“Argo” é um filme que tinha tudo para dar errado. Não este que estreia nesta sexta-feira nos cinemas brasileiros, mas aquele produzido em 1979, quando o agente da CIA Tony Mendez criou o roteiro fictício de um filme de ficção científica para ser filmado em Teerã.
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O motivo para a mentira era nobre: especialista em disfarces e infiltrações, Mendez recebeu a missão de resgatar seis embaixadores americanos que, para escapar dos ataques de manifestantes iranianos durante a revolta que resultou na queda do presidente Mohammad Mosaddeq e sua substituição pelo sádico xá Reza Pahlev, haviam se escondido na embaixada canadense.
Esta ideia, que de tão absurda parece saída de Hollywood, realmente se tornou uma obra de ficção pelas mãos do ator e diretor Ben Affleck, que transformou “Argo” – o filme de mentira – em “Argo” – uma das apostas para o prêmio de melhor filme no Oscar 2013.
É Affleck quem protagoniza sua mais nova obra. Ele entra em cena como o agente Mendez, um artista que decide se candidatar a uma vaga na CIA (o que explica a criatividade para inventar ações como a de um filme fictício para entrar no Irã sem chamar a atenção). O episódio ficou conhecido como “a melhor má ideia” que a CIA podia ter.
Ao lado de um maquiador (interpretado por John Goodman) e um produtor (interpretado por Alan Arkin), Mendez planejava passar dois dias em negociações com os ministros do novo governo iraniano para, enfim, resgatar os americanos e partir fingindo que estes fazem parte da equipe de filmagem. Ela é aceita pela CIA depois que a agência entendeu que não havia outras opções de resgate para os americanos em perigo.
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O caso seria, por si só, uma grande enredo mas, como qualquer história real adaptada para o cinema, há momentos de liberdade criativa inevitáveis em “Argo”, como perseguições e explosões que, se não ocorreram de verdade, no mínimo transmitem a ação e o medo que os envolvidos sentiram ao apostar em um plano tão improvável.
Além disso, Affleck conduz a história para contextualizar o momento político do Irã e, ainda, produzir uma crítica à natureza implacável de Hollywood. Assim, “Argo” apresenta em três filmes em um: o que retrata o plano da CIA em Teerã, o que mostra o agente Mendez nas entranhas de Hollywood; e a produção do filme-mentira de Mendez.
Há duas coisas que movem as bilheterias de cinema. A principal é a publicidade movida pelo marketing do estúdio, dos nomes estelares no elenco e a expectativa que o público alimenta meses antes da estreia. A outra, mais rara, é o antigo sistema boca a boca – aquele que acontece quando filme não tem tanto apelo comercial, mas surpreende os primeiros espectadores, que passam a indicá-lo.
“Argo” tinha todas as possibilidades da primeira opção: é uma superprodução protagonizada e dirigida por um astro hollywoodiano, mas foi a segunda opção que o levou a, depois de três semanas em cartaz, se tornar o filme número um nas bilheterias americanas em outubro.
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