Depois de usar o Facebook para relatar o abuso sexual que sofreu dentro de um ônibus em Curitiba na terça-feira da semana passada, a universitária Graziela Oliveira, 22 anos, vem sendo criticada nas redes sociais e a veracidade do caso, questionada. Para alguns internautas, o esperma que aparece na foto que a jovem postou junto ao relato não é prova da agressão e teria sido implantado por ela mesma.

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“Pilantra”, “fanfic de esquerda” e “vigarista” foram palavras usadas por quem duvida que a agressão seja verdadeira. Por sua vez, o sêmen da saia foi entendido como iogurte ou leite condensado.

As manifestações de ódio foram parar no perfil de Graziela no Facebook, onde também recebeu mensagens de meninas confessando falta de coragem para denunciar casos de abuso sexual. Para dar conta de todas as mais de 2 mil mensagens, Graziela pediu ajuda das amigas, que deletam instantaneamente as de ódio. Elas não querem que Grazi, já abatida pela agressão, leia o conteúdo.

— Estão me criticando por muitas coisas. Acham que é mentira. Ser taxada de mentirosa é um jeito de silenciar a gente — disse a jovem em entrevista por telefone ao Diário Gaúcho.

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Conforme o relato da estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por volta das 18h da terça-feira ela havia saído de uma consulta médica e entrado em um ônibus da linha Centenário/ Campo Comprido, em Curitiba. O destino era sua casa. Ao se posicionar em pé no lado direito do ônibus, um homem se aproximou e encostou o corpo próximo ao dela. O ônibus estava lotado e Graziela segurava a bolsa em frente à barriga. Colado nela, o homem passou a se esfregar e a gemer. Graziela dava cutucões no agressor, que prosseguia com o abuso. Quando desistiu da viagem e decidiu descer do ônibus, xingou o homem.

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— Quando fui descer, falei que ele era um velho nojento, que tinha que se envergonhar daquilo — descreve.

Segundo conta, foi quando desembarcou uma parada antes da que costuma descer que viu a saia suja de esperma no lado direito. Atônita, começou a chorar. Rapidamente, pegou o ônibus da mesma linha, que circula pelas paradas a cada cinco minutos, informação confirmada pelo URBS, o serviço de transporte coletivo da prefeitura de Curitiba. Levou cerca de cinco minutos para chegar em casa.

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Ao usar o Facebook para dividir a situação de agressão, escreveu um texto detalhado e postou a foto da saia com o esperma. Após a postagem se tornar viral e atingir quase 34 mil compartilhamentos, recebeu um alerta do Facebook de que o conteúdo era impróprio e seria retirado.

Ciente pelas amigas de que internautas passaram a duvidar do caso, Grazi se diz tranquila pois sabe que o que sofreu é verdade.

— Teve gente que falou que minha saia estava passada demais para quem sentou num ônibus. Teve gente que achou camisinha na foto. É mais fácil desacreditar uma mulher do que acreditar que isso acontece todo dia. Não tenho que me explicar sobre o esperma. Como disse minha mãe, se acham que era leita condensado, deveriam ter vindo aqui limpar. Não pensei em ligar para a polícia porque estava sem celular. Tava nojenta, tava suja. E nem sabia direito se adiantaria denunciar — disse.

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Enquanto os que duvidam de Graziela argumentam que a jovem, ao mentir, estaria deslegitimando milhares de mulheres que sofrem agressão sexual todos os dias, a universitária entende que duvidar do que sofreu é uma forma de impedir que mais casos de abuso sexual venham à tona pelas próprias vítimas.

— Estão fazendo com que todas as outras mulheres tenham medo de denunciar também. É uma forma de silenciamento. Falar sobre o fato já é difícil. Ficar explicando é exaustivo — desabafou.

Na última sexta-feira, Graziela finalmente fez a denúncia acompanhada da secretária da Mulher Roseli Isidoro, gestora da pasta na prefeitura de Curitiba. Elas foram à Delegacia da Mulher registrar o boletim de ocorrência.

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Desde 2014 a Secretaria da Mulher de Curitiba mantém, em parceria com a prefeitura, a Guarda Municipal e o URBS, a campanha “Busão sem Abuso”, que incentiva as passageiras a denunciarem agressões sexuais e educa os usuários que as mulheres não devem ser desrespeitadas.

A secretária Roseli Isidoro usou o próprio perfil pessoal no Facebook para falar sobre a polêmica em torno do caso de Graziela. Ela escreveu um texto apontando para a necessidade de cautela ao tratar de casos de agressão contra a mulher, mas principalmente criticando internautas que xingaram e invalidaram a violência sofrida pela jovem universitária.

— Minha indignação não é só como gestadora, mas como mãe e cidadã. Não cabe a nenhum cidadão se tornar julgador da vítima. Ao fazer isso, se fortalece a cultura do machismo e do preconceito. Esses comentários, pra mim, se traduziram no fortalecimento da intolerância e do machismo — disse Roseli em entrevista ao Diário Gaúcho.

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De acordo com a Delegacia da Mulher, nesta segunda-feira Graziela será convocada para fazer o retrato falado do agressor. O crime é de importunação ofensiva ao pudor. Há a possibilidade do caso ser entendido como estupro.

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