Marilene de Oliveira, 54 anos, percorre aproximadamente sete quilômetros de bicicleta, do bairro Parque Guarani até o Itaum, para postar uma carta nos Correios. A agência da Rua Monsenhor Gercino é a mais próxima localizada da casa da diarista e ela demora quase 45 minutos para ir pedalando.
Continua depois da publicidade
Depois de 5 de julho, o trajeto ainda ficará dois quilômetros mais longo já que a unidade postal vai fechar e o atendimento será transferido para o Bucarein, na região central.
— Fica bem mais difícil. Aqui já é longe, imagina agora que vou precisar pedalar mais para chegar ao Bucarein? Não compensa nem para mandar as cartas — conta Marilene, que usa o serviço postal pelo menos uma vez por mês.
Além da agência do Itaum, a unidade do bairro Aventureiro também será fechada nos próximos dias. Enquanto a primeira oferece somente os serviços postais, a agência da zona Leste ainda recebe pagamentos diversos, depósitos, saldo, extrato, empréstimo e consórcio, em parceria com o Banco do Brasil.
Um dos motivos para o fechamento das unidades joinvilenses é a melhora na rentabilidade do atendimento. De acordo com a estatal, o fim do atendimento nos dois locais é para “assegurar maior produtividade e garantir unidades rentáveis, sem comprometer, a universalização dos serviços postais”. Atualmente, os dois espaços a serem fechados no município estão instalados em prédios alugados.
Continua depois da publicidade
O plano de fusão dos Correios começou em 2017. À época, a agência do bairro Vila Nova foi fechada. Já o processo de readequação da rede de atendimento foi iniciado no ano seguinte. Ao todo, Santa Catarina vai ter nove agências com atividades encerradas até julho de 2019. A fusão foi feita em aproximadamente 250 unidades em todo o Brasil, em municípios com mais de 50 mil habitantes.
Mudança para mais eficiência, segundo Correios
A empresa ainda informou que realiza estudos sobre a rede física de atendimento, de novos canais digitais e outras formas de autosserviços. Com isso, a companhia pretende melhorar a qualidade do serviço, além de dar “maior eficiência na cobertura de mercado e a necessária racionalização de custos”. A análise ainda demonstrou, conforme correios, que a absorção do atendimento por outras agências próximas não traz qualquer impacto para a população atendida.
Diferente da realidade de Marilene, a aposentada Clarinda Schon, 88 anos, vai à agência dos Correios por ser mais perto de casa. A senhora conta que percorre cerca de 500 metros a pé até a unidade, no bairro Aventureiro, para pagar as contas na agência dos Correios. Ela conta que os bancos e as lotéricas disponíveis ficam longe de casa e ela não consegue ir caminhando.
— Eu estou em uma idade que preciso andar para me exercitar. Além disso, ainda vejo as pessoas, converso com os vizinhos no trajeto. É uma pena que não vou poder mais vir aqui no mês que vem.
Continua depois da publicidade
Uma média de 100 pessoas procuram as duas agências diariamente. Com o encerramento das atividades, a população precisará procurar atendimento nas unidades próximas que irão absorver a demanda (veja quadro). Já os cinco trabalhadores que estão alocados nestas unidades serão transferidos para outros locais ou poderão optar pelo reenquadramento de atividade.
Sem relação com privatização
Em abril, o governo federal liberou estudos sobre a possibilidade de desestatizar a companhia. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro se manifestou no Twitter sobre a privatização das estatais, alegando que “serviços melhores e mais baratos só podem existir com menos Estado e mais concorrência, via iniciativa privada. Entre as estatais, a privatização dos Correios ganha força em nosso Governo”.
De acordo com a Companhia, o plano de readequação da rede de atendimento não tem relação com os estudos de privatização, mas de um processo de reestruturação para o fortalecimento da governança e gestão. “A partir de um novo posicionamento estratégico, a estatal está mais focada nas necessidades dos clientes e nos desafios atuais do cenário postal”.
