Com 24 anos e reconhecida cinco vezes como a melhor jogadora de futsal feminino do mundo, a ala das Leoas da Serra, Amandinha, comemorou domingo o último título que faltava para o time com os pés no chão. Convicta da luta que trava pela modalidade dentro do Brasil e pela igualdade de gêneros, a Cearense que descobriu suas habilidades jogando bola descalço nas ruas de Fortaleza, afirmou que não vai deixar o futsal.
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Em entrevista à NSC e, no auge da sua carreira, a fã do Messi no futebol masculino e admiradora da Marta e da Cristiane, no futebol feminino, conta que se realiza na sua modalidade. Porém, sonha com a realização de um mundial FIFA de futsal feminino.
Confira a entrevista
Você acha que esse é o momento da ascensão das mulheres no esporte, a exemplo das Leoas no futsal e da Seleção no futebol?
É preciso ter cuidado com essa análise. Já vivemos momentos de euforia, de aparente crescimento das mulheres no esporte do país, como na primeira medalha olímpica do futebol feminino. Mas passadas as homenagens, não houve uma estruturação, uma política esportiva, nada. A verdade é que os resultados esportivos femininos no Brasil acontecem graças ao nosso esforço como atletas e de alguns poucos clubes, ou de pessoas isoladas. Estamos em um novo momento de visibilidade e é preciso trabalhar duro para que o crescimento seja real.
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Queremos saber de você, agora com mais esse título, quais são seus planos?
Meus planos são continuar lutando pela modalidade e pela igualdade de gêneros. Não pretendo sair do Brasil, nas Leoas eu tenho o que preciso para viver e para continuar buscando dias melhores para todas nós. Espero fazer parte da caminhada do futsal para se tornar olímpico, da realização de um mundial Fifa de futsal feminino e de mais calendário para os clubes.
O que muda na tua vida com esse título?
Posso dizer que aumentou a visibilidade, já é perceptível, e que fechei a lista dos títulos possíveis de serem conquistados. Mudar a vida, isso não. É preciso manter os pés no chão e a mente aberta. Há muito trabalho pela frente.
O que falta para termos outros times com a força das Leoas?
Temos grandes equipes no país. Talvez as Leoas estejam a frente na noção do esporte como espetáculo, como bandeira, como entretenimento. Temos uma equipe de mídia que gera fotos, vídeos e texto de tudo o que fazemos. Sempre estivemos prontas para o dia em que a mídia percebesse a nossa existência. Nossa diretoria não deixa faltar nada. E também acredito que nosso time se preocupa tanto em ser vencedor quanto com o crescimento da modalidade, e por isso encampou a realização dessa Copa Intercontinental e da Copa das Campeãs.
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Sabemos que você já recebeu outras propostas para o exterior, mas não aceitou? Por quê?
Já recebi, ainda recebo. Não vou porque minha missão é o crescimento do futsal feminino brasileiro. Se eu for, resolvo a minha situação individual. Mas vou abandonar quem está do meu lado? Eu respeito quem foi (para o exterior), elas levam o nome do Brasil lá fora. Mas minha luta é aqui.
A Amandinha pensa em ser a nova Marta? Sonha em fazer parte da Seleção?
Não penso. Sou a Amandinha mesmo. Admiro demais a Marta, a Cristiane, torci demais por elas nessa Copa. Mas minha modalidade é o futsal e minha seleção é a seleção brasileira de futsal feminino.
Já pensou em deixar o futsal por algum outro motivo?
Nunca pensei. Mesmo quando não via luz no fim do túnel. Lógico que existem outros caminhos atrativos, mas minha causa é essa aqui. Me sinto completa fazendo parte do futsal.
Já pensou em deixar o futsal para o campo?
— Pensar mesmo, a sério, nunca. Como eu amo várias modalidades, às vezes me imagino jogando campo, lá na ponta esquerda. Eu gosto muito de futebol, torço mesmo, sou fã do Messi e acompanho o meu Ceará. Mas nada além disso.
Como chegou ao Leoas? Quando descobriu esse dom?
— As Leoas me trouxeram no fim de 2016, quando foi encerrado o projeto de alto rendimento do time que eu estava, o Barateiro Futsal, de Brusque. Foi um momento muito, muito difícil, porque no Barateiro (time de futsal feminino de Brusque) eu me formei como pessoa, aprendi quase tudo o que eu sei. Não me imaginava jogando por outro time e sou grata a todas lá, principalmente à Dani, que é a presidente. Espero que o Barateiro volte a brilhar. Quanto ao dom, vem de Deus, né? Descobri jogando descalço na rua, mas sei que nasci com ele.
E como é ser a melhor do mundo de futsal?
— É ter uma responsabilidade imensa, sabendo que não cheguei aqui sozinha. De qualquer modo, aconteceu naturalmente. No futsal eu só queria poder jogar e ser vitoriosa, ser cada vez melhor, mas não necessariamente a melhor. Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje. Sigo jogando e sendo feliz, mas não pensando em continuar sendo a melhor do mundo. O que me move é ser todo dia uma pessoa melhor.
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