"Vamos aprovar o impeachment desse fdp!" xingou a recém-eleita deputada federal pelo estado do Michigan Rashida Tlaib, do Partido Democrata, num comício. A plateia anti-Trump vibrou com a proverbial carne aos leões. No mundo além das promessas vazias e das bravatas, um Impeachment do presidente Donald Trump hoje é inviável. E, no futuro, pouco provável.
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Nos EUA, o impeachment é o processo na Câmara. Depois vem outra fase em que o Senado julga o réu, podendo destituí-lo do cargo. Mas o processo na Câmara, decidido por maioria simples, já basta para os americanos chamarem de Impeachment.
Assim, o Partido Democrata, de oposição e que tem a maioria na Câmara, conseguiria aprovar o impeachment de Trump se estivesse unido. Mas o efeito seria o que a liderança e a maioria dos democratas não querem. Isso porque dois terços do Senado precisam condenar o presidente para tirá-lo do cargo. Na prática, o partido do Governo teria que votar contra seu próprio líder, o que nunca aconteceu na História americana e é improvável que ocorra agora.
Trump, então, permaneceria no cargo após o Impeachment, sairia fortalecido politicamente e com chances ainda maiores de se reeleger em 2020.
O procurador especial Robert Mueller investiga se houve conspiração entre Trump, integrantes da campanha eleitoral dele e agentes do Governo russo. Mueller também investiga se Trump tentou obstruir a Justiça.
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É difícil prever se Trump será denunciado. Somente se a conclusão de Mueller for devastadora para Trump existirá uma remota probabilidade de os democratas insistirem no Impeachment.
Quando Trump disse, em campanha, que não perderia eleitores nem que atirasse em alguém em plena Quinta Avenida, em Nova York, ele não falava em hipérbole. A Casa Branca de Trump tem uma rotatividade em cargos de confiança totalmente sem precedentes. Vários do mais alto escalão saíram brigados com o presidente. Hoje, alguns dos ministérios mais importantes, e até o equivalente à Casa Civil, estão em gestão temporária.
Trump lidera o Governo mais caótico da História moderna americana, não aceita fatos, espalha teorias da conspiração, usa o Twitter para humilhar os outros, diz que vai aprovar o orçamento e depois muda de ideia e ainda insiste que o México vai pagar pelo muro que nem o Congresso consegue aprovar.
Mas quem só o vê por um prisma negativo não percebe que grande parte dos eleitores (e do Partido Republicano) gosta de várias políticas de Trump (como o embate com a China, o corte de impostos para empresas, a pressão sobre a Europa, por exemplo) e adora como ele tem solidificado a presença de juízes conservadores nos tribunais federais do país.
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Arrisco-me a dizer que a maioria dos americanos não gosta de Trump como pessoa. Mas nem por isso vai abandoná-lo como presidente. Pelo menos não sem uma opção claramente melhor para 2020. A vantagem, hoje, é de Trump e por isso ele vai intensificar seu posicionamento agressivo contra todos que discordam dele ou da forma como governa.
As Rashidas do Partido Democrata vão continuar querendo tirar Trump do poder usando o processo de Impeachment. Mas a liderança da oposição sabe que a melhor tática, por enquanto, é lutar nas urnas em 2020.