Judi Dench figura nas principais premiações da temporada e disputa o Oscar pela sétima vez revivendo o drama real de uma mulher que, quando adolescente, teve o filho pequeno arrancado de seus braços e entregue para adoção.

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A cicatriz desse trauma ficou aberta por 50 anos, até ela empreender uma jornada para refazer o destino do garotinho com a ajuda de um jornalista. Ele enxergou naquele drama pessoal uma grande história, narrada no livro inspirador de Philomena, filme em cartaz a partir de hoje.

Philomena, no entanto, não tem sua narrativa sustentada pelo suspense de uma grande revelação. O espectador será logo informado do que ocorreu com o menino. O interesse maior do jornalista britânico Martin Sixsmith, vivido por Steve Coogan, foi, a partir do drama de Philomena Lee, ressaltar questões como o embate entre razão e fé e as barbaridades que ainda hoje se pode cometer com o aval da religião.

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Após engravidar, Philomena sofreu um castigo recorrente no ambiente repressor e fervorosamente católico da Irlanda nos anos 1950: foi rejeitada pela família e internada em um convento. Jovens “pecadoras” como ela eram submetidas nessas instituições a uma rotina espartana como forma de purgação – fato mostrado em filmes como Em Nome de Deus (2002), também baseado em história real ocorrida num convento irlandês. Os bebês ali nascidos eram encaminhados para a adoção, mediante polpudo pagamento, e muitos tiveram como destino os EUA – em Philomena, há uma referência ao fato de a atriz americana Jane Russell ter sido uma das mães adotivas de crianças saídas daquela mesma instituição.

Descobrir o caminho percorrido pelo filho não basta a Philomena. Na viagem a Washington, ela quer conhecer o ambiente em que o garoto cresceu e pessoas próximas para, finalmente, ter dele uma imagem e uma percepção física que não aquela da foto desgastada que lhe desperta lembranças tão dolorosas.

Philomena é uma mulher de fé, que tem na religião o farol para sua vida movida pela retidão de caráter, pela solidariedade com o próximo. Sixsmith é seu oposto. Cético, ele se vê tomado pela indignação de quem não compreende a religião como instrumento de culpa e castigo.

Nas mãos de um diretor como Stephen Frears, para quem a boa história e o estofo do elenco se impõem a aspectos formais, e de dois ótimos atores, esse confronto responde pelos elementos de graça e tensão na história. Philomena ganhou no Festival de Veneza o prêmio de melhor roteiro, assinado por Jeff Pope e Steve Coogan, e tem quatro indicações ao Oscar: melhor filme, atriz, roteiro adaptado e trilha sonora.

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Atriz soma sete indicações ao Oscar

Atriz inglesa de 79 anos, Judi Dench iniciou sua formação dramatúrgica no teatro, nos anos 1950, integrando grupos como a Royal Shakespeare Company. Dos palcos, ela foi para a televisão e, depois, para o cinema, no qual tornou-se mais conhecida do público na maturidade. A primeira indicação ao Oscar de Judi foi como melhor atriz, pelo papel da rainha Vitoria em Sua Majestade, Mrs. Brown (1997). Ela ganhou a estatueta de coadjuvante vivendo outra monarca britânica, Elizabeth I, em Shakespeare Apaixonado (1998). Recebeu nova indicação a coadjuvante por Chocolate (2000). Antes de Philomena, Judi concorreu na categoria principal com Iris (2001), Sra. Henderson Apresenta (2005) e Notas sobre um Escândalo (2006). Desde 1995, a atriz marcou presença em sete longas da franquia 007, como M, a chefe do agente secreto James Bond.