*Por Peter Eavis e Steve Lohr

Os titãs tecnológicos dos EUA já voavam alto antes da pandemia do coronavírus, ganhando bilhões de dólares por ano.

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Agora, a situação os elevou a novos patamares, colocando a indústria em posição de dominar os negócios dos EUA de uma forma que não se vê desde os tempos das ferrovias.

As ações da Apple, da Amazon, da Alphabet, da Microsoft e do Facebook, as cinco maiores empresas de capital aberto dos EUA, subiram 37 por cento nos primeiros sete meses deste ano, enquanto todas as outras ações do índice S&P 500 caíram seis por cento, de acordo com o Credit Suisse.

Essas cinco empresas agora constituem 20 por cento do valor total do mercado de ações, um nível não visto para um único setor há pelo menos 70 anos. O valor de mercado da Apple, o mais alto do grupo, atingiu recentemente US$ 2 trilhões.

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O domínio das empresas de tecnologia no mercado de ações é impulsionado por seu alcance sem precedentes em nossa vida, moldando o modo como trabalhamos, nos comunicamos, compramos e relaxamos. Isso só se aprofundou durante a pandemia, e, à medida que as pessoas compram com mais frequência na Amazon, clicando em um anúncio do Google ou do Facebook ou pagando por um iPhone, as empresas recebem uma parcela maior dos gastos na economia e obtêm lucros cada vez mais altos. É por isso que os investidores migraram para essas ações este ano, em detrimento das dezenas de empresas que lutam na crise de saúde e apostam que sua posição será inabalável por anos.

“A Covid foi a crise positiva perfeita para esses caras”, disse Thomas Philippon, professor de finanças da Universidade de Nova York.

A penetração mais profunda das empresas na vida americana pode ser vista em números do tráfego web da Alphabet, do Facebook e da Amazon, que possuem os quatro sites mais visitados nos EUA. O tráfego nesses sites era imenso antes da pandemia, mas as visitas diárias aumentaram acentuadamente em março, quando as compras on-line começaram, com o Facebook subindo 15 por cento e o YouTube dez por cento, de acordo com a SimilarWeb, uma provedora de dados on-line.

O tráfego web tem se mantido estável no topo, com mais de um bilhão de visitas diárias aos quatro grandes sites apenas nos Estados Unidos. E o mesmo padrão é evidente em todo o mundo. O Facebook informou que o número de usuários diários de seus serviços globalmente em junho foi 12 por cento maior do que um ano antes.

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Os negócios da Amazon, que já afetavam os concorrentes no e-commerce e na computação em nuvem, se tornaram ainda mais importantes para empresas e lares. Suas ações subiram mais de 50 por cento em relação à sua alta pré-pandemia, ressaltando quanto os investidores acreditam que ela se beneficiou da quarentena.

Críticos afirmaram que as empresas cresceram em parte por causa de uma série de práticas que sufocam a concorrência. Os reguladores europeus estão investigando se a App Store da Apple quebra as regras de concorrência. Os reguladores dos EUA analisam se as grandes empresas de tecnologia cometeram abusos antitruste ao adquirir outras empresas. Alguns estudiosos antitruste acreditam que o crescimento das empresas que dominam o setor levou a salários estagnados e ao aumento da desigualdade. Em julho, executivos-chefes da Big Tech foram interrogados por membros do subcomitê antitruste da Câmara dos EUA.

“Qualquer ação única de uma dessas empresas pode afetar centenas de milhões de pessoas de maneira profunda e duradoura. Simplificando: elas têm muito poder”, disse o representante dos EUA David Cicilline em sua declaração de abertura na audiência.

De acordo com alguns especialistas em concorrência, a concentração em algumas indústrias é maior hoje do que no fim do século XIX, quando o Congresso aprovou uma legislação antitruste abrangente para conter o poder das ferrovias.

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Jan Eeckhout, professor de Economia da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, na Espanha, informou que, em 1929, a Sears e a A&P representavam três por cento das vendas no varejo, situação que despertou preocupação no Congresso e ajudou a dar origem a leis antitruste adicionais em 1936.

Hoje, segundo ele, o Walmart e a Amazon respondem juntos por 15 por cento das vendas no varejo.

Em um estudo recente, pesquisadores da Rand Corp. usaram arquivos públicos, outros dados e técnicas de inferência estatística para modelar as conexões entre as principais empresas. O exemplo foi a Amazon, com seu e-commerce sendo usado por milhares de varejistas, além de seu braço de computação na nuvem, a Amazon Web Services, que suporta inúmeros negócios on-line.

Em um dia típico de trabalho de casa, uma pessoa pode se comunicar com colegas usando o Slack, assistir a videoconferências pelo Zoom, pedir comida pelo DoorDash e à noite assistir a um filme na Netflix, comentou Jonathan Welburn, um dos principais autores do estudo da Rand. Todos administram seus negócios na Amazon Web Services.

“A Amazon é um hub digital extremamente central, e simboliza o rumo que nossa economia tomou”, disse Welburn.

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