Há sete meses, José Olímpio Rosa, Zé, vem erguendo uma casa no terreno que possui às margens da BR-282, em Alfredo Wagner. Apenas neste período, dois caminhões, um de madeira e um de cerveja, perderam o controle e acabaram tombando dentro da área. Carros, ele nem imagina quantos foram neste mesmo tempo.

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Para o comerciante de 49 anos, o acidente com um ônibus neste domingo, que matou nove pessoas, foi uma tragédia anunciada: além de ser uma curva perigosa e mal sinalizada, o único radar da região foi instalado distante do ponto mais perigoso, permitindo aos motoristas mais imprudentes retomarem a alta velocidade antes de atravessar o trecho. Já foi pior.

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Hoje, um guard-rail e uma contenção de pedras impedem que os carros menores caiam diretamente no barranco. Há cerca de dois anos, o motorista de um Corola perdeu o controle e jogou o veículo direto na ribanceira, parando a alguns metros da casa de José, mas não se machucou. Na mesma época, um taxista teria se confundido entre a BR-282 e uma marginal e morrido em um acidente.

Um caminhão de frango tombou sobre a pista, derramando toda a carga na rodovia. Relatos de situações bem diferentes – carros, caminhões, motos, ônibus – demonstram a frequência que esse tipo de acidente acontece. – Eu acredito que 99% seja imprudência. Há um radar, mas ele está muito antes da curva, e os mais inconsequentes voltam a acelerar logo em seguida.

O radar deveria estar um pouquinho antes. Infelizmente, as pessoas só se conscientizam quando mexe no bolso – comenta. Os eucaliptos em que o ônibus da Reunidas bateram durante a queda foram plantados por seu Zé há quatro anos. Sem a árvore, que provavelmente impediu que o veículo continuasse capotando, o acidente poderia gerado ainda mais vítimas.

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Por toda a região, objetos arremessados do ônibus neste domingo se misturam a garrafas quebradas, estilhaços de vidros, pedaços de para-choques e outros resquícios de acidentes anteriores. Mesmo assim, Rosa não tem planos de vender o imóvel. Depois de quase um ano de obras, com diversas partes finalizadas, se livrar da casa seria uma frustração nos planos:

– Eu adoro sítio, como poderia vender o meu depois de tanto trabalho? Aquilo ali é minha vida.

Dono de uma agropecuária no Centro de Alfredo Wagner, José Rosa diz que conhece bem a rodovia BR-282 e que a situação é problemática em vários pontos. Entretanto, o Km 109 seria um dos mais perigosos – uma curva fechada logo após uma reta comprida, descida abaixo, que permite até aos carros menos potentes alcançar velocidade rapidamente.

– Será que agora vão resolver? Ou vai precisar morrer mais gente? – questiona o dono do terreno.

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Ele não é o único a reclamar. Adailto de Souza, de 20 anos, mora na região e tem sido elevado a herói pelos habitantes da vizinhança por ter sido o primeiro a acudir as vítimas do acidente com o ônibus da Reunidas. Mas os acidentes são tão frequentes, conta ele, que o fato deste domingo não o surpreende:

– Quando não havia guard-rail, vários carros acabavam saindo da rodovia e caindo direto na ribanceira. Já perdi as contas de quantos motoristas nós precisamos ajudar.

::: Motorista pode ter passado mal antes de acidente, relata passageira

Entenda o acidente:

Primeiro bombeiro a chegar no local relata o resgate

Veja, em vídeo, como ficou o ônibus:

Veja imagens do acidente:

Veja no mapa o local que o ônibus caiu da ribanceira: