nos estados vizinhos para poder concretizar a retomada dos negócios. Conforme o presidente da Fiesc, há uma grande atenção em cima do retorno do fluxo comercial com o Sudeste, especialmente São Paulo:

– Para que SC continue crescendo e possa ter um PIB positivo esse ano, o que é difícil mas é possível, vai depender da recuperação de outros estados. A gente produz mais do que consome, dependemos muito do mercado interno. São Paulo, por exemplo, estava com a economia bem paralisada, agora está liberando.