O dólar bateu nos R$ 2 nesta semana pela primeira vez desde 2009 e não deve ceder no curto prazo. Notícia ruim para quem tem viagem marcada ao exterior, mas agradável aos ouvidos de exportadores e do Planalto. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, falou que ele e “a torcida do Flamengo” estão satisfeitos com o novo patamar da moeda americana.
Continua depois da publicidade
A alta do dólar mexe no preço dos produtos importados, mas respinga também em itens menos óbvios, como óleo de soja e açúcar, cuja cotação é definida no mercado internacional, e pode gerar inflação.
No momento, a principal razão da desvalorização do real é a mesma que ameaça rachar a zona do euro – a Grécia. Os investidores globais estão correndo para a moeda americana, considerada livre de risco. E o real foi um pouco mais afetado do que outras moedas.
José Márcio Camargo, professor de Economia da PUC-RJ, explica que, ao forçar a redução nos juros, o governo federal interferiu na política econômica e gerou incertezas, o que fez dinheiro estrangeiro deixar o país.
Os exportadores, que representam fatia de 20% na produção industrial nacional, não reclamam. Dólar mais alto significa mais competitividade. Exemplo: um produto que custa R$ 10 sairia por US$ 6,48 com a moeda americana na menor cotação de 2011 (R$ 1,543). Ontem, o mesmo produto seria vendido por US$ 4,99.
Continua depois da publicidade
Mas nem tudo são flores. Os exportadores fazem planejamento financeiro, e quando há alteração abrupta tudo cai por terra. O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, Fábio Farias, observa que os contratos são fechados para entregas a serem feitas em dois ou três meses.
Para se proteger, as empresas usam um instrumento financeiro chamado de hedge, em que se prevê o preço futuro do dólar. Dependendo da oscilação, os exportadores podem perder dinheiro.
O importante é encontrar um ponto de equilíbrio, afirma Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios. Ele lembra que petróleo e outras matérias-primas (as commodities) são cotados em dólar. A alta delas criará uma pressão inflacionária. A exportação também pode ter o mesmo efeito, ressalta Celso Grisi, professor de Economia da USP. Isto porque a quantidade de produtos no mercado interno diminui e o volume de dinheiro aumenta – ou seja, o consumo sobe e a oferta cai.
O problema da inflação é que ela obrigaria o governo a interromper a queda na taxa básica de juros para segurar o consumo. Grisi lembra ainda que parte considerável dos itens que entram no cálculo do IGP-M está atrelada ao dólar. Este indicador de inflação serve de referência para reajustes de aluguel e energia, que pressionam preços.
Continua depois da publicidade
Se o dólar se mantiver na casa dos R$ 2, Grisi estima acréscimo de até um ponto percentual na inflação.