Elas são a autoridade extracampo nos jogos do futebol amador de Florianópolis. Quando escaladas, cabe a Vivian e Leila determinar se há ou não condições para começar a partida. As duas, no entanto, às vezes têm de conviver com patadas e cantadas dos boleiros.
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É papel de um delegado de partida analisar a situação do campo, vestiário, segurança, arquibancadas, além da súmula da partida e pegar documentos e assinaturas de todos os membros dos times que vão se enfrentar. Chegam uma hora antes e às vezes são os últimos a sair.
Leila Regina Taborda começou como delegada em março, na partida entre Jurerê e Paula Ramos. Ela não está nessa só pela renda extra, mas seguindo os passos do pai, Nelson Taborda, que também era delegado de partida em Londrina, no Paraná, onde morava. Ela se mudou em dezembro para Florianópolis e logo foi atrás do sonho.
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— Na verdade eu queria ser árbitra, mas demorei para ir atrás, hoje estou com 29 anos. Por isso, agora eu almejo delegar em jogos profissionais — conta.
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Formada em administração e cursando agronomia, Leila tem curso de comissária de voo, trabalha no atacado de roupas e estuda para concursos. Batalha que não é vista muitas vezes por alguns boleiros durante os jogos da Liga.
— Comentários machistas acontecem, mas a gente tem que se impor. Eu escuto muito é quando jogador vem entregar documento. Às vezes alguma indireta. Por eu ser mulher é normal. Mas é tudo uma questão de postura, caso contrário eu não poderia estar ali — revela Leila.
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A paranaense tem duas filhas, Ana Beatriz, de 11 anos, e a Ana Clara, com 9. Trouxe as meninas quando se mudou para a Ilha, mas com a situação de emprego complicada elas acabaram voltando. Pretende trazer as pequenas de vez quando se estabilizar.

“Achei que não iria durar um mês”
Levada pelo seu Nelson desde criança para os gramados, o futebol apareceu de forma totalmente inesperada para Vivian Linhares. Separa há pouco mais de um ano e com três filhos para criar, precisava complementar a renda. Um colega de trabalho indicou a servidora dos Correios, que começou a delegar em junho do ano passado. Ela mal acompanhava os resultados do Avaí, time do coração, mas se interessou pela ideia.
— O começo foi muito pegado, na época não tinha a Leila, então eu fiquei com um pouco de medo. Num jogo são 22 jogadores, mais comissão técnica, mais torcida, todos homens, era muita discussão, muito palavrão. Eu achei que não iria conseguir ficar 30 dias, mas agora já estou acostumada — conta.
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Vivian começou no juvenil e nos juniores e criou um carinho especial pelos moleques, afinal tem um menino de 16 anos, o Pedro, que também sonha em ser jogador — e quem sabe até ser delegada em um jogo do filho. Mas quando a coisa é com os adultos a situação é mais delicada. Ela lembra que um dia quase foi agredida.
— Um jogador apresentou a habilitação vencida. Eu disse que não poderia jogar assim e o cara me respondeu que mulher não sabe de nada. Fui firme, e aí ele foi buscar outro documento. Mas quando estava indo em direção ao banco pegou uma garrafa de água e jogou em mim — recorda.
A delegada, no entanto, conta que isso já é passado. Que hoje todos atletas e comissão técnica a respeitam.
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Ex-auxiliar da Fifa saiu da Liga
Atualmente não há na arbitragem da Liga nenhum mulher, mas isso é por falta de interesse mesmo. Tanto que no passado, os campos amadores de Florianópolis formaram uma auxiliar Fifa.
Cleidy Mary Ribeiro foi integrante do quadro de assistentes da CBF por 20 anos e 16 na Fifa com experiências na Copa do Mundo de Futebol Feminino e Olimpíadas. Ela trocou a linha branca do gramado pela profissão de bancária em dezembro de 2011 quando foi diagnosticada com uma hérnia de disco.