Dunga, gaúcho de Ijuí, sussurrou para Jorginho e Rodrigo Paiva, auxiliar-técnico e assessor de imprensa, durante a coletiva de imprensa realizada ontem em Cingapura, onde a seleção olímpica se prepara para os Jogos de Pequim:
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– Eu não disse que gaúcho é mala?
Só que o microfone da Rádio Gaúcha captou a frase.
Estava instaurada a polêmica – ainda que não se saiba o sentido exato da expressão usada por Dunga, após uma pergunta do repórter André Silva sobre o aproveitamento de Ronaldinho no time. O cartunista Iotti, pai do personagem Radicci, não concorda com o técnico. Acredita que muitas vezes é tachado como tal porque “não leva ninguém de compadre”, ou seja, costuma ser franco, sem enrolação. A indagação do técnico não agradou ao chargista:
– O Dunga é um cifazol! Ele que pare com essa bobagem – disparou Iotti.
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O escritor Luis Fernando Verissimo entende que Dunga pode estar exasperado com seus conterrâneos da imprensa:
– O gaúcho é melhor repórter e melhor jornalista, aí passa por chato. Na verdade, foi um grande deslize, pois pensava que não estivesse gravando – diz o escritor.
Já Neto Fagundes, músico tradicionalista, discorda um pouco. Para ele, sim, existem gaúchos malas. O errado é generalizar:
– Têm cariocas, paulistas, baianos malas. Não é exclusividade do Rio Grande do Sul.
Neto supõe que Dunga esteja sob grande pressão da mídia. No “centro do tiroteio”, conforme expressão nativista usada pelo músico. A imprensa gaúcha, de um modo geral, não tem dado descanso para ele.
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– A nossa imprensa furunga mesmo. E como tem uma qualidade maior que a dos outros Estados, o repórter acaba passando por mala – analisa Neto.
O cineasta Jorge Furtado ficou receoso de comentar a afirmação de Dunga.
– Mas isto está gravado? – questionou.
Furtado, assim como Neto Fagundes, discorda que o povo gaúcho deva receber exclusivamente esse qualificativo:
– Não há uma relação do Estado de nascimento e sua chatice, isso é preconceito. Existem malas em qualquer lugar.
O cineasta observa, também, que os gaúchos têm autocrítica maior. Por este raciocínio, Dunga não teria feito nada além de xingar a si mesmo. Assim, será que o gaúcho de Ijuí não estaria ao menos no contexto de sua própria frase?
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