Quando chegou ao Avaí em agosto de 2016, Claudinei Oliveira não tinha ideia de que iria construir, em tão pouco tempo, uma trajetória de sucesso no clube. Os últimos seis meses foram de alegrias e sorrisos largos, com o acesso à Série A, o vice-campeonato na Série B, e agora, mais recentemente, o título do turno do Campeonato Catarinense. Os números falam por si e a campanha do comandante no Leão é incontestável: em 29 partidas, 19 vitórias, oito empates e apenas duas derrotas.
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Humilde e avesso à badalações, Claudinei Oliveira prefere aproveitar o tempo livre com a esposa e os filhos. Em entrevista ao DC, o técnico falou sobre o atual momento na carreira, química com o Avaí, torcida e reforços.
O que representa a conquista do turno do Catarinense?
Para minha carreira é mais um negócio marcante, apesar de ser um título de turno, mas teve entrega de taça, simbolicamente é importante, de ficar marcado na história do clube, isso é bem bacana. Estou muito satisfeito, não só pelo acesso, que já foi uma coisa maravilhosa, mas também por começar o ano com mais essa conquista, que já nos garante, pelo menos, o vice-campeonato estadual, e agora vamos brigar por algo mais.
É o melhor momento da sua carreira?
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A repercussão do trabalho no Santos (2009 a 2013) foi grande, até pela mídia que tem lá em São Paulo, mas acho que é o melhor momento da minha carreira, sim, com certeza. A gente conseguiu o acesso, deu continuidade no trabalho e tem um percentual de aproveitamento muito alto também.
Você chegou ao Avaí na fogueira, substituindo o Silas, muito identificado com o Leão. Conseguia prever uma química tão boa com o clube, jogadores e torcida?
Não tinha. Até porque do elenco do Avaí eu só tinha trabalhado com o Luiz Gustavo, que foi contratado um pouquinho antes de mim. Os outros jogadores eu não tinha trabalhado com nenhum deles. Vim sozinho, não trouxe ninguém da comissão técnica, então eu não conhecia as pessoas. Esperava fazer um bom trabalho, melhorar o time, mas não esperava que ia acontecer tão bem. Se eu te dissesse que eu tinha certeza que o time ia subir eu iria estar mentindo. Pensava em fazer um bom trabalho, fazer o time ganhar várias posições, não correr risco de rebaixamento, que era uma preocupação na época, mas encaixou, as coisas foram caminhando bem, fui muito bem recebido por todos no Avaí, comissão técnica, atletas, diretoria e torcida. Conseguimos fazer um trabalho legal que culminou no acesso. Mas, sinceramente, minha expectativa não era tão alta assim não.
O grupo assimilou muito rápido sua filosofia de trabalho, mas ter mantido a base em 2017 foi mesmo o diferencial para essa campanha no turno?
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A manutenção da base foi o segredo desse bom início de ano, sim, porque na pré-temporada os times tiveram o mesmo tempo para trabalhar, Terminamos o ano bem, em alta, e conseguimos manter a maioria dos atletas. A Chapecoense precisou reconstruir o time em virtude da tragédia, o Criciúma está mais próximo de nós em relação à manutenção de base, mas teve a troca de treinador, que demora um tempo para assimilar o trabalho. Trouxemos jogadores com características que nos interessavam, se adequando a nossa forma de jogar, acho que encaixou bem nesse início de ano por isso. Mas a gente tem que continuar, manter essa crescente e não podemos deixar a peteca cair.
Nos seus discursos e entrevistas, você sempre fala com humildade, pedindo pés no chão, dizendo que a conquista vem jogo a jogo, sempre cuidando para o sucesso não subir à cabeça. Este é o estilo do Claudinei?
É meu jeito, sim, até porque a vida, a carreira de treinador no Brasil é feita de resultados, a realidade é essa. Quando você não tem o resultado, tudo o que você faz passa a estar errado. Então a gente não pode se iludir quando as coisas estão indo bem, que está dando tudo certo, e achar que é o melhor treinador do mundo. Também não pode achar que na derrota é o pior. Você tem que ter um equilíbrio. E como no Avaí, graças a Deus, as coisas têm sido muito mais positivas do que negativas, a gente sempre tem que puxar “um pouco mais para baixo”. O treinador é o espelho do atleta. Se o atleta começa a ver o treinador dar entrevista achando que o time é o melhor do mundo, que vai ganhar com o pé nas costas, que já estamos com a mão na taça, e não passar para o jogador a necessidade de estar melhorando a cada dia, o jogador vai assumir isso para si como uma verdade, não vai se dedicar tanto quanto deve se dedicar, então eu tenho essa preocupação. Não é uma falsa humildade, porque eu já passei por coisas no futebol que me mostram que você pode estar no céu e ir para o inferno em pouco tempo, então a gente tem que estar sempre vigiando para não ser surpreendido.
Como é o Claudinei fora de campo?
Quando eu não estou em treinamentos, jogos, no futebol, eu estou sempre com a minha família, que está agora comigo em Florianópolis. Sempre faço alguma programação com eles, com meus filhos, principalmente com o meu filho mais novo que tem seis anos, e também com minha esposa. Sou bastante caseiro.
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O que você pode projetar para o segundo turno? E reforços?
A gente talvez traga mais um ou dois atletas em função de algumas lesões que a gente teve, para termos peças de reposição. E não deixar para contratar muito em cima da hora. E com relação ao que eu prometo, é o que eu prometi desde o primeiro dia que eu cheguei. Torcedor pode ir para o campo e esperar uma equipe bem organizada, que vai brigar por todas as bolas, por cada palmo do gramado, seja na Ressacada ou fora, além de competir o tempo todo. Resultado eu nunca prometi porque depende de outros fatores, às vezes o jogo é decidido numa falha individual, ou num erro de arbitragem, num mérito de um adversário, enfim, então não dá para prometer resultado, mas que a equipe vai brigar até o fim, o tempo todo, isso acho que é a cara do Avaí, é o que a torcida gosta de ver, isso eles podem esperar com certeza.
Numa entrevista sua você disse que não se sentia à vontade para convocar o torcedor do Avaí para um jogo ou para algum fato em especial. E agora, seis meses depois, isso continua?
Agradecer o torcedor eu tenho que agradecer sempre. Quando terminou o jogo contra o Luverdense, a gente empatou, mas o torcedor viu que a gente lutou até o final e aplaudiu a equipe. Lógico que com a desclassificação (da Copa do Brasil) veio a tristeza, mas o torcedor entendeu que a equipe se doou o máximo e fez um bom jogo. A torcida do Avaí, desde que eu estou aqui, sempre teve um entendimento e uma compreensão muito grande com a equipe. Então, para agradecer, eu me sinto muito à vontade, mas convocar o torcedor, quando eu cheguei aqui eu não me sentia nesse direito, hoje talvez até pudesse fazer esse tipo de convocação, mas acho que ainda tem gente na minha frente para fazer isso. Pessoas com mais história no clube com mais apelo. Se a gente for olhar para o elenco do Avaí, para o próprio presidente, acho que são pessoas mais indicadas para fazer esse tipo de convocação do que eu. Estou construindo minha história no clube, são só seis meses. Mas espero que essa história ainda seja bem longa e bem vitoriosa.