O quarto já tinha sido pintado de cor de rosa e branco como ela havia pedido. Cada boneca já tinha o próprio berço. A TV, o DVD e os livrinhos estavam todos na estante, mas, aos três anos, Carolina ainda preferia a cama dos pais. E ela não era exceção.
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Na turma do Infantil, do Colégio Sinodal, de São Leopoldo, o medo do escuro, do trovão e do bicho-papão eram argumentos recorrentes das crianças na tentativa de explicar por que o quarto dos pais ainda era tão irresistível.
De relato em relato foi que a professora Cláudia Uebel decidiu que as crianças precisavam de Van Gogh. Ao serem apresentados à obra intitulada “O Quarto em Arles”, os pequenos foram compartilhando o que havia no quarto do artista e o que havia no deles. Na troca de experiências é que as crianças perceberam como poderia ser bom curtir o próprio espaço.
O trabalho desenvolvido em sala de aula refletiu em casa. Acabou envolvendo os pais e levantando a questão: quando é necessário ter um quarto para as crianças construírem o próprio e a personalidade?
– É fundamental que a criança tenha espaço. Ela precisa reconhecê-lo e não ficar confusa com o que é do pais. Isso deve ficar muito claro para ela – avisa a psicóloga Eliane Zarth Souza.
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Ela garante que desde os primeiros meses a criança já pode e deve dormir no seu quarto. Do contrário, com o passar do tempo, ela vai reconhecendo o conforto na cama dos pais e dificultando essa separação. A dificuldade de romper essa ligação pode acabar criando uma falta de autonomia e independência mais tarde.
– Os pais tem de ser firmes e dizer que ali não é o lugar da criança. Faz parte da construção de limites. A criança não pode ser atendida em tudo o que quer. Ela vai insistir, mas os pais tem de saber dizer não – aconselha Eliane.
Quando a cama dos pais é rotina
A batalha travada na casa da pequena Carolina se estendeu ao longo de pelo menos um ano, recorda Daniela Araújo, 32 anos, a mãe da menina. Até que o projeto da escola fizesse a menina trocar experiências com os coleguinhas e perceber o lado positivo de ter o próprio espaço, passaram-se noites e noites.
– Começamos a ficar preocupados. Colocávamos ela na cama, mas ela acordava e corria para a nossa. Isso acontecia de cinco a seis vezes por noite. Ela nos vencia no cansaço – conta Daniela.
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Aliado ao trabalho da professora, os pais decidiram agir em casa. Os brinquedos foram recolhidos e uma planilha foi elaborada e colada no guarda-roupa à altura da menina. A cada semana dormida inteira na cama dela, os brinquedos retornavam.
– Hoje, ela dorme todas as noites na cama dela. A planilha foi um teste que deu certo – comemora Paulo Ricardo Araújo, 39 anos, pai de Carolina.
Para Cláudia dos Santos Uebel, professora que ajudou os pais nessa empreitada, superar a insegurança e a fantasia das crianças nessa idade são os maiores obstáculos.
– Trabalhamos a imaginação deles também para que a hora do sono seja uma hora tranquila. Fomos explicando que agora eles estão crescendo e não precisam mais dormir juntos, na mesma cama dos pais. Eles comemoram como uma vitória, venceram o medo – orgulha-se Cláudia.
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