Anderson Baumgartner é simpático e tem boa conversa. Mas foi o olhar aguçado e a capacidade acima da média para entender o mercado que fizeram do itajaiense um dos maiores nomes do Brasil quando o assunto é lançamento e gestão da carreira de modelos. Sócio e diretor da Way Model, uma das mais importantes agências do país, ele reúne um catálogo com mais de 300 nomes que inclui rostos como os de Alessandra Ambrósio, Carol Trentini, Lea T e Marlon Teixeira.

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Diz que muito de seu talento é intuição. Mas não nega que o trabalho duro e a disposição que tem para transformar uma garota em uma supermodel fazem a diferença.

Morando em São Paulo, Anderson mantém o coração e a família em Itajaí, onde passa as férias e concedeu esta entrevista. Desta vez, passou uma temporada na casa de praia do irmão, Fábio Bartelt, que é casado com a top Carol Trentini. Os dois construíram um pequeno oásis na praia de Estaleirinho, em Balneário Camboriú.

Anderson declara seu amor por Santa Catarina, fala o quanto sua formação foi importante para seu sucesso e revela: ainda vai voltar a viver aqui.

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Como começou sua relação com a moda?

Nasci em Itajaí, estudei aqui e pensava em fazer jornalismo na Univali. Descobri as modelos através das supermodels nos anos 1990, Cindy Crawford, Claudia Shiffer, Linda Evangelista, Kate Moss, Naomi. Principalmente a Cindy Crawford, que era minha musa. Fazia meu caderno com fotos dela, que eu mesmo recortava. Aí conheci duas meninas de Itajaí que chamavam Gisele, as duas. Elas tinham uma agência de modelos, faziam uns trabalhinhos, e fui trabalhar com elas como voluntário com 15 anos, ajudando a organizar desfiles. Minha mãe sempre falando “isso não dá dinheiro, não enche barriga”. Quando foi lançado o Morumbi Fashion (atual São Paulo Fashion Week), do Paulo Borges, o Brasil inteiro falando, era a primeira semana de moda brasileira e eu pensando “como vou fazer para ir”? É até feio falar, mas eu queria tanto aquilo que me passei por imprensa. Consegui cinco credenciais. Mas e o dinheiro para ir? Não tinha… como iríamos para São Paulo sem estrutura nenhuma, eu e meu irmão?

O Fábio esteve com você desde o começo, então?

Eu carregava ele para todo lado. Eu tinha uma amiga chamada Zizi Graff, que era dona da Giorama (galeria de lojas em Itajaí). Ela tinha uma marca chamada Lazê, e eu perguntei se ela queria assistir a um desfile no Morumbi Fashion. Eu disse “tenho as credenciais, tu me leva e eu te dou a entrada”. Essa troca deu muito certo. Assistimos a todos os desfiles na primeira fila. Era uma sensação tão boa, que não tinha como eu fazer outra coisa na minha vida. Eu não saberia. Passei a organizar o concurso Elite Model Look, eu fazia a fila do desfile. Isso em 1996, 1997. Consegui inscrever uma menina de Itajaí, Daniela Cidral. Ela passou e foi morar em São Paulo. Fiquei muito orgulhoso. Um certo dia eu estava muito desanimado porque precisava ganhar dinheiro, não tinha como me manter. Estava com 20 anos, havia pressão da família para que trabalhasse, fizesse faculdade. Comentei isso com uma amiga daqui, Claudia Tacques, que trabalhava com a Zizi. Passou o Natal, o Réveillon de 1997 para 1998, e ela voltou com um envelope para mim. Quando abri tinha R$ 250 dentro e estava escrito – vai pra São Paulo.

Foi um presente de Natal?

Foi um presente da vida. Até hoje eu faço um exercício: se o pior que puder acontecer for voltar para onde eu estou, eu vou. Liguei para a Daniela Cidral e pedi “posso ficar uma semana na sua casa”? Peguei um ônibus aqui num domingo à noite, dia 28 de janeiro de 1998. Fui à Elite, que era a agência do concurso que eu ajudava a organizar, e procurei o diretor de new faces na época, o Zeca de Abreu, que por coincidência hoje é meu sócio. Fui com a cara e a coragem, se ele dissesse que tinha uma vaga para motoboy, eu aceitaria. Mas quando cheguei, ele não trabalhava mais lá. Estava no lugar dele uma outra moça. Pedi para falar com ela, me mandaram esperar por cinco horas e ela não me atendeu. Na terça, mais cinco horas de espera. Quando chegou sexta-feira ela me viu e falou para voltar em abril. Fiquei arrasado. Nesse mesmo dia, Zeca convidou a Daniela para jantar e fui junto. Me abri, ele me deu um endereço e disse que estava ajudando um francês a abrir uma agência no Brasil, chamada Marilyn. Comecei como assistente do assistente e aprendi todos os departamentos. Atendia ônibus de candidatas- e o medo de errar? De deixar uma passar batido? Graças a Deus nunca aconteceu.

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Você sempre teve um olhar estético?

Sim, não sei explicar por quê. Não existe um perfil, existe uma beleza que pode ser tanto comum quanto incomum. Posso gostar de uma menina que é o patinho feio da escola. Assim como posso gostar da rainha da Marejada, que é uma beleza óbvia. Sempre tive esse bom gosto. Eu prestava atenção, porque havia a Cindy Crawford, entre as supermodels, que era aquela modelo comercial linda, óbvia. E tinha a Kate Moss, que era aquela menina quase bizarra para a época. Eu sabia que tinha um diferente que era certo, e um belo que era o óbvio.

O que você ainda espera em sua carreira?

Profissionalmente falando, quero abrir uma Way no mundo inteiro, em Nova York, Londres, em Paris. Aprendi com a vida a ter ambição, não ganância. São duas coisas diferentes. Admiro quem tem ambição e tenho pena de quem tem ganância. Sou muito ligado ao Fábio e quando cheguei a São Paulo uma das minhas principais dificuldades que eu tinha era ele ter ficado aqui (em Itajaí). Eu não tinha condições financeiras para bancar nós dois. Quando me estabilizei, nove meses depois, levei ele para lá comigo. Aí me senti realizado, estava com meu irmão e fazendo o que eu gostava.

O que tornou a Way a maior agência de modelos do país? Qual foi o pulo do gato?

Às vezes eu penso nisso. Acredito que não existe uma fórmula, nem uma regra a seguir. Trabalho com as mesmas pessoas há muito tempo, tenho um time que entende exatamente o que eu penso. E modéstia à parte, entendo muito do mercado de modelos, sei exatamente o que vai acontecer de bom ou ruim para uma modelo, o que vai dar certo e o que não vai. Sempre fui 100% no meu trabalho. Ter uma agência de sucesso é muito o trabalho que se faz com as modelos, porque o sucesso delas é o meu. É uma questão de personalidade e até de se vestir. Às vezes a modelo se veste de uma forma que o mercado não absorve. No Brasil elas têm que se vestir de um jeito, em Nova York de outro, e em Paris de outro.

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Quais modelos que você se orgulha de ter lançado?

São muitos, o Marlon Teixeira, a Carol Trentini, que é a modelo mais profissional que trabalhei em toda minha vida, nunca falou sim ou não para um trabalho sem o meu aval. Lea T, num país que vende que somos livres e leves da boca para fora, trabalhar com uma modelo que não é nem gay, é transexual, algo muito mais agressivo para um público que não tem a consciência do que é isso, e fazer com que essa mulher seja respeitada, é algo de que tenho muito orgulho. Eu fui atrás dela. Ela mora na Itália, se criou lá, fez uma campanha da Givenchy e saiu uma nota por aqui. Óbvio que gerou curiosidade em todo mundo. Quando descobri que era brasileira, fiquei louco. Falei “preciso dessa mulher”. Tenho muito orgulho dela e de outras também, muita gente, como Alessandra Ambrósio, Candice Swanepoel, uma africana que o Brasil quase entende como se fosse brasileira. Tenho orgulho de muitas.

Acontece de pessoas que saíram de cidades pequenas e alcançam o sucesso esquecerem das origens. Por que você mantém essa relação tão próxima com Itajaí?

Primeiro pelo amor que eu sinto por isto aqui. Quando eu ficar velho, quero morar aqui. Foi minha formação, onde aprendi a ser quem eu sou. As pessoas me elogiavam muito pela sinceridade, pela humildade, e eu levei isso daqui. Não estou falando que todo mundo aqui é assim, mas minha criação foi. Em São Paulo ou numa reunião em Nova York, Londres, Paris, onde eu estiver, é como se a educação com as pessoas e o jeito de tratá-las numa negociação eu tivesse aprendido aqui. Foi daqui que saíram todos os meus princípios e o meio em que eu trabalho não mudou meu caráter. Continuo sendo o mesmo Dando que saiu de Itajaí 15 anos atrás. Eu sei que sou. Quando cheguei a São Paulo uma pessoa me disse “você é muito bonzinho, não vai dar certo”. Esse é um meio em que você tem que ser um pouco mais perigoso. Minha resposta foi “eu sou assim, se o meio me aceitar desse jeito eu continuo, senão volto para Itajaí”. Nunca precisei enganar ninguém. Tenho credibilidade no mercado porque sempre fui honesto com todo mundo.

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Quinze anos é um período muito curto, como sua mãe viu sua trajetória?

Minha mãe tem muita confiança na gente desde pequenos. Quando saíamos de casa, ela falava “jamais façam o que eu não faria”. É uma frase que levo sempre comigo. Quando falei que iria a São Paulo ela foi a pessoa que mais me apoiou. Até quando eu estava aqui e não ganhava nada, ela me dava dinheiro para a condução quando eu precisava ir a Balneário Camboriú. Ela só me aconselhava, dizia “meu filho, você precisa arrumar alguma coisa que dê dinheiro, para arrumar as suas coisas”. Mas ela nunca disse não vá. Sinto que ela tem muito orgulho de mim, assim como eu tenho orgulho dela. Isso me deu muita segurança quando decidi ir para São Paulo, porque eu sabia que tinha um porto seguro aqui.

Essa relação é com toda a região?

A gente morava em Itajaí e no fim de ano íamos a Itapema na casa do meu tio. Ficávamos eu e o Fábio morgando por três meses. Faz tempo que não vou, mas o primeiro verão que a gente passou com a Carol Trentini foi em Itapema. Ela é de Panambi, estava começando a aparecer na carreira e podia se dar o luxo de passar Natal e Réveillon na praia, nove anos atrás. Carol alugou um apartamento ao lado do nosso em Meia Praia. A gente também já foi a Bombinhas, mas sempre aqui na região. Nunca passei Réveillon fora de Santa Catarina. Natal uma vez só passei fora, na casa do Jô Soares, eu e o Fábio. Passamos a ceia na casa dele e voltamos dia 25 de manhã.

Você teve influência também na escolha da Carol de casar em Itajaí?

Tivemos. Quando Fábio pediu ela em casamento, na casa do Zeca, meu sócio, voltamos para casa e ficamos conversando sobre tudo. Eu participando, afinal, entrei com ela na igreja. Itajaí ficava no meio do caminho para todo mundo. Para as pessoas que vieram de fora do Brasil havia o Aeroporto de Navegantes. Para quem era do Rio Grande do Sul era mais perto chegar a Itajaí do que a São Paulo. Achamos que ficou bom para todo mundo. E a gente nasceu aqui! Entrar com ela na Igreja Matriz, que simboliza minha cidade, foi um dos dias mais emocionantes da minha vida. Vou lembrar até hoje que a gente chegou de carro, eu e ela, e tinha umas 300 pessoas na frente da igreja, curiosos. Nunca mais vou esquecer. Lembro que teve uma época muito difícil, meu avô que ajudava muito a gente estava muito doente, eu e o Fábio naquela situação de “o que vamos fazer da vida”, e minha mãe falou “amanhã vamos todos à missa”. Lembro que no caminho minha mãe foi explicando, dizendo que a gente tinha que agradecer e pedir um rumo. Foi muito marcante porque foi nessa missa que eu pedi que se abrissem portas. Por isso que acho que quando tenho alguma coisa, lembro da igreja.

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