Num exame de rotina a ginecologista disse que eu estava com câncer. Achei estranho porque não tinha nódulos, nem nenhum indício concreto. Eram microcalcificações. Foi um baque. Era 2007, eu estava com 42 anos, mudando de vida e de profissão. Fiquei confusa. Fui à mastologista acompanhada do meu irmão porque fiquei muito nervosa. Era dia 3 de julho. Dia do meu aniversário.

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Rezei para conseguir superar, mas estava me sentindo bem perdida. Naquela ocasião só precisei retirar um quadrante, ou seja, uma pequena parte do seio, que pouco interferiu na aparência. Esteticamente fiquei normal. Quando recebi a biópsia pós-cirúrgica com tudo ok, pulei de alegria e aquele dia passou a ser minha segunda data de aniversário. Três anos depois, novos exames de rotina, e de novo o problema. Tive que fazer a mastectomia.

É uma sensação de abismo total, mas encarei bem a decisão de ter que retirar o seio, a dificuldade foi decidir se colocaria a prótese ou não. Conversei com especialistas, familiares e amigos para esclarecer se eu deveria, e se queria mesmo usar uma prótese. Foi numa conversa com minha filha, então com 16 anos, que um argumento simples, estético, me fez aceitar a prótese. A cirurgia de retirada do seio e colocação da prótese foi feita no mesmo momento.

Tudo correu bem, mas algo abalou minha recuperação: tenho fibromialgia. Cerca de 10 dias após a cirurgia eu tentei o suicídio, tamanha era a dor que me acometia e sobre a qual nenhum medicamento fazia efeito. Mas aos poucos fui melhorando. Durante cinco anos tenho que fazer a hormonioterapia. O medicamento é forte, tive complicações, mas a vida segue.

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Nesses anos conheci profissionais competentes, dedicados, mas não é fácil usufruir dos direitos apregoados aos portadores de câncer, pois ainda há desrespeito às leis. No decorrer desses anos de luta, perdi muito, mas restou a dádiva de estar viva. Sem drama. É o que importa. Hoje me descobri na fotografia. Maravilha. A propósito, minha música: Titanium, de Davi Guetta.