Já tratado por aliados como possível presidenciável em 2022, João Doria (PSDB) assume o Palácio dos Bandeirantes hoje com um discurso nacionalizado para ocupar espaços de poder que vão além das fronteiras paulistas. Ao contrário de seu antecessor, o tucano Geraldo Alckmin, que concentrou sua agenda no interior paulista, Doria já se coloca como líder dos governadores eleitos em 2018 e interlocutor deles com o governo de Jair Bolsonaro, de quem, por enquanto, é aliado.
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Mas, para viabilizar o desejo de se candidatar ao Palácio do Planalto, o tucano vai ter de mostrar em seu segundo mandato consecutivo – ele renunciou ao cargo de prefeito da capital paulista após 15 meses – que coloca a gestão acima da política e é capaz de cumprir as promessas de modernização do Estado, enxugamento da máquina pública e ampliação das parcerias com a iniciativa privada.
Eleito com uma diferença para Márcio França (PSB) de apenas 740 mil votos ou 3% dos votos válidos na disputa mais apertada do País, Doria terá de tirar do papel promessas ousadas que dependem de concessões, como o trem intercidades, para ligar São Paulo aos municípios de Campinas e Americana.
No pouco tempo em que comandou a capital, o tucano não conseguiu privatizar o autódromo de Interlagos nem o estádio do Pacaembu, propostas de sua primeira campanha política.
Ao mesmo tempo que terá desafios importantes de gestão, como aumentar a sensação de segurança do paulista e ampliar linhas de metrô, Doria vai investir pesado na política partidária. Já se aproximou dos outros dois governadores tucanos eleitos e conseguiu apoio deles em sua ofensiva para comandar o partido nacionalmente.Até maio, quando Alckmin deixará a presidência da legenda, Doria vai tentar cacifar mais ainda seu candidato ao posto, Bruno Araújo (PE), que já defendeu uma "guinada à direita", com apoio declarado a políticas conservadoras defendidas por Bolsonaro.
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Primeiro escalão
Desde que venceu a eleição, Doria tem feitos lances políticos agressivos para comandar a sigla e se projetar nacionalmente. Na composição de seu governo, há nomes de cinco partidos, além do próprio PSDB. São eles: PSD (representado pelo seu líder máximo, Gilberto Kassab), DEM (que ficou com a vice), PP, PRB e MDB, que entrou no primeiro escalão depois que o ex-ministro Henrique Meirelles aceitou comandar a Fazenda.
Até agora o tucano já anunciou nove integrantes do governo de Michel Temer para a sua gestão – sete ministros e os ex-presidentes da Caixa e da Infraero -, que não necessariamente estão familiarizados com as demandas paulistas, mas que podem dar sustentação política nacional ao ex-prefeito em uma futura eleição. Alexandre Baldy (PP), que assumirá Transportes Metropolitanos, responsável pelo trem e pelo metrô, é exemplo dessa composição, assim como Rossieli Soares, novo secretário de Educação. O primeiro é de Goiás e o segundo, do Rio Grande do Sul.
"Nosso objetivo é gestão, não eleição, com os melhores nomes disponíveis no País. É a dimensão que o Estado de São Paulo tem, agora também na questão da eficiência", disse Doria no início do mês, ao anunciar Meirelles e ser indagado se suas indicações tinham o pleito de 2022 como pano de fundo.
Para aliados, no entanto, o nome do ex-prefeito já está lançado. Líder dos tucanos na Assembleia, futuro secretário de Desenvolvimento Regional e aliado de primeira ordem, o deputado Marco Vinholi (PSDB) não vê outro caminho. "Doria é hoje a maior expressão política do PSDB nacionalmente. O caminho natural é ele fazer uma boa gestão e disputar a Presidência", disse.
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Presidente do diretório paulista da sigla, Pedro Tobias concorda, mas pede cautela. "Doria precisa ir com calma. Discordo da precipitação dele às vezes", disse o deputado estadual. Apesar da crítica, ele admite que o partido já trata o governador eleito como presidenciável. "Sem dúvida Doria é o candidato natural do PSDB à Presidência em 2022. Ele lidera a nova geração do partido", afirmou.
Já para o ex-governador Alberto Goldman, inimigo interno de Doria no PSDB, o único papel que ele quer de fato exercer na política nacional é a Presidência da República. "O resto é passagem. O único objetivo dele é ser presidente."
Ritmo. Diferentemente da estratégia usada após eleger-se prefeito, Doria tem "acelerado menos" ao vencer sua segunda eleição. Ele até repetiu o script de convocar a imprensa quase que diariamente para anunciar nomes de seu secretariado, mas, desta vez, não demonstrou intenção de se vestir de policial, bombeiro ou qualquer outra função pública sob a gestão estadual para se tornar popular.
Em 2 de janeiro de 2016, primeiro dia útil como prefeito, Doria se apresentou como gari e lavou ruas da região central em ação que lhe rendeu fama, mas também críticas.
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Aliados ouvidos pelo Estado afirmam que neste segundo mandato estratégias desse tipo serão evitadas, mas o estilo de governar deve seguir a mesma linha, com reuniões constantes com o secretariado, anúncio de programas e viagens para divulgar negócios possíveis com a iniciativa privada. O ritmo só deve ser mais lento. E por um motivo claro: a próxima eleição que interessa Doria é só daqui a quatro anos.
"Doria é hoje a maior expressão política do PSDB. O caminho natural é ele fazer uma boa gestão e disputar a Presidência." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
*Por Estadão Conteúdo