E se o mundo tivesse acabado, conforme aquela interpretação do calendário Maia, que vislumbrava o apocalipse em dezembro de 2012? Ok, já é 2014 e continuamos aqui, mas o drama colombiano Crônica do Fim do Mundo, estreia desta semana no CineBancários, se passa nos meses anteriores à previsão, acompanhando a jornada de um homem solitário de 70 anos (Victor Hugo Morant) que, crente da iminência do fim, resolve telefonar para os desafetos que acumulou ao longo de toda a vida e lhes dizer aquilo que ficou engasgado ao longo das décadas.
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E se o mundo não acabar? Lá pelas tantas, é o que se pergunta o filho do protagonista, sujeito de 35 anos (Jimmy Vásquez) que acaba de ter um filho, passa por alguns problemas profissionais em seu casamento e, cada vez mais, precisa se aproximar de seu velho para dar-lhe assistência. “Ouvi dizer que o fim será, na verdade, em 2020”, ele conversa com um amigo.
É curioso observar o comportamento de ambos, a forma como se reaproximam e como eles lidam com seus problemas – os inventados e os reais, com os quais deparam durante o desenvolvimento da trama. Neste sentido, o fato de o filme tratar de uma situação já, por assim dizer, superada é ainda mais estimulante: ressalta a dicotomia entre a realidade palpável e os universos paralelos imaginados. Os dramas pessoais que levam à fuga estão todos ali, apresentados paulatinamente, com habilidade, pelo diretor Mauricio Cuervo. Alguns deles, quem for ao cinema vai perceber, permitem estabelecer uma relação interessante entre o protagonista e a sociedade em que ele está inserido – algo na linha do que faz o chileno Gloria (2013), exibido há pouco em Porto Alegre.
Isso e a ótima atuação de Morant são o melhor de Crônica do Fim do Mundo. Há mais. Isolado em seu apartamento, o protagonista tem a oportunidade de ver as ruas de Bogotá em vídeos que o filho faz com seu celular, em passeios pela cidade, e traz para ambos assistirem juntos. Não que esses filmes dentro do filme sejam um primor, mas a simbologia ali contida é rica – a abordagem intergerações faz a reflexão sobre o fim crescer exponencialmente.
É como se os propósitos comuns aos argentinos A Velha dos Fundos (2010) e Lugares Comuns (2003), para citar outros dois representantes da produção latino-americana recente, fossem articulados em um único longa-metragem. Crônica do Fim do Mundo está longe de ser uma obra-prima, mas se trata de um comentário poderoso acerca de tipos recorrentes na produção do continente – e o contexto que os cerca.
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CRÔNICA DO FIM DO MUNDO
(Crónica del Fin del Mundo)
De Mauricio Cuervo. Com Ángel Vásquez Aguirre e Victor Hugo Morant.
Drama, Colômbia, 2012. Duração: 85 minutos. Classificação: 12 anos.
Em cartaz em três sessões diárias no CineBancários, em Porto Alegre.
Cotação: 3 estrelas (de 5).