Igor Westphal tem 24 anos, está na 10ª fase do curso de Engenharia Mecânica da UFSC e diz: não sou racista. Pivô de uma revolta que se transformou em uma manifestação contra o racismo na Reitoria da universidade ontem pela manhã, o estudante diz que foi alvo de um grande mal entendido e que só queria estimular o debate.
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– Não compactuo com racismo, intolerância religiosa, violência ou atentados às liberdades civis, de associação e trabalho das pessoas – disse.
A foto de um homem negro, ajoelhado diante de uma mulher, também negra, oferecendo um cacho de bananas como se fosse um buquê de flores foi compartilhada por Igor no grupo da UFSC na rede social Facebook.

Postagem que motivou a manifestação da manhã desta quarta-feira
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Foto: Reprodução/Facebook
Grupos de defesa da comunidade afrodescendente do estado se manifestaram contra a publicação e chegaram a pedir a expulsão do aluno para a reitora da UFSC, Roselane Neckel.
Igor diz ter procurado os manifestantes para se explicar, mas não foi ouvido. A integrante da ONG Gestos e Movimento Negro Luciana Freitas diz que foi uma decisão coletiva.
– Ele pede para falar conosco, mas a gente entende que isto seria desnecessário. O coletivo achou que não tem que fica perguntando pra ele ou pedindo pra se retratar. Engraçado que ele posta a foto, sem qualquer comentário, e diz que queria estimular o debate. Deveria ter se posicionado melhor – diz ela.
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Abaixo, a entrevista feita por e-mail com Igor sobre o assunto:
Hora de Santa Catarina – O que motivou a publicação da foto no grupo da UFSC? Qual era tua intenção com a postagem?
Igor Westphal – Nunca foi para ofender qualquer pessoa, religião ou etnia. Não compactuo com racismo, intolerância religiosa, violência ou atentados às liberdades civis, de assossiação e trabalho das pessoas. Eu não criei aquela imagem. Essa imagem foi criada por um grupo de humor nigeriano, composto por pessoas negras e em um país de maioria negra e circula pelo mundo inteiro. O meu único intuito foi que as pessoas conversassem sobre aquele tema. Estimular o pluralismo de idéias. Pessoalmente, creio que a referida foto tem muito mais a ver com a chacota que o grupo de humor nigeriano quis fazer da situação de pobreza extrema fruto das tentativas de secessão por meio de guerras civis entre etnias diferentes e pelos séculos de exploração britânica, independência tardia e democracia instável.
Hora de Santa Catarina – Tua atitude foi o motivo principal da manifestação desta quarta-feira. Pediram, inclusive, tua expulsão da UFSC. Até que ponto esta repercussão te atingiu?
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Igor Westphal – Apesar de ter de parar todas minhas atividades diárias eu estava de consciência limpa, tranquilo e crente que isso tudo seria resolvido com uma conversa franca. Eu tentei contato com os organizadores dessa perseguição, ANTES E DEPOIS do ato, tentei contato com os criadores das páginas que estão me difamando para o Brasil inteiro sem sucesso, além de não vir até mim para esclarecer, evitam qualquer tipo de conversa. Infelizmente, se esforçaram tanto em me difamar que o discurso de ódio que estão proferindo chegou até a minha mãe e isso deixou ela em estado de choque. Ela está chorando a tarde inteira. Meus pais são idosos e doentes, vieram do interior, da roça, moram em cidade pequena e está sendo uma tortura para eles. A guerra deles é justíssima, mas eles pensaram nisso quando resolveram empregar a violência, o ódio e a difamação como meios para isso? Que tipo de exemplo de sociedade inclusiva eles querem dar?
Hora de Santa Catarina – Que tipo de providência tu tomaste depois do fato ser exposto nas redes sociais?
Igor Westphal – Em nenhum momento ninguém perguntou minha opinião sobre a foto. Você é vigiado e julgado a revelia em tribunais de exceção. Eu gostaria de citar Gustave Le Bon, pioneiro do estudo das massas e autor do clássico “The Crowd”: “É supérfulo comentar que a incapacidade das massas de raciocinar a frente de certos eventos e então mostrar espírito crítico, impede eles de serem capazes de discernir o certo do errado e formar um julgamento preciso sobre qualquer matéria. Julgamentos de multidões são julgamentos forçados, nunca adotados depois de discussão.”
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Hora de Santa Catarina – Se pudesse, o que diria para as pessoas que foram na UFSC pedir sua expulsão?
Igor Westphal – Vocês não representam a classe negra. Vocês representam vocês mesmos. A classe negra não precisa de representante, eles são pessoas com liberdade para serem diferentes uns dos outros. Amigos pessoais e desconhecidos negros vieram me defender em público e me oferecer um ombro amigo, principalmente quando isso começou a afetar a minha família. Vocês que estão invadindo o CTC e outros centros para incomodar os outros alunos e para tentar me encontrar e sabe-se lá fazer o que comigo, vocês representam vocês mesmos. Mesmo que vocês continuem nessa empreitada covarde o tempo que for, eu não vou deixar de ouvir Emicida, Rashid e Projota, não vou me afastar dos meus amigos negros e mestiços, nem vou deixar de me relacionar com alguma menina por ela ser negra ou mestiça como eu já fiz várias vezes. Eu não vou perder a confiança sobre a pessoa que eu sou nem um segundo. Ao usar o ódio, a ameaça e a violência, vocês deslegitimam tudo aquilo que foi conquistado em termos de “igualdade de fato” por outros grupos negros que não enxergam a vida como “nós” e “eles”. É uma covardia o que fizeram comigo.