Os efeitos econômicos da propagação da dengue já custaram US$ 1 bilhão ao Brasil entre 2007 e 2014. A informação é de Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, diretor do International Growth Center e um dos palestrantes na Expogestão 2016, que ocorre na Expoville, em maio.

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Em entrevista ao “AN”, Frischtak identifica colapso das expectativas, aponta a questão fiscal como a mãe de todos os problemas e faz uma comparação polêmica, ao afirmar que o Brasil está parecido com a Grécia. Lá, foram feitas reformas profundas; aqui, há a necessidade de fazê-las. Confira:

A Notícia – Como a consultoria que o senhor lidera analisa a situação econômica brasileira?

Claudio Frischtak – É verdade que vivemos uma situação de muita complexidade, talvez inigualável. Há um componente importante nisso: é o da enorme incerteza para todos os agentes, tanto para investidores, quanto para consumidores. A incerteza não é mensurável. Hoje, é muito difícil tomar decisão. Na dúvida, você aguarda. Não compra bens duráveis, como apartamento, carro, até mesmo televisão nova. É o maior grau de incertezas das últimas décadas.

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AN – As expectativas são muito negativas?

Frischtak – Sim. Associado a isso, há o colapso das expectativas nos últimos 18 meses. O colapso se deu com a reeleição da presidente Dilma, em 2014.

AN – A recuperação virá?

Frischtak – O ano de 2016 está perdido. Só não está completamente perdido porque o mercado externo está favorável. O câmbio é suficientemente competitivo e incentiva as empresas a exportar. Por isso, há espaço para crescer. O setor externo se move. Principalmente pela recessão no mercado interno.

AN – A inflação ainda é um fator que incomoda?

Frischtak – Nas últimas semanas, a inflação tem tido melhor desempenho, recuando. Dependendo do comportamento da inflação, a taxa de juros – hoje em 14,25% ao ano, poderá cair ainda em 2016. Como sabemos, a inflação é concentradora de renda. E empobrece as pessoas. O ano de 2016 é perdido porque o PIB deverá cair 4%. É a projeção da média do mercado financeiro, como apontou o último Relatório Focus, do Banco Central.

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AN – E para 2017?

Frischtak – Para 2017, a crise e a instabilidade prejudicam quaisquer previsões.

AN – A crise política vai se solucionar com impeachment de Dilma?

Frischtak – Podemos não ter impeachment. Essa possibilidade, de não haver impeachment da presidente, se acontecer, poderá acirrar a disputa política.

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AN – Temer terá condições de conduzir o Brasil para além do jogo de interesses?

Frischtak – Se houver o impeachment da presidente Dilma, o governo Temer vai durar, ou não, dependendo de processo no Tribunal Superior Eleitoral. Ainda estão por vir delações de Marcelo Odebrecht e de outros.

AN – Há também a questão fiscal, certo?

Frischtak – Este é o segundo fator para o ano de 2016 ser um ano perdido. Não há mais regime fiscal. O déficit nominal é de mais de 10%. O fator fiscal é a mãe de todos os problemas. Na era inflacionária, as receitas públicas cresciam diariamente, e as despesas eram mensais. Agora não. As receitas caíram muito como efeito da recessão.

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AN – Na sua opinião, o Brasil se parece com a Argentina de alguns anos atrás?

Frischtak – Não, nem com a Venezuela. A combinação de fatores – tanto econômicos, quanto de natureza política – aproximam o Brasil da Grécia. Lembro que a Grécia foi obrigada a fazer ajustes duríssimos. O Brasil ainda terá de promovê-los.

AN – Onde há oportunidades de bons negócios? O Brasil ficou barato para investidores estrangeiros?

Frischtak – Sim, os ativos ficaram mais baratos com a desvalorização do real. Essa é uma razão. A segunda é porque muitas empresas se endividaram em dólar. E procuram saída com a venda de ativos e/ou da própria empresa. Os estrangeiros estão conseguindo desconto de 25% no preço. Quer dizer, há empresas nacionais valendo 75% do que valiam em situação normal. Tem mercado para o comprador.

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AN – Então, setorialmente, onde estão as oportunidades?

Frischtak – Estão no agronegócio. Mas, mesmo lá, há restrições legais a compras de terras pelos estrangeiros. E no mercado doméstico é atraente. Como os fornecedores de bens e serviços em áreas competitivas. Ainda há oportunidades potenciais nas áreas de óleo e gás, mas existem obstáculos regulatórios grandes. Veja o paradoxo: o PT, que tanto defendeu as estatais, desencadeou a situação que temos na Petrobras e prejuízos sérios na Eletrobras.

AN – Para o senhor, o atual governo acabou?

Frischtak – Esse governo não tem mais jeito. Se sobreviver ao impeachment, vai se arrastar até 2018. Se não sobreviver, há necessidade de um grande acordo com o Congresso, com o Judiciário e com a sociedade.

AN – Virão mais sacrifícios?

Frischtak – Sacrifícios deverão ser feitos por todos. Será necessárias a reanálise e a revisão dos custos dos incentivos fiscais, os benefícios setoriais, os subsídios. O governo não pode distribuir benesses.

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AN – Num novo governo, a área econômica terá de ter um nome experiente. Quem?

Frischtak – Temos massa crítica qualificada. Não faltam pessoas íntegras. Esse não é o problema. Se o governo quiser montar uma equipe em uma semana, ele monta.

AN – O que é importante?

Frischtak – O importante é recuperar a credibilidade do Banco Central. As agências reguladoras são entes do Estado. Não devem ser usadas politicamente pelo governo. Têm de ser independentes. São organismos fiscalizadores.

AN – Infraestrutura e educação são gargalos conhecidos à competitividade?

Frischtak – A qualidade da infraestrutura e da educação é problema, sim. Na educação, é preciso melhorar a qualidade dos gastos. Na infraestrutura, há muito por fazer. Também precisamos melhorar a saúde. E o saneamento. Subestimamos os efeitos da dengue sobre a vida coletiva. Um dado impressionante: a dengue consumiu US$ 1 bilhão entre 2007 e 2014. A conta inclui as perdas econômicas, como improdutividade e faltas ao trabalho, e os custos dos tratamentos médicos.

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