Não foram pequenos nem poucos os percalços enfrentados pelo 40º Festival de Cinema de Gramado: o evento esteve até ameaçado de não se realizar em 2012.
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A tradicional mostra de cinema brasileiro e latino-americano, no entanto, contornou essas adversidades e provou ser um quarentão em excelente forma e em sintonia com a melhor produção atual.
O Palácio dos Festivais, cinema onde são exibidos os filmes da competição serrana, estava lotado no sábado durante a cerimônia de premiação – a presença do público na sala, aliás, foi um dos destaques dessa edição. A distribuição dos Kikitos e prêmios acabou refletindo a opinião geral de quem acompanhou a mostra – que celebrou um raro casamento entre os gostos do público, da crítica e do júri oficial. O curta O Menino do Cinco e o filme uruguaio Artigas, la Redota foram os melhores na opinião dos três júris, enquanto o longa brasileiro O Som ao Redor ganhou os prêmios do júri popular e da crítica – o colegiado oficial preferiu Colegas como melhor filme.
Gramado passou por uma provação em 2012: às vésperas de completar quatro décadas, o festival brasileiro que se realiza ininterruptamente há mais tempo sofreu uma intervenção federal, que bloqueou as contas do evento a fim de regularizar as dívidas da edição anterior. Gramado 40 foi organizado sob a sombra da austeridade: dos R$ 4,1 milhões orçados, menos de R$ 2,5 milhões foram captados. No entanto, com pouco mais de três meses para selecionar os filmes e preparar a mostra, a equipe que preparou o Festival de Gramado conseguiu organizar um evento que honrou a trajetória do certame.
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Primeiro longa-metragem de ficção do diretor e crítico de cinema Kleber Mendonça Filho, O Som ao Redor foi o filme mais provocador da notável seleção de longas brasileiros, reconhecido com o prêmio de melhor direção, dos júris popular e da crítica e de desenho de som – aliás, o som é um dos grandes acertos do filme, assumindo um protagonismo narrativo quase como um personagem. O melhor longa brasileiro segundo o júri oficial, no entanto, foi Colegas, de Marcelo Galvão, divertido filme de estrada que rendeu aos três protagonistas com síndrome de Down um Prêmio Especial.
A premiação nacional, por sinal, contemplou duas das principais vertentes da produção brasileira representadas em Gramado: se a emocionante comédia Colegas busca explicitamente o diálogo com um público mais popular, o excelente drama O Som ao Redor, que radiografa a singular acomodação social no Brasil, exige um espectador mais atento. Gramado ainda premiou os bons longas Jorge Mautner, o Filho do Holocausto (roteiro, fotografia e montagem), O que se Move (a atriz Fernanda Vianna) e Super Nada (o excepcional ator Marat Descartes).
Entre os longas estrangeiros, o destaque ficou com o ótimo Artigas, la Redota: a produção do uruguaio Cesar Charlone levou cinco prêmios, incluindo melhor filme segundo o júri oficial e o popular, além de abocanhar o Kikito de melhor direção. Já o impactante curta baiano O Menino do Cinco arrebatou cinco troféus da categoria, inclusive melhor filme, enquanto o gaúcho Casa Afogada, de Gilson Vargas, ganhou quatro estatuetas – entre elas a de melhor direção.
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