Blumenau recebeu nesta quarta-feira o mestre em direito esportivo internacional Dev Kumar Parmar, um dos homens fortes da Premier League e da Indian Super League, para uma palestra que, em nível local, ajuda a nortear a gestão do esporte. Com voz tranquila e sotaque tipicamente britânico, Parmar concedeu entrevista ao Santa e falou sobre o lado bom e o ruim do futebol brasileiro e aquilo que pode – e deve – ser melhorado. Confira:
Continua depois da publicidade
O que de concreto é possível trazer do futebol inglês e indiano, onde o senhor tem forte atuação, para o Vale do Itajaí?
Já existem muitas coisas boas por aqui, uma delas é o fato dos clubes trabalharem com atletas muito novos, como por exemplo a existência de jovens jogadores com idade abaixo de sete anos já começando a prática do futebol. Não é algo comum na Inglaterra, por exemplo, onde os atletas começar a atuar nos clubes em categorias de base apenas a partir dos 13 anos. O que poderia ser trazido para cá é a estrutura e o envolvimento que pequenas localidades têm com atividades esportivas, o que traz afinidade entre a equipe e o próprio lugar de onde ela vem. Já a Índia é algo oposto. Começou-se de cima para baixo. Primeiro se desenvolveu a liga para depois pensar na base, então não é um exemplo que se aplique por aqui.
Os Jogos Olímpicos podem trazer algum impacto pensando no desenvolvimento especificamente do futebol no que diz respeito à gestão?
Continua depois da publicidade
Francamente, eu não acho que a Olimpíada vai trazer alguma mudança de patamar da gestão. O que pode pressionar os dirigentes esportivos do Brasil é o fato do país estar em uma exposição mundial, mostrando que é preciso entregar o produto que o público realmente queira ver. Isso vale regionalmente falando também, no caso de pequenos clubes.
Pedro Nascimento, presidente do Metropolitano (de vermelho, à direita) acompanha a palestra. (Patrick Rodrigues)
O Brasil realmente é o país do futebol?
Na Inglaterra, nós temos a visão de que somos os criadores do futebol e deveríamos ser os melhores do planeta. Mas não somos. Existe um grande time no mundo, e esse time é o Brasil. Lá, se alguém vê algum jovem garoto jogando bem, dizem “olha lá, ele está jogando igual brasileiro”. Claro que o futebol por aqui caiu nos últimos anos, mas não deixa de estar sempre entre os melhores do mundo. O que precisa ser feito é sempre estar aberto às novas ideias, seja do futebol alemão, espanhol, ou qualquer outro.
Continua depois da publicidade
A criação de uma liga de futebol é uma boa ideia no Brasil em um momento em que tanto se fala em corrupção?
Vinte e dois anos atrás, na Inglaterra, quando a Premier League foi criada, a situação era bem semelhante ao que o Brasil vive. Mas não tenho certeza se essa fórmula hoje seria adequada para cá, porque os clubes têm o formato de associações sem fins lucrativos e precisariam atuar em uma forma ostensivamente comercial. Para isso acontecer, portanto, uma mudança mais drástica seria necessária.