Santa Catarina registrou desmatamento em pelo menos dez cidades entre os anos de 2018 e 2019, conforme o Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Para o diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Montovani, é possível melhorar esse cenário. Ele afirma que diferentes experiências no Estado mostram que é possível conciliar a preservação do meio ambiente, o desenvolvimento econômico e a agricultura. Confira a entrevista:

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Santa Catarina sempre teve importância no tema Mata Atlântica. Este protagonismo permanece?

Santa Catarina sempre teve importância e é protagonista, seja para o bem ou para o mal. Todo o território do Estado tem um potencial de água extraordinário, uma biodiversidade incrível, uma fertilidade do solo inigualável. Por causa disso o Estado é um grande produtor em tudo o que faz. De outro lado, sem entender a agricultura moderna, a bancada ruralista sempre induziu os proprietários rurais a se posicionarem contra a legislação como se fossem prejudicados. Temos várias experiências no Estado que mostram ser possível a harmonização entre meio ambiente, desenvolvimento e agricultura.

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mario montavani
Mario Montavani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica (Foto: SOS Mata Atlântica / Divulgaçao)

Qual a situação hoje?

Em muitas regiões do território catarinense já se trabalha com o bem-estar animal nas modalidades de cooperativas, verticalização da cadeia produtiva do frango, avanços na produção de suínos. Mas se percebe também absurdos, principalmente, em lugares em que o crime ambiental é favorecido pela aproximação de alguns dos pequenos produtores para que as últimas araucárias de suas propriedades sejam desmatadas.

Mas não há fiscalização? O Estado não está atuando?

O Estado tem tomado atitudes em relação a preservação e muitos municípios têm suas estruturas ambientais trabalhando para fazer a adequação das propriedades. Mas o ponto mais positivo continuará sendo o despertar da consciência ecológica do agricultor catarinense. O Atlas aponta para isso: quem quer proteger o clima, o solo e a mata, precisa ter um olhar para o meio ambiente.

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Temos 10 municípios entre os 100 que mais desmatam. Qual o impacto disso?

A lei da Mata Atlântica produz o uso e a proteção dessa floresta. Está muito bem regulamentada em Santa Catarina. Quando a gente ver alguém desmatando fora da condição de utilidade pública e do interesse social se presencia um crime, e o Ministério Público tem sido um grande parceiro e tem agido e continuará agindo. Devemos esclarecer que estamos falando de um estado onde a lei aplica-se a apenas de 20% a 22% do território, ou seja, temos 80% de terras livres para atividades.

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O que dizer para tantas famílias que precisam viver da agricultura?

Santa Catarina pode fazer uma atividade agrícola sem incorrer no crime. O agricultor pode ter incentivo, e um valor agregado, e é isso que a gente propõe: a gestão florestal na área dos municípios. Não há conflito entre agricultura e questão ambiental. Temos muitas experiências nascidas de parcerias que provam isso.

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