A campanha de divulgação do novo disco do Daft Punk gerou uma expectativa de renovação da dance music. A surpresa é que a dupla francesa de música eletrônica, conhecida por seu som robótico, fez um trabalho com pegada orgânica de guitarra, baixo e bateria, que retoma o disco-funk dos anos 1970.
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Random Access Memories, o primeiro de inéditas desde 2005 e repleto de cantores e músicos, é lançado oficialmente após estratégias promocionais que levaram o duo a ser assunto obrigatório das publicações relevantes de cultura pop. A ação começou em abril, quando Thomas Bangalter, 38 anos, e Guy-Manuel de Homem-Christo, 39, soltaram pílulas de 15 e 30 segundos do single Get Lucky. Foi o suficiente para o trecho instrumental inspirar versões e mashups de fãs na internet – com Michael Jackson, Madonna, Justice, Paul McCartney, Bee Gees, entre outros.
Veja vídeo com “Get Lucky” e os mashups do single
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Na sequência, o Daft Punk lançou uma web série, patrocinada pela Intel, com os colaboradores do disco, incluindo Pharrell Williams (The Neptunes e N.E.R.D.). E quando o disco vazou, a dupla disponibilizou as 13 faixas para streaming no iTunes. Cada passo foi calculado pela Columbia (da Sony), que encara Random Access Memories como a aposta comercial do ano. Com tamanha disseminação, o quarto álbum do Daft Punk – sem contar discos ao vivo e a trilha do filme Tron: o Legado (2010) – chega com um hit, Get Lucky, que vem superando os sucessos de One More Time (de Discovery, 2000) e Around the World (de Homework, 1997).
Random Access Memories é um biscoito fino do pop eletrônico francês, um pacote sortido que inclui nomes como Cassius, Air e Justice. O clima que remete aos prazeres da pista e da discoteca está no som e nas letras. A abertura, Give Life Back to Music, já dá o tom. A letra, sobre a vitalidade da dance music (“Life back to music/Give life back to music”), é embalada por uma batida setentona com baixo e guitarra. O duo que sempre se apresenta vestido como robôs mostra que o caminho da dance music é o formato de banda. Dado o recado, ganha relevo o elemento que dá essa cara ao disco como um todo, o guitarrista e produtor Nile Rodgers (trabalhou com Michael Jackson, Diana Ross, Madonna, David Bowie). À frente da banda Chic, tornou-se nome fundamental da cena disco-funk dos anos 1970 e 80.
Giorgio by Moroder faz um tributo a Giorgio Moroder, produtor italiano, pai da disco music, que participa com um depoimento sobre sintetizadores e a música do futuro. Ao longo de nove minutos, a faixa faz um giro pela história da música dançante, ganhando clima jazzy e explodindo em momentos progressivos.
Em Instant Crush, o vocal de Julian Casablancas é embalado por teclado e guitarrinhas que poderiam estar no último disco do Strokes – se tivesse produção do Daft Punk, claro. Lose Yourself to Dance, outra declaração de amor à dance music, traz a guitarra safada de Rodgers imprimindo o groove para Williams soltar sua bela voz. É a antessala para o hit Get Lucky, no qual os dois seguem mantendo a pegada discoteca. Em Fragments of Time, Todd Edwards canta uma das faixas mais elegantes do disco. Já Doin’ it Right traz Panda Bear em uma música que seu grupo, o Animal Collective, sonharia ter feito.
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Se Random Access Memories aponta direções para a dance music, uma delas leva a alguma discoteca entre os anos 1970 e 1980.
Random Access Memories
Daft Punk
Dance music, Sony, 13 músicas, R$ 29,90 (em média)
Cotação: 4 de 5