Dois hospitais do Oeste de Santa Catarina são suspeitos por casos de violência obstétrica. A denúncia foi feita por uma doula de 25 anos, que acompanha gestantes e diz que também foi vítima. Segundo ela, houve intervenções desnecessárias e manobras para apressar o parto. As informações são do g1 SC.
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— Infelizmente, não tem um para um, um médico para uma gestante. Eles [médicos] têm que atender várias ao mesmo tempo, e pode acabar apressando o processo, ocorrendo várias intervenções desnecessárias — conta a jovem que não quis se identificar.
Os casos teriam ocorrido em unidades de saúde de Xanxerê e Chapecó. A doula explica que, em um dos casos, houve intervenções excessivas do médico no momento do parto.
— Uma vez, fui acompanhar uma gestante. Na hora do expulsivo [parto], ela estava de pé, tranquila na medida do possível. Em vez de manterem-na em pé, pediram que ela deitasse, com o objetivo de fazer um cardiotoco [cardiotocografia, exame para verificar os batimentos cardíacos do bebê]. A médica tocou e viu que tinha 10 centímetros [de dilatação]. Houve manipulação perineal, que acabou levando a uma laceração mais grave — relata.
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Ela complementa com mais detalhes da suposta violência:
— A cardiotocografia são dois sensores na barriga para ver os batimentos do bebê e as contrações, não tem que ser deitado, para não perder o foco de onde está o bebê. Quando ela [gestante] deitou, fizeram o cardiotoco e começaram o expulso dirigido. Houve uma laceração um pouco mais grave, de segundo grau.
Em outuro caso, o hospital teria antecipado o parto por conta do número de gestantes que aguardavam no local.
— Em outra situação, uma gestante que acompanhei estava com 7 centímetros de dilatação, bem tranquila. Quando chegou a 9 centímetros, tinham outras gestantes esperando para cesariana e a residente começou a manipular o colo. A mulher [gestante] acabou tendo edema, inchou bastante o colo dela, a região da vagina. Começou a inchar a cabeça do bebê pela posição. São coisas que a gente vê que não tem evidências científicas, que não comprovação — complementa.
Também houve relatos de violência verbal em um hospital de Xanxerê, onde o médico teria dito para uma paciente “parabéns, te vejo aqui no que vem”. Por fim, a mulher conta um episódio envolvendo uma adolescente de 15 anos:
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— Isso me chocou muito. Era uma menina de 15 anos, teve episiotomia [procedimento cirúrgico que tem por objetivo aumentar a abertura vaginal na hora do parto], [manobra de] Kristeller [técnica de pressionar a parte superior do útero para acelerar a saída do bebê]. Diziam ‘não adianta gritar, gritar não faz nascer. O neném vai voltar para a barriga de novo.
Violência no próprio parto
A jovem, que é formada em enfermagem pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), conta que também passou por situações semelhantes no próprio parto.
— Eu tive um parto vaginal, que de normal não teve nada. Também ouvi coisas absurdas, teve exame de toque em excesso, me ofereceram analgesia. Se você oferecer para a gestante, ela vai aceitar, ela está com dor, só quer que diminua. Não foi minha melhor escolha, poderiam ter evitado de oferecer, tanto que hoje não o fazem. Parei e pensei que tive uma experiência que não foi legal, meu filho não foi recebido da melhor maneira possível. Quero ajudar outras mulheres a ressignificar esse momento — pontua.
Ela também cita o desconhecido que muitas gestantes tem em relação ao que é uma violência obstétrica.
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— Na maioria das vezes, elas não fazem ideia do que está acontecendo. Deveria começar no pré-natal, que é para medir barriga, saber se teve sangramento, perda de líquido, mas ninguém informa o que ela vai esperar, o que é direito dela, o que é recomendado. Acabam esquecendo que é um momento único na vida da mulher. Para nós é um parto, são três na fila, mas é um momento único para a vida da mulher — afirma.
Violência obstétrica
A violência obstétrica ocorre em casos de abusos sofridos por mulheres ao procurar serviços de saúde durante a gestação, hora do parto ou pós-parto. Entre os maus tratos estão violência física ou psicológica.
Além disso, este tipo de violência também está relacionada a falhas estruturais de clínicas, hospitais e do sistema de saúde como um todo, não só na conduta dos profissionais.
As denúncias podem ser realizadas no hospital ou serviço de saúde em que a paciente foi atendida. Também é possível relatar os casos na secretaria de saúde responsável pelo estabelecimento e nos conselhos de classe, como Conselho Regional de Medicina (CRM) ou Conselho Regional de Enfermagem (Coren), por exemplo.
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Para atendimento telefônico, a vítima pode ligar para o 180 (Centro de Atendimento à Mulher) ou no 136 (Disque Saúde).
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