Crimes envolvendo racismo têm ganhado, aos poucos, mais atenção de forças policiais e judiciais nos últimos anos. Em Joinville, a Polícia Civil se aproxima do desfecho de um caso registrado em agosto de 2020, quando um professor da cidade foi vítima de injúrias raciais durante evento online. Um adolescente de 15 anos foi identificado e apreendido em Pernambuco suspeito de envolvimento.

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Mesmo assim, para o professor vítima das injúrias, Jonathan Prateat, o caminho ainda é longo.

– Acho que é preciso intensificar as investigações relacionadas a crimes virtuais. Esse foi um caso que ganhou repercussão, mas o racismo está no cotidiano. O racismo silencioso, que negam o direito, que negam o acesso. É o racismo estrutural, institucional, religioso, do dia a dia, das pequenas coisas e pequenas violências – detalha.

Durante o evento realizado no ano passado, estavam reunidos professores e estudantes universitários em seminário organizado pela Associação Empresarial de Joinville (Acij). Na ocasião, durante apresentação do professor, os hackers silenciaram o microfone dele e iniciaram uma série de xingamentos.

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Jonathan foi chamado de “macaco” e outras ofensas raciais, e, na sequência, os invasores exibiram vídeos pornográficos até a transmissão ser cortada.

Jonathan acompanhou todo o percurso das investigações e recebeu a informação de que o principal suspeito havia sido localizado em Pernambuco. Ele sustenta que esse tipo de investigação precisa ser intensificado, além da maior conscientização do coletivo e, sobretudo, da educação.

– A gente está em um período na história do nosso país em que o discurso de ódio está bastante inflamado, está sendo permitido. Cada vez mais a gente vê esses ataques acontecendo, principalmente na internet – pontua.

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Como exemplo, o professor salienta a importância das ações educacionais que promovam o respeito à diversidade em todos os seus âmbitos, a partir de políticas e punição daqueles que praticam esse tipo de crime como formas de chagar à diminuição e até futura extinção deste tipo de crime.

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– Eu vejo como um caminho um pouco lento para chegar ao ideal, mas vejo uma movimentação da sociedade dizendo que esse tipo de crime não é mais possível – comenta.

Necessidade de especialização em crimes raciais

Conforme o delegado que ainda investiga o caso, Rodrigo Bueno Gusso, a necessidade da polícia em se especializar em crimes raciais é tão saliente quanto a outros crimes, como homicídio, violência contra a mulher e tráfico de drogas, por exemplo.

–  Esse é o momento de darmos uma atenção maior a esse tipo de crime. Eu posso afirmar que ele é um crime diferente e, por isso, exige essa especialização. Da mesma forma como em outros momentos a polícia precisou se aprofundar em outros crimes – reforça.

Ainda conforme o delegado, não há como afirmar um aumento com relação ao número de crimes raciais. No entanto, mais pessoas têm se sentido mais confortáveis em denunciar.

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Investigações prosseguem

As investigações com relação ao caso prosseguem. O adolescente de 15 anos teve computadores e celulares apreendidos pela polícia, os quais, agora, devem passar por perícia.

Ele fazia parte diretamente de um grupo criminoso com atuação por diversas regiões do Brasil. O grupo disseminava conteúdo nazista e racista, além de promover os ataques a reuniões virtuais

Conforme o delegado, o adolescente vai responder, a princípio, pelo ato infracional de injúria racial.

– Nada impede que outros atos sejam a ele imputados, e nem que outras pessoas sejam responsabilidades por esse ato, a partir do que vai dizer a perícia – explica.

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