Cabelo preso com maria-chiquinhas, jeito serelepe e muita energia para correr e brincar. Roberta vive com intensidade as mudanças e os progressos de uma criança de três anos. Mas quando vê a mãe, Raquel Silva da Silveira, não resiste. Sai correndo, se pendura na blusa dela e abocanha o seio. A menina adora mamar e parece não querer largar o hábito.

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Embora a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Organização Mundial de Saúde (OMS) indiquem o aleitamento materno por ao menos dois anos, a mamãe se sente angustiada por não conseguir fazer com que a filha desista do peito. Como estratégia, já utilizou o diálogo e até produtos como pimenta, esmalte, batom e vinagre. Só que a pequena insiste em dizer “que teta bem boa!”.

– Desde os oito meses introduzi a mamadeira. Roberta tem uma alimentação normal, mas come um pouco menos e chega a chorar para ter o peito. Às vezes, diz que não a amo mais porque não quero amamentar – conta Raquel.

Com o tempo, a dependência da mãe e da filha tem provocado consequências na vida de ambas. A vendedora conta que não consegue planejar viagens ou passeios em que fica mais tempo fora. A menina acorda a mãe à noite, e, às vezes, a morde ou a belisca.

– Não sei mais o que fazer – diz a mãe.

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Oferecer o leite materno é uma atitude de afeto e conforto. A estabilidade do ato é fundamental para o bem-estar do bebê, e o contato da criança com o seio da mãe é uma importante forma de comunicação, afirma a psicóloga Vera Hartmann. Só que, quando chega a hora de dizer “chega”, mais importante do que usar estratégias é saber reconhecer o momento certo. De acordo com a pediatra neonatologista Silvana Salgado Nader, mãe e filho precisam estar maduros para dar este passo.

– O processo deve ocorrer naturalmente, sem esforço. Isso faz com que não fique dolorido para os dois – explica Silvana.

Além disso, a dependência maior da mãe nesta relação pode trazer reflexos na desenvoltura das potencialidades do bebê, assim como trazer a insegurança.

– Um contexto de acontecimentos passados e presentes podem estar alimentando esta dificuldade. Ficar abraçada à criança impede movimentos, o que foi prazeroso pode tornar-se incômodo e neste espaço reduzido o bebê se encolhe – diz a psicóloga Ceres Simone Simon, conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Estado.

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Quando desmamar

::: A amamentação após os seis meses não pode substituir outros alimentos: deve ser conciliada com uma dieta apropriada.

::: Além disso, o peito não pode ser usado como chupeta, nos momentos em que a criança está irritada ou fazendo birra.

::: Se a mãe se vê presa às manhas e chantagens do filho, é aconselhável procurar ajuda de um especialista.

::: Existem inúmeros fatores que podem ocasionar dificuldades no desmame – a pressão do retorno à atividade laboral pode ser um deles e a necessidade de manutenção do vínculo pode ser o outro. A mulher precisa avaliar o momento em que vive e tentar encontrar soluções para resolver a questão.

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::: Colocar vinagre, pimenta, cremes, sal e outros produtos no seio não é a melhor solução para o desmame. A dica mais importante é saber avaliar o momento em que mãe e filho estão preparados para a separação.

::: É aconselhável conversar com a criança e diminuir as mamadas progressivamente.

::: Não deixe que o desmame ocorra repentinamente ou seja uma forma de chantagear a criança.

::: A criança precisa perceber que a mãe está segura e tem firmeza na decisão de desmamar.

::: Nunca xingue ou bata na criança devido ao fato de ela ainda sentir necessidade de mamar no peito.

Fonte: Fontes: Silvana Salgado Nader, pediatra neonatologista, Ceres Simone Simon, psicóloga, Vera Hartmann, psicóloga