Autor do livro Psicanálise do Autismo (Editora Instituto Langage, 2011), o psicólogo e psicanalista Alfredo Nestor Jerusalinsky, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, falou ao caderno Vida sobre a desconhecida síndrome e quais as diferenças entre autismo e psicopatia.

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Vida – Esta síndrome pode estar relacionada a comportamentos violentos?

Alfredo Nestor Jerusalinsky – Não há nenhuma relação entre autismo, Síndrome de Asperger e violência. Eventualmente, pode haver manifestações agressivas. Por isso, é improcedente associar essas condições psicológicas à psicopatia e, portanto, é absurdo associar os assassinatos ocorridos na escola Sandy Hook, em Connecticut, com autismo ou Síndrome de Asperger. Os pais e familiares das pessoas que padecem desses problemas psíquicos são, inevitavelmente, vítimas de um grande sofrimento e costumam realizar grandes esforços para poupar seus filhos das graves consequências da exclusão social. Por isso, é lógico que se indignem não somente com tais imprecisões, mas também com declarações que qualificam equivocadamente seus filhos como se fossem perigosos.

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Vida – Quais as principais diferenças entre psicopatia e autismo?

Jerusalinsky – Há diferenças entre psicopatia e autismo, entre autismo e psicoses e entre psicoses e psicopatias. Enquanto o autista não compreende o mundo que o rodeia e, para se defender, tende a se isolar dele, o psicótico cria uma compreensão delirante do mundo e espera que todos se comportem de acordo com seu imaginário. Assim, do autista não cabe esperar nenhuma agressão. O psicótico, nos seus momentos de crise, tolera muito mal que as coisas e as pessoas não se adaptem a seu imaginário e isso pode torná-los transitoriamente perigosos. Já o psicopata dedica todos seus esforços a que todo mundo fique a serviço de sua satisfação e, por isso, seu maior prazer está em exercer um poder tirânico. Seu maior desgosto está em que as pessoas e os acontecimentos o desobedeçam.

Sinais de alerta

– A criança tem dificuldade de interação social. Os autistas não fazem questão de se engajar em grupos.

– Não compartilham conquistas. Por exemplo, não mostram um presente que acabaram de ganhar.

– Têm mais interesse em objetos e animais do que nas pessoas.

– Usam pessoas como instrumentos para demonstrar o que elas desejam, pegando pela mão, por exemplo.

– Soltam gargalhadas fora de contexto, com o objetivo de tentar interagir com os demais.

– Apresentam dificuldade no desenvolvimento da fala.

– Repetem falas de desenhos animados ou perguntas que os adultos lhe fazem.

– Não conseguem brincar de casinha ou escolinha, porque têm dificuldade de imaginar os personagens.

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– Falam sobre si mesmos na terceira pessoa.

– Fazem movimentos repetitivos e estereotipados, como balançar os braços ou bater palmas.

– Apresentam dificuldade de coordenação motora para tarefas como recortar, pintar ou escrever.

Fonte: Livro Mundo Singular: Entenda o Autismo (Ana Beatriz Barbosa Silva, Mayra Bonifácio Gaiato e Leandro Thadeu)