Dona Dorvalina Laureano Dutra, 76, ou Dona Dodô, como é conhecida pelos vizinhos do bairro Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis, é uma daquelas mulheres de fibra, com boas histórias para contar. Manezinha da Ilha e muito devota, diz que nunca perdeu uma Procissão do Nosso Senhor dos Passos e lembra com saudade quando havia uma também para Santa Catarina.
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A história de fé da Dona Dodô tomou forma física quando fez uma promessa de construir uma capela para Iemanjá, na praia da Armação, Sul da Ilha.
Viúva aos 32 anos e mãe de seis filhos, ela fez faxina e trabalhou durante muito tempo com serviços gerais. No final da década de 80, Dona Dodô se viu precisando de dinheiro para construir uma casa para morar com os filhos. Foi quando deram a ela a ideia de vender milho na praia. No primeiro dia de trabalho, Dona Dorvalina fez uma promessa: se conseguisse construir a casinha dela, iria fazer a capela para Iemanjá. A venda de milho foi cansativa, mas deu certo.
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– O segredo era colocar a casca do milho para ferver na água, aquilo dava um cheiro tão bom que era melhor que o produto – confessou.
História de luta
Por oito verões seguidos, ela acordava às 5h, saía da Costeira para o Centro, onde comprava o milho, e de ônibus ela seguia até a Armação, onde o carrinho a esperava, guardado na casa de uma senhora, que também cedia a água para cozinhar.
– Às vezes eu comprava no caminhão, às vezes no mercado. Quando o pessoal do caminhão era bacana, eles deixavam o milho pra mim na parada de ônibus – recorda.
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Sobre a clientela, ela confessa que os argentinos são os melhores.
– Eles lambuzavam o milho na manteiga, dava pras crianças e ela derrubavam. Aí, eles vinham e compravam outro. Argentino é muito mão aberta – disse. Mas completou a análise dos clientes afirmando que gaúcho é pão duro, não gosta de gastar na praia, e catarinense é farofeiro, leva tudo de casa.
Em 2001, poucos anos após de ter alcançado a graça – que inicialmente era para ser uma casa de dois cômodos, mas, no final, virou uma com três quartos, sala, cozinha e toda murada – Dona Dorvalina foi até a prefeitura pedir autorização para construção da capela.
Apelo pela preservação
Com a papelada em mãos, Dona Dodô mandou construir a capela, pegou uma imagem de Iemanjá que tinha em casa e levou para as campanhas da Armação. Arrumou tudo e voltou para casa.
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Primeira capela construída no local / Foto Reprodução
Pouco tempo depois, um sobrinho avisou que alguém havia destruído a capela. Quebraram até a imagem.
Revoltada, ela foi atrás de saber quem havia feito uma “maldade” daquelas. Soube, através de comerciantes da praia, que a pessoa que fez tinha ficado adoentada.
– Quem fez isso se arrependeu, porque logo depois apareceu uma outra capela, que eu não tenho certeza quem colocou, mas acho que foi a mesma pessoa que destruiu da primeira vez – desconfia a senhora.
Só que esta segunda capela também foi destruída por autor desconhecido. Uma terceira foi posta no lugar, a que permanece até o momento, mas não está livre do vandalismo.
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Ao saber que haviam queimado novamente a capela na semana passada, Dona Dodô comprou material e, no último domingo, 28, foi com o filho até lá para reformá-la.
– Comprei tinta, uma outra imagem pra colocar lá e uma placa pedindo que não acendam vela na capela. Vamos ver se agora fica.
Ela quer a ajuda da comunidade da Armação e visitantes para zelar por aquilo que foi uma promessa sua, mas que pode servir de alento para qualquer um que precise e tenha fé.
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– Eu já disse para ela: “A senhora se cuide, a senhora tem poder, então, se alguém vier lhe fazer mal, castigue, mas se for para pedir o bem, proteja” – explicou enquanto fazia uma prece ao pé da capelinha.