O operário metalúrgico Gilmar Pereira, 54 anos, trabalha há 20 anos na área de fundição, mas não consegue mais desempenhar suas atividades. O morador de Joinville, no Norte de SC, começou com problemas da coluna em 2005. Fez cirurgia, mas as dores só pioraram. Hoje, são duas hérnias, além de tendinite, bursite e artrose nos ombros. Para ele, o ritmo acelerado do trabalho foi o que levou às lesões. Há dois anos está afastado do emprego pelo INSS e ainda não tem previsão para retornar ao posto.
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Depressão gera 5,9 mil pedidos de auxílio doença em SC em um ano
O operário não está sozinho. Dados da Secretaria da Previdência do Ministério da Fazenda mostram que a dor nas costas foi a doença que mais afastou os catarinenses do trabalho em 2017. Foram 7,3 mil casos – o que corresponde a quase 6% do total de 131,4 mil auxílios-doença previdenciários concedidos no ano passado no Estado. No segundo lugar aparecem as lesões nos ombros, seguidas por fratura da perna.
– Agora tomo remédios, faço fisioterapia, mas os médicos dizem que 100% não vou ficar. Eles dizem que é problema da idade, mas dependendo do trabalho, acelera esse processo – diz Pereira.
A presidente da Associação Catarinense de Medicina do Trabalho, Elisa Martinez, reforça que a incidência dessas doenças não é novidade, principalmente entre aqueles que realizam atividades repetitivas e pesadas, em esteiras de fábricas, por exemplo. Prova disso é que, nos últimos três anos, a dor nas costas lidera o ranking dos auxílios-doença no Estado.
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– Alguns estudos falam que 70% da população vai sofrer pelo menos um episódio de forte dor nas costas ao longo da vida. É um quadro do ser humano – diz.
A dorsalgia (dor nas costas) também aparece entre as principais causas de afastamento com auxílios-doença acidentários no Estado, que são decorrentes de acidente ou doença do trabalho. Ocupa o segundo lugar, com 4,9 mil benefícios em 2017, atrás apenas de fratura do punho e da mão (5,6 mil).
A fisioterapeuta Juliana Barcellos de Souza, membro da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, afirma que a principal causa de dor nas costas é a quantidade de tempo que se permanece sentado:
– A inatividade ainda é o principal fator para ter dor muscular, então tem que se mexer – diz, acrescentando que o esforço repetitivo e sem repouso também causa as dores.
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De acordo com a especialista, quando a pessoa desenvolve uma atividade e começa a sentir dor já é um sinal de alerta e, se não procurar ajuda, pode evoluir para uma dor crônica.
Médica cita avanços na área
Elisa, que é médica do trabalho, acredita que o Estado avança na prevenção dessas doenças nos ambientes de trabalho. Ela cita que, segundo o observatório do Ministério Público do Trabalho, entre 2012 e 2017, houve uma queda de 48% na incidência de doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo entre os trabalhadores catarinenses.
A médica defende que está havendo maior preocupação por parte das organizações neste sentido, além de iniciativas, como do governo federal, ao exigir laudo ergonômico para as empresas ao usar o eSocial, que ajudam neste cenário. Fora as medidas que devem ser adotadas pelas companhias, o profissional também pode incorporar hábitos que ajudam a prevenir as dores e lesões, como fazer atividade física, alongamentos e manter peso adequado.