Como, em menos de duas décadas, se passa de estagiário a presidente? Ainda mais de uma das maiores multinacionais do mundo, com operações rentáveis em todos os continentes. Engenheiro, pai de dois filhos, surfista e corredor, Rodrigo Kede não esconde a razão de sua ascensão na IBM, que preside desde julho do ano passado.
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– Não existe sucesso sem muito trabalho e esforço. Outra dica é sair da zona de conforto. Ou seja, sempre procurar um desafio na empresa, no meio acadêmico. E pensar a longo prazo, não só na carreira mas na vida.
O carioca, de 41 anos, que estará na quarta-feira na Capital para palestra na Federasul, conversou com ZH em mais um dia de protestos que varriam o Brasil. Receia onde o movimento vai desembocar, teme que cause “desconforto” entre investidores estrangeiros, mas considera “interessante” ver a população se posicionando de forma tão clara.
Zero Hora – O movimento de protestos no Brasil pode colocar em banho-maria novos investimentos externos para cá?
Rodrigo Kede – É claro que, quando se vê manifestações desse tipo, imagino que exista um desconforto. No caso da IBM, com presença aqui há quase cem anos, estamos acostumados a viver momentos melhores ou piores, não afeta nada. Não é o ideal ver esse tipo de protesto, mas, de outro lado, é interessante ver a população botando para fora e colocando suas posições de forma tão clara. A população está de olhos abertos, vivemos em uma democracia.
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ZH – Acredita que isso possa impactar decisões futuras de investimento no Brasil, prejudicando mais a tentativa de reocupar a liderança perdida para o México?
Kede – Não vai impactar, os protestos são questionamentos naturais neste tipo de situação. É difícil dizer que o Brasil deixou de ser o queridinho dos investidores. As empresas internacionais continuam apostando aqui, oportunidades vão surgindo. O México é um ótimo exemplo, onde foi feito bom trabalho, cujos frutos estão sendo colhidos. Por mais que exista interesse pelo Brasil, há outros países também. Aí se gera fluxo diferente de investimentos.
ZH – Hoje, o que mais tem travado a volta deste radar direcionado para o país?
Kede – A deficiente infraestrutura – portos aeroportos, rodovias e ferrovias -, a infraestrutura digital também, o sistema tributário, fiscal. Problemas de sempre não travam investimentos, mas impedem maior preferência.
ZH – Qual deveria ser a prioridade número 1 para se atacar?
Kede – Se tocássemos três questões principais, resolveríamos problemas do país a longo prazo. A infraestrutura física, gargalo que afeta a competitividade do país. A infraestrutura digital, lógica, necessária para garantir maior eficiência, com pesquisa e desenvolvimento. E a educação, desde a básica até a superior. É claro que seria importante solucionar a reforma trabalhista e a tributária, mas, se resolver as anteriores, o resto será encaminhando naturalmente.
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ZH – Levando em conta essas deficiências, quanto mais caro é no Brasil um produto IBM em comparação a outros países?
Kede – É difícil este tipo de analogia porque temos montagem e fabricação no país. Custos são relativos porque, dependendo do produto, você tem incentivos. O que a gente vende não é uma commodity, mas alta tecnologia com serviço agregado. São soluções complexas.
ZH – Por falar em tecnologia, qual o risco que o Brasil correrá na Copa? Vamos fazer feio ou as questões serão solucionadas?
Kede – A gente pode até discutir: se tivéssemos feito antes o que devíamos, talvez tivesse ficado mais barato. Mas, do ponto de vista de tecnologia, não teremos gargalos nos eventos esportivos. O governo criou projeto para fazer centros móveis de segurança, do qual participamos. Vão fazer o monitoramento de áreas próximas aos estádios. São aqueles caminhões que têm ferramentas de inteligência: vão estar conectados a centros fixos ainda a serem criados.
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ZH – A IBM tem o projeto smarter cities. Porto Alegre, inclusive, já foi premiada, mas qual é o real benefício para a população?
Kede – Cada projeto tem um viés. Em Porto Alegre, criar cidade cognitiva. Tem ramificações e sugestões: custos, processos, tudo que foi aprovado está disponível para a população acompanhar. Há também softwares específicos para a população entender os projetos, participar de ações, sugestão de colocar GPS nos táxis, permitindo controle e gestão. O objetivo é o cidadão entender mais onde está indo o dinheiro, e o governo ter noção do que a população pensa.
ZH – Na sua visão, qual o maior problema hoje da tecnologia? A vulnerabilidade?
Kede – A segurança sempre vai ser um tema forte. A tecnologia evolui, mas os problemas de segurança também e, assim, as soluções. É um tema fundamental, mas há soluções de alta tecnologia para garantir a segurança de dados.
ZH – Mas um mundo digital 100% seguro nunca existirá, certo?
Kede – Podemos falar de empresas que investem muito em segurança, como os bancos. Mas, claro, se abordarmos o aspecto mais amplo de segurança, as redes sociais, onde a população tem todos os seus dados, é outra história: onde se sabe onde você está, o que você faz. Mas também não há opção porque você não pode ficar fora do mundo digital.
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ZH – A questão não é esta: as pessoas não querem redomas, mas também não querem ser invadidas a todo instante.
Kede – Não acho que isso vá piorar, mas a questão da privacidade é muito complicada olhando do ponto de vista das redes sociais.