Faltavam poucos dias para a Câmara dos Deputados votar a aprovação da abertura do processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, em setembro de 1992, quando o deputado federal catarinense Cesar Souza (PFL) recebeu um telefonema inusitado. Era o próprio Collor, tentando reverter os votos que acabariam levando a seu afastamento dias depois.

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– Ele disse que seria um golpe das elites e da mídia e pedia apoio. Eu já havia me posicionado pelo impeachment e não tinha por que mudar – relembra Cesar Souza, que será o único membro da atual bancada de deputados federais a votar o impeachment de Collor e da presidente Dilma Rousseff (PT).

Os impeachments parecem perseguir o parlamentar. Como deputado estadual, em 1997, ele também votou o afastamento do governador Paulo Afonso Vieira (PMDB) – que conseguiu manter o cargo por apenas dois votos. Cesar Souza deixou a função de secretário estadual de Assuntos Estratégicos para reassumir a cadeira na Câmara e dar seu terceiro ¿sim¿ a um processo de impeachment. O pessedista é um dos 14 integrantes da bancada catarinense que devem votar contra a presidente Dilma. Em 1992, a unidade quase foi alcançada: dos 16 parlamentares do Estado, apenas Nelson Morro (PFL) manteve-se fiel a Collor.

A principal diferença entre aquele momento e o atual era a falta de suporte político a Collor, oriundo do pequeno PRN e com a base esfacelada. Não havia militância, movimentos sociais e sindicatos em defesa do presidente, que tinha justamente o PT como um de seus algozes. Os simpatizantes eram raros e discretos.

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– A situação agora é diferente. O Collor saiu e foi para casa. O Itamar assumiu e conseguiu levar o governo com normalidade. O clima agora é mais agressivo – afirma a ex-deputada Angela Amin, que também participou da saída de Collor.

Nomes de peso da política catarinense faziam parte daquele grupo. Entre eles estava Luiz Henrique da Silveira (PMDB), que viria a ser governador o Estado por dois mandatos. Paulo Bauer, hoje senador, e o vice-governador Eduardo Pinho Moreira (PMDB) também eram da bancada. Esperidião Amin (PDS) estava em Brasília como senador. O que gerou uma curiosa tabela com o adversário Pinho Moreira para mudar o voto do deputado Jarvis Gaidzinski (PL), um dos articuladores da tropa de choque de Collor. Enquanto ele se dirigia à tribuna, Amin disse ¿vota pelo teu pai, que não concordaria com tudo isso¿. O apelo se somou ao do peemedebista.

– Ele estava ao meu lado. Quando chamaram eu disse ¿não faz isso, a sociedade não vai entender¿ – lembra Eduardo Pinho Moreira.

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Também foi para garantir mais um voto para o impeachment que Paulo Bauer, à época PDS e hoje PSDB, deixou o cargo de secretário estadual de Educação e reassumiu o mandato por apenas 15 dias. Seu suplente, Orlando Pacheco (PFL), havia anunciado o voto contra o afastamento de Collor.

Havia um componente a mais naquela votação: ela aconteceu cinco dias antes das eleições municipais e quatro parlamentares disputaram prefeituras. Os peemedebistas Pinho Moreira e Renato Vianna venceram em Lages e Criciúma. Com apoio do então prefeito Raimundo Colombo, o deputado Paulo Duarte (PFL) foi derrotado em Lages por Fernando Coruja (PDT).

Quem é quem

Nelson Morro

Com base política no Vale do Itajaí, Nelson Morro foi deputado federal por quatro mandatos, entre 1979 e 1994, filiado à Arena, PDS e PFL. Foi o único catarinense a votar contra o impeachment de Fernando Collor na Câmara e não disputou mais eleições depois daquela legislatura. Ao justificar o voto, na época, disse que o relatório do deputado federal Nelson Jobim priorizou o enfoque político ao jurídico.

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Angela Amin (PDS, atual PP)

Estava em seu primeiro mandato de deputada federal. Dois depois do impeachment de Collor, em 1994, tentaria pela primeira vez chegar ao governo do Estado, sendo derrotada no segundo turno por Paulo Afonso (PMDB) após liderar toda a disputa. Elegeu-se prefeita de Florianópolis em 1996 e 2000 e voltou à Câmara em 2006. Concorreu novamente ao governo em 2010, ficando em segundo lugar. Desde então, não disputou mais eleições.

Cesar Souza (PFL, hoje no PSD)

Cumpriu o mandato de deputado federal, mas depois decidiu voltar ao Estado, elegendo-se três vezes consecutivas deputado estadual. Em 2006, decidiu não concorrer e abrir espaço para o filho Cesar Souza Junior, hoje prefeito de Florianópolis. Em 2010 elegeu-se suplente na chapa do senador Paulo Bauer (PSDB) e em 2014 voltou a Brasília como deputado federal.

Dejandir Dalpasquale (PMDB)

Membro histórico do PMDB, pelo qual também foi deputado estadual e prefeito de Campos Novos, Dejandir não disputou eleições após o fim do mandato em 1994. Chegou a ser ministro da Agricultura por dois meses no governo de Itamar Franco. Era uma voz crítica às políticas de alianças do PMDB. Morreu em 2011.

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Eduardo Pinho Moreira (PMDB)

Dias depois do impeachment, o deputado federal seria eleito prefeito de Criciúma. Em 1996, quando ainda não era possível disputar reeleição, foi o principal cabo eleitoral de Paulo Meller (PMDB), eleito prefeito. Tentou retornar à prefeitura em 2000, mas acabou derrotado. Em 2002, elegeu-se vice-governador na chapa de Luiz Henrique (PMDB). Voltaria ao cargo em 2010, tendo Raimundo Colombo como parceiro. Ambos reeleitos em 2014.

Hugo Biehl (PDS, atual PP)

Seria reeleito deputado federal em 1994 e 1998. Em 2002, disputou o Senado e ficou terceiro lugar. Perdeu a cadeira para Leonel Pavan (PSDB) por uma diferença de 14,7 mil votos. Na eleição seguinte, foi candidato a vice-governador na chapa de Esperidião Amin (PP), derrotados no segundo turno por Luiz Henrique. Tentou novamente o Senado em 2010, ficando em quarto lugar.

Jarvis Gaidzinski (PL)

Antes de ser deputado federal, havia exercido dois mandatos na Assembleia Legislativa e sido prefeito do Cocal do Sul. Tentou a reeleição em 1994, pelo PPR (atual PP), mas ficou com a primeira suplência. Morreu em 2002, após um acidente de automóvel na BR-101.

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Luci Choinacki (PT)

Era a única representante do PT na bancada federal catarinense naquela legislatura, sendo também a primeira deputada federal eleita pelo partido em SC. Na eleição seguinte, tentou o Senado, mas acabou em terceiro lugar. Voltou à Câmara em 1998, sendo reeleita em 2002. Disputou o Senado novamente em 2006, perdendo para Raimundo Colombo (PFL). Retornou à Câmara em 2010 e não conquistou a reeleição em 2014. Hoje é delegada do Ministério do Desenvolvimento Agrário em SC.

Luiz Henrique da Silva (PMDB)

Já tinha uma carreira política bem construída na época, em seu terceiro mandato como deputado federal. Naquele ano disputou a prefeitura de Joinville e foi derrotado no segundo turno por Wittich Freitag (PFL). Reelegeu-se deputado em 1994. Conquistou a prefeitura em 1996, sendo reeleito em 2000. Supreendeu o favorito Esperidião Amin (PPB) em 2002, elegendo-se governador. Foi reeleito em 2006 e chegou ao Senado em 2010. Morreu em maio de 2015.

Neuto de Conto (PMDB)

Outra figura histórica do PMDB, Neuto de Conto estava em seu primeiro mandato efetivo como deputado federal na votação do impeachment, tendo ocupado a vaga como suplente na legislatura anterior. Reelegeu-se em 1994, mas não conseguiu renovar o mandato em 1998. Em 2002, elegeu-se suplente na chapa de Leonel Pavan (PSDB) ao Senado, assumindo o cargo por quatro anos com a renúncia do tucano para assumir como vice-governador em 2007.

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Paulo Bauer (PDS, hoje no PSDB)

Eleito deputado federal pela primeira vez em 1990, Bauer estava licenciado do cargo para ocupar a Secretaria Estadual de Educação no governo Vilson Kleinübing (PFL). Retomou a cadeira apenas para votar o impeachment de Collor. Foi reeleito em 1994 e conquistou o cargo de vice-governador em 1998, na chapa de Esperidião Amin (PPB). Conquistou novo mandato de deputado federal em 2002 e a suplência em 2006, assumiu novamente a Secretaria de Educação no governo Luiz Henrique (PMDB). Em 2010, foi eleito senador.