Conhecido pela atuação em defesa dos direitos humanos e pelo combate às milícias no Rio de Janeiro, Marcelo Freixo (PSOL) se reelegeu deputado estadual com a maior votação do Brasil para o cargo. Ele afirma estar “legitimado” para concorrer novamente à prefeitura do Rio em 2016, contando com o crescimento de seu partido na política carioca. Nesta entrevista, ele fala sobre a “onda conservadora” do país, explica os motivos que o levaram a declarar voto em Dilma Rousseff (PT) e nega que o PSOL seja ligado a atos violentos ou manifestações de ódio de classe.
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Leia entrevista com Jair Bolsonaro (PP), candidato a deputado federal mais votado no Rio
Por que foi o mais votado?
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Ser o mais votado do Brasil sem nenhuma placa, com pouquíssimo tempo de TV, só com rede social e militância espontânea, é impressionante. Fui um dos mais votados em áreas de milícias. Por razões óbvias, não coloquei o pé lá. De 29 bairros dominados por milícias, fiquei entre os três mais votados em 17. Isso se dá por conta de um trabalho do mandato, com o enfrentamento das milícias. Tive mais votos do que boa parte dos candidatos apoiados por esses grupos. É uma resistência da população a esse tipo de ação criminosa na eleição.
Quais são os seus planos para o futuro político?
É natural que meu nome seja colocado para a disputa da prefeitura do Rio. O mais importante ao longo de 2015 é montar um projeto de cidade. O Rio vai receber a Olimpíada em 2016. A cidade terá transformações e contradições.
Candidatos de pauta conservadora cresceram nesta eleição. Por quê?
Vivemos uma insatisfação institucional muito forte, que se expressou nas manifestações de junho de 2013. Ali, tivemos um sentimento de não pertencimento, de não representatividade e um questionamento às instituições. As pessoas não sabiam o que queriam, mas sabiam o que não queriam. Essa crise se transforma em algo institucional, com o crescimento dos votos nulo e branco e, por outro lado, com o aumento do voto conservador. Isso se transforma em uma onda conservadora fundamentalmente contra o PT. E a nossa eleição é um contraponto.
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Ao mesmo tempo em que o senhor foi o mais votado para deputado estadual, Jair Bolsonaro foi o mais votado para deputado federal no Rio. Como avalia essa dicotomia?
Ele defende a tortura, a ditadura militar, dá declarações homofóbicas e racistas. Se a nossa lei fosse para valer, não seria deputado, estaria preso. Isso tem muito a ver com o Rio, onde ele consegue canalizar a onda conservadora, o que em São Paulo se espalha um pouco. É uma conjuntura grave, acho muito perigosa para a democracia. Não pelo fato de ele ser conservador, mas pelas bandeiras centrais que defende.
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O senhor abriu o voto em Dilma no segundo turno, mas o próprio PSOL diz que PT e PSDB são muito parecidos. O PSOL ainda é uma ramificação do pensamento do PT?
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Se fosse para ser uma corrente do PT, o melhor seria ficar no PT. Só que agora há uma polarização. A onda conservadora se expressa na candidatura do Aécio. Mantenho as minhas críticas ao PT e vou fazer oposição de esquerda. Mas o que está ruim pode piorar. A vitória do Aécio representa, sim, no meu entendimento, um retrocesso.
As manifestações de junho de 2013 começaram com cunho esquerdista, mas depois também foram tomadas por grupos mais conservadores. Os protestos influenciaram as eleições legislativas?
Não acho que começaram pela esquerda. Como a esquerda tem participação mais efetiva na política, então sai antes às ruas. O que criou as manifestações foi uma crise urbana e de representatividade. Isso explodiu no debate da mobilidade e se transformou numa crítica à democracia representativa. Ao negar as instituições, foi gerada também uma onda conservadora fruto dos movimentos de junho.
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Há indicativos de uma radicalização crescente à direita e à esquerda no Brasil. Posições do PSOL estimulam ódio e violência?
Isso é sempre perigoso e, agora, uma coisa crescente. Quando você tem um candidato à Presidência que, em debate na TV, defende que as minorias tenham de ser esmagadas, é grave. Não pode ser visto como folclore ou subnível eleitoral. Tem consequência na onda de criminalidade, na violência e no preconceito. Não vejo isso de que o PSOL faça discurso de ódio. Admitir que existe luta de classes não é discurso de ódio. É análise e posicionamento.
Como responde às críticas de que o senhor e o seu partido são alinhados a atos para sabotar instituições ao mesmo tempo em que tentam ingressar nessas instituições?
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Qual foi o momento em que alguém do PSOL estimulou ação violenta? Nunca. Quando um veículo de comunicação do Rio me acusou de ter vínculos, sem nenhuma prova, acabou derrotado no debate público pelas redes sociais. E a minha vitória com 350 mil votos é uma enorme resposta.
Quem é
> 47 anos
> Nascido em Niterói (RJ), tem formação em História (UFF) e é professor de Ensino Médio
> Em 2006, foi eleito deputado estadual no Rio pelo PSOL. Reelegeu-se ao cargo em 2010
> No filme Tropa de Elite 2 (2010), serviu de inspiração para o personagem do deputado Diogo Fraga (Irandhir Santos)
> Em 2012, foi candidato a prefeito do Rio, tendo como vice o músico Marcelo Yuka, ex-integrante da banda O Rappa. Ficou em segundo lugar, com 28,15% dos votos
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> Ficou em primeiro lugar na eleição para deputado estadual do Rio com 350.408 votos