A experiência na área da saúde, com os “mais de 50 anos de medicina”, é o alicerce da campanha do médico José Aluisio Vieira, o Dr. Xuxo. Com 75 anos de idade e conhecido pela participação na Fundação Pró-rim, Dr. Xuxo disputa a Prefeitura de Joinville pela primeira vez – em 2008, ele concorreu a vice de Mauro Mariani (PMDB) e também participou de duas disputas para deputado estadual em 2010 e federal em 2014.

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Ele também teve participação na política antes das experiências de disputa de cargos eletivos por meio do apoio ao irmão José Carlos Vieira, ex-deputado federal.

Para concorrer a prefeito, Dr. Xuxo chegou a trocar de partido para assegurar a participação na disputa. Já os esforços para tentar conquistar aliados não tiveram sucesso e o PP participa sozinho, sem coligação.

Na campanha, o candidato tem defendido o uso de estruturas privadas e comunitárias já existentes para dar mais eficiência aos recursos públicos.

– Se fizermos sempre do mesmo jeito, vai ficando mais caro, mais caro e não tem dinheiro que chegue – diz Dr. Xuxo.

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Para vice, o médico traz Adilson Moreira, ex-comandante da Força Nacional e do 8º Batalhão da PM de Joinville. Seria a outra metade do binômio saúde-segurança, tão defendido por ele na campanha eleitoral.

Confira a série de entrevistas com os candidatos a prefeito de Joinville em 2016

A Notícia – Os sucessivos prefeitos se queixam do peso da folha do Hospital São José. É esse o gargalo?

Dr. Xuxo – Eu vejo problemas importantes. Primeiro, é espera na fila, pegar uma ficha às três da manhã para se consultar às sete da manhã porque só tem 20 vagas. A outra limitação é que não foram feitas policlínicas – e é muito difícil a gente fazer policlínicas -, no sentido de termos especialistas. E, terceiro, outro gargalo é a falta de um hospital na zona Sul. Quem sempre faz a mesma coisa, dizia Einstein, obtém sempre os mesmos resultados. Se fizermos sempre do mesmo jeito, vai ficando mais caro, mais caro e não tem dinheiro que chegue. O recurso está sempre limitado. Mas existe um negócio chamado tecnologia. Em Florianópolis, até em Joinville, tem atendimento pelo 0800 por um médico.

AN – Mas há resistência das entidades médicas a isso?

Dr. Xuxo – Vai ter. Toda a inovação tem resistência. Teve resistência para colocar UTI em Joinville, para fazer transplante, tudo teve resistência. Resistência para credenciar. Você não pode fazer o atendimento médico por telefone, mas vamos fazer um aconselhamento médico. Vou dar um exemplo que aconteceu recentemente. Um cidadão tinha um problema no pé e usava um medicamento contra fungos. Ele também tinha lente de contato e usou o antifúngico ali. E isso trouxe problemas no olho. Daí ele pensou: “vou correndo para o pronto-socorro, senão vou ficar cego”. Mas daí telefonou para um 0800 e o médico disse que se ele fosse para o pronto-socorro demoraria horas para ser atendido, pois não tinha nenhum oftalmologista. A orientação foi lavar o olho na pia e ligar novamente em 15 minutos. Depois, a orientação foi lavar de novo. Meia hora depois, não estava mais ardendo. O indivíduo quer falar com um médico, às vezes, se for um técnico, um enfermeiro, ele não se sente satisfeito. Se você tiver um problema agora, uma dor, vai pensar para qual médico amigo pode ligar.

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AN – Que impacto vai ter esse tipo de atendimento?

Dr. Xuxo – O objetivo (da proposta) é esvaziar a fila do postinho. Experiências em outros locais mostram que reduz em 70%. Se tivermos uma equipe de 30 médicos atendendo ao telefone, a gente conDr. Xuxo – O objetivo (da proposta) é esvaziar a fila do postinho. Experiências em outros locais mostram que reduz em 70%. Se tivermos uma equipe de 30 médicos atendendo ao telefone, a gente consegue isso. Estamos tentando não fazer a mesma coisa de sempre.

AN – E as filas com especialistas, como enfrentar?

Dr. Xuxo – Tem fila com mais de 20 mil consultas para especialistas. Onde ficam os especialistas? Nas policlínicas. Mas aí estamos em crise, até o Brasil colocar a cabeça para fora, vai levar um bom tempo. Temos que trabalhar com espírito de guerra. Assim, vamos trabalhar com os especialistas que já estão aí, vamos fazer um contrato. A mesma coisa podemos fazer com os exames, os mais baratos. Daí não vou gastar para construir, esperar dois ou três anos até que seja feito um posto, para manter. Tem postos da época do Carlito que ainda não estão prontos, que começaram em 2012 e ainda não foram concluídos.

AN – E o hospital, ainda pensa em construir um?

Dr. Xuxo – Joinville tem 600 mil pessoas e, depois da linha do trem, na zona Sul, moram 250 mil pessoas. E tem também Barra Velha, Araquari, Barra do Sul, São Francisco. Joinville é sede de uma microrregião, como Curitiba é de uma macrorregião, as pessoas vão para lá. O que se precisa é de acordos administrativos dentro do SUS. Se o cara é de lá, que venha com o cartão do SUS de lá e que a cidade onde fez o atendimento seja reembolsada. E se aceitou fazer, não adianta reclamar, tem de atender. A zona Sul tem 250 mil moradores. Se fosse uma cidade, seria a quinta maior de Santa Catarina. Aí eu pergunto: tem uma cidade de 250 mil habitantes que não tem nenhum hospital? Aí o gestor tem medo de dizer que vai fazer um hospital. E eu não estou dizendo que vou fazer e sim que é necessário fazer. O São José não aguenta. É um baita de um hospital, trabalhei lá, mas não aguenta.

AN – Mas tem PA na zona Sul.

Dr. Xuxo – O PA 24 horas foi feito há 30 anos, pelo Luiz Henrique. Não podemos fechar os olhos e dizer que não temos como fazer mais leitos porque não temos dinheiro. Não dá para pensar assim. Temos que fazer o projeto, correr atrás do dinheiro, seja eu ou o próximo prefeito, mas temos que levantar o problema, não podemos nos esconder.

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AN – O senhor também defende a escola integral?

Dr. Xuxo – Falam que precisamos fazer a escola em tempo integral. Há pouco tempo, nós tínhamos o turno intermediário. Então teremos que dobrar os espaços, fazer mais ginásios, salas de dança, etc. Se quiser avançar, o negócio é não construir. Vai lá e pergunta se o governo do Estado não quer construir um hospital? Até constrói, mas não quer tocar, vão dar para uma organização social – o que acho bom. Dia desses, fui no Estrela da Praia. Tem campo de futebol, tem ginásio, uma área enorme para outras atividades. E, de segunda a sábado, fica vazio. Como podemos nos dar ao luxo de não usar? Podemos fazer o contraturno nesses clubes. As entidades vão adorar. Qual é o medo dos pais? É de deixar os filhos sozinhos depois da aula. Será um avanço tremendo levar os alunos para esses locais (clubes, associações e igrejas).

AN – O que é necessário em mobilidade?

Dr. Xuxo – Vamos começar pelas entradas. Temos três acessos horrorosos. Veja como é em Jaraguá, Itajaí e Chapecó, com anel viário. Temos que fazer algo na rua Anita Garibaldi, duplicar ou fazer um binário. Na Ottokar Doerffel, tem um trecho mixuruca que tem de duplicar. E a Almirante Jaceguay é a única que tem espaço junto à BR-101 para fazer um trevo como tem na zona Sul. Precisa duplicar a Marquês de Olinda? Ah, mas e dinheiro para isso? A ideia é fazer como Curitiba fez a linha verde, São Paulo fez a ponte estaiada e o Rio de Janeiro fez a revitalização de área portuária: venda de títulos na Bolsa, as operações consorciadas (o poder público autoriza uma obra ou outra intervenção “acima” do permitido pela lei e o recurso pago pelo empreendedor é usado em melhoria da infraestrutura urbana).

AN – São exemplos de metrópoles, tem esse capital disponível em Joinville?

Dr. Xuxo – Claro que tem. Se não tiver tanto, tem menos, mas temos que buscar esse dinheiro. Nós temos crédito. Vou te dar uma ideia legal: podemos pensar em metrô de superfície de Leste-Oeste pelo trilho do trem, desde o Morro do Meio até Araquari. Muita gente se move por ali, na zona Sul, dá para fazer transporte integrado com o ônibus. Quando o Bender fez a atual rodoviária, disseram que estava errado porque era no meio do mato. O trem passa poucas vezes, podemos usar uma litorina (espécie de trem) para transportar passageiros nos períodos ociosos. Temos que ter ligações Leste-Oeste.

AN – Se continuar a crise, há onde cortar e economizar na Prefeitura?

Dr. Xuxo – A Prefeitura tem que incentivar o trabalho, o empreendedorismo, e não ficar apertando com leis, tem que dar um fôlego, um alvará provisório, para abrir os negócios. Tem que colocar a Fundamas a ajudar esse pessoal a se profissionalizar. Temos que incentivar a indústria da modernidade, da inovação, que é o futuro. Não podemos virar um ABC paulista. Se nós não formos para o mundo da tecnologia, nós vamos ficar para trás.

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AN – O que o prefeito pode fazer na segurança?

Dr. Xuxo – Quem vai fazer será meu vice (Adilson Moreira, coronel da PM). Segurança é um problema nacional e mundial. O mundo ficou muito violento e Joinville também. A gente vai por aí, os comerciantes contam que sofreram crimes uma, duas, três, quatro vezes. A Prefeitura tem que coordenar, criar um centro integrado de controle e vigilância, aqueles painéis integrados. Se não nos dermos as mãos, de forma conjunta, será o caos. Temos que refazer os convênios que foram rompidos. Vamos alugar carros para a polícia, iluminar melhor as ruas.

AN – Se o senhor vencer, o que vai mudar no começo, vai se queixar da herança?

Dr. Xuxo – Todo prefeito, para justificar suas dificuldades de adaptabilidade, coloca a culpa na dívida deixada pelo antecessor. Aqui, a dívida antes era de

R$ 100 milhões. Agora, é de R$ 300 milhões (risos). Eu vou informar o que tem e o que não tem, mas vou é trabalhar, ir para a rua. De que adianta ficar se queixando?

AN – O que será feito na largada?

Dr. Xuxo – Vou fazer uma coisa importante que aprendi com o prefeito de Itajaí, o Jandir Bellini. Ele teve quatro mandatos e perguntei qual a obra mais importante que ele fez. Imaginei que seria um ponte e tal. Uma Ponte do Trabalhador, que tem marketing até hoje. E ele respondeu: eu restaurei o orgulho do itajaiense com sua cidade. Daí eu perguntei: “Como o senhor fez isso?”. E ele respondeu que foi zelando pela cidade, deixando ela bonita, pintando, incentivando o turismo de cruzeiros, promovendo as festas tradicionais e florindo a cidade. Bellini disse que Itajaí é mais cidade das flores do que Joinville. E sabe o que acontece? O cara entra em Itajaí, vê a cidade bonita e resolve investir. A palavra é essa, zelar pela cidade. Restaurar a qualidade. Isso a gente perdeu em Joinville, a qualidade de vida tem de melhorar. Quantas árvores tem na rua João Colin ou na Blumenau? Quantas árvores tem na Iririú, na São Paulo ou na Monsenhor Gercino. Olhe nosso rio Cachoeira, que passa em frente aos três poderes, ninguém enxerga?

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Dr. Xuxo

Partido: PP

Vice: Adilson Moreira

Sem coligação

Mote da campanha: Defende melhor gestão de recursos na saúde. Parcerias com a iniciativa privada e entidades comunitárias para aproveitamento de estruturas e profissionais já existentes. O candidato do PP defende a construção de um hospital na zona Sul de Joinville, uma forma também de atender

aos municípios vizinhos.