É sempre inverno na memória. O olhar para trás, encontrar a família reunida ao redor do fogo da lareira, pinhões assando na chapa e a conversa lenta que eu, criança, ouvia com a sensação de que tudo ali seria eterno: as labaredas dos nós de pinho, minha avó falando de outros invernos mais distantes e sempre mais frios, meu pai lendo o jornal e minha mãe trocando o long play do Roberto Carlos pelo da Elis Regina. Mas não quero falar das coisas que aprendi nos discos. Quero falar dos invernos que aconteceram comigo.
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Aqui o inverno começa antes e acaba depois. Começa com o primeiro vento frio de abril que derruba as folhas secas e tece um tapete dourado sob nossos pés e acaba em meados de outubro, quando a primavera já floresceu há tempos no resto do Hemisfério Sul. Não precisamos do calendário. Quando a alma estiver mais quente, é porque começou o frio lá fora. É sempre inverno na memória e quase sempre na vida.
Para enfrentar o frio, buscam-se refúgios. Os cafés fortes e fumegantes, como o que se tomava no Café Ouro. O chimarrão bem cevado, como o que corria de mão em mão na saudosa livraria do seu João Rath. Dividir a sopa de agnolini que antecede o almoço. E é assim que se vive: quanto maior o frio, maior o calor humano. Somos um povo dependente de casacos, cachecóis, chapéus e abraços.
Tomar ponche de madrugada na Festa do Pinhão. Descascar bergamotas na arquibancada do Vidal Ramos enquanto se espera o Internacional entrar em campo com camisas vermelhas de mangas longas. A geada cobrindo os campos com um manto branco, imenso véu de noiva da mãe natureza. Retratos eternos de Lages.
Faz frio na minha cidade, diz a canção. Faz frio e vamos escrevendo a nossa história do nosso jeito. O vento que vem da Coxilha Rica nos fez fortes e solidários. Sabemos receber como poucos. Vem gente de todos os lugares para conhecer o nosso frio, e quando vão embora, vão como o coração aquecido e alma renovada. E quando quiserem voltar, estaremos aqui. Porque, para alguns, o frio é um passeio. Mas para nós, lageanos, é o caminho de volta para casa.
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Elizeu Mattos, prefeito
“Quem nela vive é gente trabalhadora, forte, guerreira e determinada, que tem orgulho desse chão. Lages é incrível porque quem vive aqui não tem medo de ser feliz.”
:: Saiba mais
? População: 156.604 habitantes
? Localização: Serra Catarinense, a 220 Km de Florianópolis
? Área: 2.629,79 quilômetros quadrados
? Emancipação: 22/11/1766
? Características: cidade tem a economia baseada na indústria, comércio, serviços, agricultura, pecuária e turismo
? Atrações: turismo rural, ecológico e de festas típicas, como a Festa do Pinhão
? Particularidades: Capital Nacional do Turismo Rural
? Curiosidades: Nereu Ramos, único catarinense a ter sido presidente do Brasil, nasceu no município
? Pontos turísticos: Catedral Diocesana, Morro da Cruz, Coxilha Rica (caminhos das tropas) e museus
:: Lages: celeiro político de Santa CatarinaLages: celeiro político de Santa Catarina
Por Pablo Gomes, repórter do Diário Catarinense (pablo.gomes@diario.com.br)
Chamam o lageano de “faca na bota”. Se querem dizer com isso que o lageano é guerreiro, trabalhador, inteligente e que procura modernizar cada vez mais uma das cidades mais antigas do Sul do Brasil, sintam-se à vontade para falar o que e quantas vezes quiserem.
Prestes a completar 247 anos de fundação e com um território de 2,6 mil quilômetros quadrados, disparado o maior entre todos os 295 municípios de Santa Catarina, Lages é um baú de histórias. Por mais marrento que seja, não existe indivíduo nascido ou criado em Lages que não tenha orgulho da sua terra.
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Pode procurar em qualquer lugar do Estado e não encontrará em nenhum tantos registros de nascimento de políticos importantes como em Lages. O atual governador, Raimundo Colombo, é o sexto lageano a chefiar o Executivo estadual. Felipe Schmidt, Vidal Ramos, Aristiliano Ramos, Nereu Ramos e Celso Ramos o precederam.
Os Ramos que, aliás, praticamente comandaram a política catarinense entre 1910, quando Vidal iniciou o seu mandato, e 1966, quando Celso encerrou o seu. E em mais de meio século, o auge da família foi atingido de 11 de novembro de 1955 a 31 de janeiro de 1956, quando Nereu assumiu nada menos que a presidência da República Federativa do Brasil.
Foi por pouco tempo. Só dois meses e meio. Mas o suficiente para colocar Santa Catarina com força no cenário político nacional. Até hoje, Nereu, nativo da bela e rica Coxilha dos campos lageanos, é o único catarinense a ter exercido tão importante função.
Lages tem rodovias estaduais e federais, ferrovia, aeroporto, bons hospitais, grandes universidades, indústrias, museus, tem a Catedral, a Festa Nacional do Pinhão, tem frio, tem fogão à lenha, tem araucária, tem a gralha azul e o leão baio, tem hotéis-fazenda luxuosos, tem gado e cavalo crioulo, tem laçadores, ginetes e dançadores de chula, tem rock’n roll, tem um time de futebol que se chama Internacional e conquista o amor até dos mais fanáticos gremistas, tem fábrica de cerveja, mulheres bonitas, tem gente “faca na bota”, tem tudo de bom.
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Só não tem praia. E é até bom que não tenha, porque assim, quando o lageano desce a Serra para curtir um justo e merecido descanso no Litoral, não demora muito e começa a sentir saudades de casa, constatando mais uma vez como é bom demais estar e viver em Lages.