Em entrevista ao caderno Anexo, Roberts se mostrou animado com a sua primeira visita ao país.

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Qual o conceito do Subtraction Cutting?

Julian Roberts – Considerando que a maior construção de vestuário acontece a partir do exterior, reduzindo pelos ângulos laterais e traseiros, a técnica Subtraction Cutting trabalha de dentro para fora, com uma abordagem 360 graus para criar suas formas. A peça que vestimos é antes de tudo um buraco, onde entramos e a vestimos. O designer, modelista ou costureiro deve apropriar do tecido e respeitar suas propriedades. É preciso se envolver com o trabalho de design criativo, usando suas mãos, braços e dedos como governantes e medidas, ter a mente aberta para descobertas ao acaso e permitindo que acidentes felizes aconteçam e evoluam.

Como você desenvolveu e chegou nesse processo?

Roberts – Eu comecei a experimentar a construção desse vestuário incomum quando eu era um jovem estudante, em 1992. Na época, eu estava muito inspirado pelos designers japoneses que apareciam em Paris. Comecei a desenvolver lentamente minhas próprias técnicas, primeiro como estudante e em seguida como designer, mostrando minhas coleções na Semana de Moda de Londres, e depois como professor, ao repassar essas técnicas. Há 15 anos eu venho ensinando Subtraction Cutting para alunos, professores e designers, e o processo de falar sobre isso centenas de vezes em 17 países tem mudado tudo lentamente para esse processo colaborativo que a técnica se tornou.

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Como as pessoas podem identificar esse conceito em alguma peça?

Roberts – Uma peça feita com a técnica do Subtraction Cutting é sempre fluída, com tecido fluído. Ondas e volumes, voltas e reviravoltas com formas assimétricas, estranhas e fora do comum. A técnica não se preocupa em ser apenas bonito: as vezes ela pode ser feia ou estranha, inteligente e complexa. Como as pessoas. É uma forma muito humana de fazer design, por que somos todos tão diferentes, vivos e dinâmicos, respirando e se movendo, tão incríveis em nossas formas, personalidades e mentes. A técnica abraça essa diversidade, sem focar apenas no objeto físico estático. Pessoas se movem e expressam sua personalidade, então roupas e acessórios devem se mover e mostrar sua personalidade também.

Quais são as mudanças que ocorrem em peças onde se aplica o Subtraction Cutting?

Roberts – A principal mudança ocorre quando você começa a aplicar (ou subtrair). É preciso começar a pensar em objetos projetados a partir de várias perspectivas. Estamos tão acostumados a olhar para moda do ponto de vista convencional, como ele é exibido em lojas e nas passarelas, mas há outras maneiras de explorar objetos projetados que são mais desafiadoras: olhar para moda do interior e exterior, acima e abaixo, e a partir de perspectivas conservadoras e revolucionárias. Ambas importantes, mas nunca estáticas.

É possível encontrar essa tendência em roupas brasileiras?

Roberts – O Brasil é um país enorme, com uma grande mix de influências culturais, tradicionais e contemporâneas, mas eu ainda não sou um expert em moda brasileira, então terei que descobrir! Já viajei pela América do Sul, mas é minha primeira visita ao Brasil, estou bem animado. Eu tenho interesse em assistir e aprender também, ver como Subtraction Cutting pode se conectar com tendências do design brasileiro. Além de eu levar a técnica para o Brasil, quero que os designers brasileiros façam o trabalho de transformar essa técnica em algo relevante para suas criações, para suas perspectivas individuais, não a minha.

Por que escolhesse vir para Pomerode em Santa Catarina?

Roberts – Tendo viajado pela América do Sul, sempre quis conhecer o Brasil, mas estou sempre muito ocupado como professor e designer, e só consigo ensinar a técnica em lugares onde o tempo e minha agenda permitem. Então fui convidado pelo Instituto Orbitato para ministrar os workshops em Pomerode, na sede do Instituto, e na Escola da Cidade, em São Paulo. Meu bom amigo e designer nômade como eu, Shingo Sato, já desenvolvia seu trabalho no Instituto e me recomendou a visita, então fiquei muito feliz em poder seguir seus passos e agora também ir compartilhar dos talentos locais brasileiros.

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Qual a recepção para a sua técnica e em que países você já esteve?

Roberts – Milhares de pessoas já aprenderam a Subtraction Cutting. Tenho um livro gratuito chamado Free Cutting, disponível online, e também já ministrei uma centena de workshops em universidades do Reino Unido e em mais de 17 países, pelos seis continentes. Já ensinei a técnica na Inglaterra, Escócia, País de Gales, Canadá, México, Austrália, EUA, Rússia, Nova Zelândia, Espanha, Portugal, Dinamarca, Suécia, China, Nigéria, Chile, Colômbia, Argentina e França. Quanto mais se viaja, maior o mundo se torna, descobrindo novas cidades e lugares que exigem essa exploração. É muito mais interessante sair do roteiro básico do mundo da moda, Paris, Milão, Tóquio, Nova York e Londres, e ir conhecer territórios mais singulares e que desafiam sua maneira de pensar com suas particularidades e tradições. Portanto, o Brasil é meu mais novo desafio, e, inegavelmente, irá mudar a técnica Subtraction Cutting e a mim mesmo, enquanto me movo lentamente pelo mundo.

O quê: Oficina Subtraction Cutting pelo designer inglês Julian Roberts

Quando: dias 9 e 10 de dezembro, das 10h às 12h30min e das 14h às 17h

Onde: Instituo Orbitato (Avenida 15 de Novembro, 426, Centro, Pomerode)

Inscrições: pelo site orbitato.com.br. São 40 vagas Valor: R$ 1.975 no depósito bancário ou 3x de R$ 696 no cartão de crédito

Informações: (47) 3395-0447