O dono da empresa Serrana Engenharia, pivô da Operação Mensageiro, disse que a empresa teve problemas em “30 ou 40 cidades” em que atuava, número que representa cerca de 25% dos contratos com os municípios. A afirmação foi feita em audiência na manhã desta terça-feira (30), no Fórum de Joinville.
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Delator do escândalo do lixo em SC vai devolver R$ 50 milhões
A investigação apura supostos pagamentos de propina em contratos de coleta de lixo e já resultou na prisão de 16 prefeitos de cidades de SC. As primeiras audiências dos processos da Operação Mensageiro ocorrem nesta semana, no Norte de SC.
O empresário citou os “problemas” nas cidades ao defender a licitude da atuação da empresa nos serviços de coleta de lixo.
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— Temos 135 cidades em que trabalhamos. Dessas, em 30 ou 40 tivemos problema com isso (pagamento de propina). Os outros trabalhos são lícitos. Agora já estamos com nosso compromisso de colaboração, toda a nossa equipe está colaborando — afirmou.
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Propina paga a cunhado de prefeito e notas fiscais frias
As audiências desta semana são referentes ao processo contra o prefeito de Itapoá, Marlon Neuber (PL). Durante o depoimento, o dono da Serrana detalhou como ocorreria o pagamento de propina ao agente público.
Segundo o empresário, a Serrana atuava com serviços de coleta de lixo e concessão de distribuição de água em Itapoá desde 2000. O primeiro contato com Marlon teria ocorrido em 2016, antes de ele se eleger prefeito. Naquele ano, teria ocorrido um pagamento de R$ 150 mil — que, segundo o prefeito, o valor teria ocorrido como doação para campanha eleitoral.
A partir de 2017, quando assumiu o cargo, o prefeito teria solicitado R$ 120 mil por ano para manter os contratos, valor que equivale a R$ 10 mil por mês. Os pagamentos teriam sido mantidos até 2021.
Conforme o depoimento, os pagamentos eram feitos para um homem chamado Amilton — conforme a investigação, ele seria cunhado do prefeito de Itapoá.
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— Ele esteve junto com o prefeito na empresa se apresentando, que receberia o valor. E a partir dali passamos este valor e entregava para essa pessoa em Brusque — afirmou o empresário.
A Serrana atua em Itapoá desde os anos 2000 e mantinha cinco concessões diferentes no município. No decorrer do mandato de Marlon, ele teria solicitado percentuais entre 5% e 10% de contratos mantidos pela empresa. Em 2022, os valores não teriam sido pagos porque o prefeito teria “medo de ser preso”, segundo o empresário.
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O proprietário da Serrana também afirmou que ele mesmo chegou a entregar propinas a agentes públicos antes de incluir o “mensageiro” na atuação do grupo. O empresário que passou a ter a missão de distribuir as propinas aos políticos era ex-funcionário da Serrana, “uma pessoa de confiança, mas não teria vínculo com a empresa quando entrou no esquema — sendo pago “por fora”.
— Ele sabia que levava dinheiro para prefeito e sabia que era propina — afirmou o empresário.
Entre as maneiras que a empresa encontrava para justificar os pagamentos ilegais aos prefeitos e agentes públicos estaria, segundo o dono da Serrana, a obtenção de notas fiscais frias. Um exemplo citado por ele no depoimento seria o de uma oficina que arrumava caminhões da empresa.
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— Além de arrumar os caminhões, pedíamos uma nota maior. Uma nota de “arrumação” (dos veículos) e uma nota “inventada” — disse o investigado, afirmando que os fornecedores não saberiam que as notas seriam destinadas a pagamento de propina.
Outra ponto citado durante o depoimento do dono da Serrana é que o valor era repassado ao prefeito de Itapoá para “manter os contratos” e quando o contrato vencia e a prefeitura abria os processos licitatórios, a empresa já enviava um edital pronto, “não ferindo a legislação, mas com interesse de nos favorecer”. O empresário ainda disse que, dentro da Serrana, existia um grupo de funcionários que foi escalado “para viabilizar o pagamento das propinas”.
Contraponto
A reportagem procurou o advogado do empresário da Serrana, mas a defesa informou que só se manifestará no processo.
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