Quem é de Braço do Norte, no sul de Santa Catarina, já deve conhecer a Dona Hermídia – definida por seu criador, o ator e radialista Maurício Goltz, como “a versão paraguaia” de Dona Hermínia, personagem imortalizada no teatro e no cinema por Paulo Gustavo. A ideia de criar Hermídia nasceu depois que Maurício assistiu Minha Mãe é Uma Peça 2 – e saiu do cinema fascinado.

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– Eu já tinha visto o primeiro, mas o segundo filme me deixou simplesmente deslumbrado, tocado mesmo – ele conta. – Fiquei muito impressionado com o Paulo Gustavo. Um homem que interpretava uma mãe tão incrível, que representa tantas mães brasileiras… Eu fiquei com ele na cabeça, já saí do cinema imitando.

Maurício diz que sempre foi “o bobo da turma, que gostava de fazer palhaçada, brincadeira, teatro”; mas que, apesar de na época já trabalhar em uma rádio, com edição de áudio e vídeo, não pensava em ser locutor: tinha vergonha da própria voz, que achava muito feminina e anasalada.

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– Em 2017 a rádio onde eu trabalho me deu a oportunidade de participar de um programa, e eu decidi criar um personagem para fazer essa participação: uma mulher, por trás da qual eu me esconderia – Maurício narra. – Inspirado no Paulo Gustavo, eu decidi que essa mulher seria a dona Hermídia, uma “versão paraguaia” da dona Hermínia. Mas eu fiz brincando; foi uma participação de cinco minutos. Só que, no dia seguinte, o telefone da rádio não parava de tocar, com as pessoas perguntando quem era Hermídia. Aí eu comecei a participar diariamente do programa, interpretando essa personagem.

Boa parte do público acreditava que Hermídia era de fato uma mulher – e, já que Maurício não mostrava o rosto, o mistério na cidade permaneceu por seis meses: quem é Hermídia? Até que uma loja se interessou em contratar Hermídia como garota-propaganda. O intérprete da personagem, a princípio, hesitou, mas depois resolveu aceitar a proposta.

O mistério na cidade permaneceu por seis meses: quem é Hermídia?
O mistério na cidade permaneceu por seis meses: quem é Hermídia? (Foto: Arquivo pessoal)

– Foi aí que eu tive que criar o visual da minha Hermídia – ele explica. – Me inspirei muito no Paulo Gustavo e na Hermínia, com as saias rodadas, as camisas, os bobes na cabeça… E comecei a fazer propagandas em lojas, participações em eventos: eventos com idosos, com crianças, em escolas. Com a pandemia eu tive que me reinventar, então passei a trabalhar pelo Instagram, fazer vídeos, divulgar produtos ali. Desde 2017 eu venho aperfeiçoando minha Hermídia, no vocabulário, no figurino. Minha referência seguiu sendo sempre o Paulo Gustavo, mas eu fui adicionando meus toques.

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Maurício brinca que Hermídia é “a versão solteira” de Hermínia:

– A minha Hermídia ainda não tem filhos – diz. – Ela namora o Bento, mas não é casada. É marketeira, influencer. Na Hermínia é muito forte a coisa da maternidade, né? Acho que a Hermídia é a minha versão solteira da Hermínia.

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– O riso é um remédio para a alma, ele cura a gente – declara Maurício, sobre trabalhar com o humor. – No meio de tanta tristeza, de tanta notícia ruim, a gente vem na contramão e mostra o lado bom da vida. Eu recebo recados do tipo “escutei seu programa e melhorou meu dia”, “vi o seu vídeo e me fez rir, eu estava triste o dia inteiro”. Cada mensagem dessas é uma gotinha de combustível para a gente continuar fazendo o que faz. Problemas todo mundo tem, né? Então é muito bom poder fazer as pessoas rirem e esquecerem esses problemas por alguns momentos.

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Casado com outro homem e com o sonho de adotar filhos, Maurício via muito de si em Paulo Gustavo; e acha que o ator e humorista, morto em consequência da covid-19, jamais vai deixar de ser uma referência para a arte nacional.

– A morte dele foi um choque para todo o país. O mundo perdeu um artista incrível, maravilhoso. E tão novo… – lamenta. – Paulo Gustavo pregava o amor, quebrava preconceitos. A Hermídia nunca sofreu preconceito. O Paulo Gustavo fez uma abertura nacional para essa personagem que eu criei regionalmente, e a Hermídia sempre foi muito aceita e sempre recebeu muito carinho do público. A morte dele faz a gente se revoltar com o país, com o governo, com a situação que a gente está vivendo. E a obra dele é tão presente que é até difícil acreditar que isso aconteceu. Ele sempre vai estar vivo dentro da gente.

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