Responsável por pesquisas na UFSC que tornaram o laboratório de farmacologia da instituição uma referência no Brasil, com participação fundamental na pesquisa que em 2005 fez chegar ao mercado o primeiro anti-inflamatório 100% brasileiro e feito com base de plantas nativas do país, o cientista e doutor em farmacologia João Batista Calixto é um dos nomes de destaque da ciência e inovação em Santa Catarina.

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Atual diretor do Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), ele foi premiado nacionalmente no mês passado por ciência e inovação graças ao “conjunto da obra” de décadas dedicadas à pesquisa.

— Em 1976 eu entrei na UFSC, eu era um jovem que vinha de São Paulo, que tinha terminado o mestrado e peguei o primeiro emprego. A universidade estava expandindo na época e começamos a criar um grupo de pesquisa para medicamentos e farmacologia na UFSC, e isso foi crescendo até que transformamos esse grupo num dos melhores do Brasil, com nota 7 da Capes. Isso ajudou muito e deu muita visibilidade. Florianópolis estava fora do mapa, nem descia avião na época — lembra Calixto.

Com mais de 20 patentes em seu nome e participação em descobertas que renderam medicamentos fitoterápicos que estão no mercado até hoje, além de um cosmético criado em 2008 que trouxe pela primeira vez na história royalties para a UFSC, o professor é crítico em relação à política de cortes nas bolsas de pesquisa atualmente no Brasil:

— Eu sou bolsista do CNPq desde 1972 até hoje. Eu nasci e me criei dentro do CNPq como cientista. Eu tinha 19 anos, até hoje, tudo eu consegui com o CNPq. Quando eu recebi o prêmio mês passado eu falei que realmente é quase impossível acreditar que um órgão com essa capacidade, além de ter formado vários ministros que estão aí hoje, de repente ter que viver com esses cortes. É uma mistura do muito com pouco. Quatro anos atrás tinha o Ciência Sem Fronteiras que bastava você passar na porta de uma universidade e você ganhava uma bolsa para ir para o exterior. Hoje nós passamos para o oposto, não há meio termo. Eu tenho certeza que se a comunidade fosse consultada e ela tivesse oportunidade, ela iria ajudar a cortar eventuais gorduras, problemas, avaliar melhor, e teríamos chance de ter um quadro com a ciência sendo apoiada dentro do tamanho da ciência que o Brasil pode suportar — explicou.

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Com várias de suas descobertas feitas com financiamento por empresas, o professor Calixto defende a conversa entre universidades e o setor privado — algo que está em pauta atualmente na polêmica do projeto "Future-se" —, mas ressalta que o apoio do governo federal é essencial para pesquisas como as que ele participou e outras em andamento atualmente, como um projeto de novo antidepressivo com compostos naturais que ele explica que está em fase de testes clínicos em SC.

— Tudo isso só foi possível porque teve financiamento do governo. É muita bobagem do governo cortar aquilo que é o futuro. se você vai depender de minério de ferro, nióbio, isso tudo é uma bobagem.A ciência brasileira é grande, naturalmente tem correções de rumo a tomar, você precisa avaliar, mas cortar da maneira que cortou não. Na área de medicamentos nós somos quase 100% dependentes de outros países. Toda a matéria prima do genérico é feita na Índia, na China, nos EUA. E agora o dólar sobe e reflete aqui no preço do genérico. Ao invés de avaliar o sistema, tirar gordura, partimos do princípio de cortar tudo. É como se você pega um time de futebol que não tá bem e manda todo mundo embora. Eu sou otimista, algo de bom vai sair disso. Os governos passam, a democracia é isso. E as crises nos deixam mais fortes, mais humildes, mais pé no chão. Na crise aparece o salário exacerbado, aparece o gasto desnecessário. Tira as pessoas da zona de conforto — afirmou.

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