Contra todos os prognósticos, Donald Trump ganhou as eleições e será o novo presidente dos Estados Unidos pelos próximos quatro anos – o 45º da história. O republicano bateu a líder nas pesquisas, a democrata Hillary Clinton, em uma das mais acirradas disputas da história pela Casa Branca.
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O triunfo do empresário em estados decisivos como a Flórida, Ohio e Carolina do Norte e arrancadas surpreendentes em redutos tradicionais do partido adversário como Iowa desmontaram a vantagem da oponente.
Como é tradição, os primeiros Estados a fechar a votação, Indiana e Kentucky, deram maioria a Trump. Ele continuou na liderança com boa folga sobre a ex-senadora até que às 3h (hora de Brasília) sua eleição tornou-se irreversível.
A conquista do país mais poderoso do mundo pelo milionário representa também o triunfo de uma postura que, pelo menos no discurso, mostrou-se mais conservadora.
Entre as medidas que ele já anunciou durante a campanha estão o recrudescimento à política de imigração e o aumento das taxas sobre os produtos importados da China.
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Indiferença ao pleito foi destaque
Mas o que mais chama a atenção é a indiferença com que os americanos tratam um dia em que todo o planeta está ligado no seu país. Algumas pistas ajudam a entender esse comportamento.
Primeiro, o voto não é obrigatório. Embora o Pew Research Center (PRC) estime que 225 milhões de pessoas – de uma população de cerca de 319 milhões – estejam aptas a votar, pela média histórica quase a metade nem se dá ao trabalho de comparecer às urnas.
Segundo, o dia D foi na terça-feira, mas em muitos Estados o processo começou bem antes. Illinois, por exemplo, onde fica a terra natal de Hillary, Chicago, permitiu que seus cidadãos votassem desde o dia 27. Foi o que fez a atendente de uma loja de chá Samantha Montero, 26 anos. Cumprido o seu direito (e não dever) com antecipação, ela ontem trabalhou normalmente.
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– Votei em Hillary muito mais para ser contra Trump do que por acreditar nas promessas dela. Mas ele me assusta com sua postura machista – diz, sem se descuidar de sua tarefa vespertina: com uma mesa na calçada em frente ao estabelecimento no qual é empregada, a moça distribuía copinhos gratuitos com duas variedades da bebida que vende.

Campanha em uma das avenidas mais movimentadas de Chicago
A ação, aliás, era o único vestígio das eleições na Michigan Avenue, uma das vias mais movimentadas da cidade. A pessoa interessada em provar chá preto com limão ou de frutas era recebida com um cartaz com a inscrição I voTEAd today – um trocadilho intraduzível em português, misturando chá em inglês (tea) e o verbo votar declinado no passado (voted), completado com a palavra que significa “hoje”.
O assistente social Norman Bolz, 61 anos, mostrou-se ainda mais desiludido. Morador de Seattle, ele está em Chicago fazendo turismo. Conta que sua vontade era votar em Bernie Sanders, o pré-candidato com uma plataforma mais progressista, derrotado por Hillary nas prévias do partido. Como era impossível, foi de Hillary mesmo – e não economiza no julgamento que faz do republicano:
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– Trump? Sem chance! Ele ofende as mulheres, os imigrantes, os deficientes. Todo o seu discurso é feito com base no medo e na raiva. Sinceramente, tenho muito medo do que pode acontecer caso esse homem seja eleito.
Claro que nem todos pensam assim, se não o milionário e ex-apresentador do reality show O Aprendiz na TV dos Estados Unidos não chegaria à reta final com chances reais de se tornar o inquilino da Casa Branca. O que afasta Bolz é justamente o que atrai o taxista Arturo, 32 anos. Nascido no México, veio morar com a família nos Estados Unidos ainda bebê.
– Hillary é uma mentirosa, Obama é um estúpido. Eles estão no poder há oito anos e o que fizeram pela segurança? Nada! Gosto de Trump porque ele tem huevos. Com ele, bandido vai ser preso ou morto – prega, usando um termo que dispensa tradução para ressaltar o que avalia como coragem de seu candidato.
Nem uma das medidas mais polêmicas anunciadas por Trump – que irá expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais – é capaz de sensibilizar o motorista. Para ele, quem será afetado com isso serão os trabalhadores sem qualificação, que vêm para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor e acabam na mendicância.
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