O mercado financeiro viveu nesta segunda-feira um dia que não poupou sequer um continente.

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Atividade industrial mais fraca na China e nos Estados Unidos, preocupação com países emergentes e dados negativos na balança comercial brasileira se combinaram para provocar o maior tombo da Bolsa de São Paulo (Bovespa) nos últimos sete meses: 3,13%.

Com o recuo, a Bovespa fechou em 46.147 pontos, menor marca desde 12 de julho do ano passado. Nenhuma das ações que compõem o índice principal da Bovespa conseguiu fechar no azul. Um dos principais papéis na bolsa brasileira, Petrobras PN despencou quase 6%. Desde o começo do ano, a Bovespa acumula baixa de 10,37%.

Com o aumento na tensão, investidores procuraram reduzir o risco de suas aplicações e migrar para opções consideradas mais seguras, como os títulos do governo dos Estados Unidos. No Brasil, o dólar subiu 1,04%, para R$ 2,437. Trata-se da maior cotação desde 21 de agosto de 2013, quando superou R$ 2,45, obrigando o Banco Central a adotar um novo sistema de leilões no câmbio para conter a pressão de alta da moeda. No ano, o dólar acumula avanço de 3,37% frente ao real. No segmento turismo, a cotação avançou para a média de R$ 2,57 nas casas de câmbio e R$ 2,52 no Banco do Brasil.

– A cautela dos investidores em relação aos emergentes, que derrubou os mercados em janeiro, persiste em fevereiro – avalia Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora. – Já era sabido que os emergentes sofreriam com a retirada do estímulo nos EUA, o que reduz o volume de recursos disponível para investimento nesses mercados.

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Segundo Figueredo, o desaquecimento chinês pesa mais sobre o Brasil, uma vez que o país asiático é o principal parceiro comercial. Ontem, dois indicadores de atividade econômica na China recuaram, o de produção industrial e o do setor de serviços.

– Os chineses são grandes compradores de matéria-prima. A preocupação é de que a demanda por nossos produtos seja menor – diz Figueredo.

Nos Estados Unidos, o índice de atividade do setor de manufatura teve queda de 56,5 pontos em dezembro para 51,3 em janeiro. A reação foi uma queda de 2,08% no índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, enquanto a Nasdaq, mais ligada ao setor de tecnologia, recuou 2,61%. São tombos pouco frequentes no mercado de ações do país. Para João Pedro Brügger, analista da consultoria Leme Investimentos, a queda da bolsa brasileira em 2014 está exagerada, mas avisa que o quadro não deve mudar no curto prazo.

– A pressão externa deve durar até pelo menos a segunda metade do ano. Aqui no Brasil, ainda temos um agravante: a deterioração da economia. Temos juros em alta, inflação ainda elevada, crescimento fraco e contas públicas em péssima situação, sem perspectiva de melhora por ser um ano eleitoral (que demanda maiores gastos públicos) – enumera Brügger.

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Pressão contínua

Estados Unidos

Um dado sobre a atividade industrial da maior economia do mundo, que vinha dando sinais de recuperação, ficou muito abaixo do esperado pelo mercado. É um índice medido em pontos que havia registrado 56,5 em dezembro. Em janeiro, caiu para 51,3, o menor desde maio de 2013. Isso quer dizer que a retomada não é tão sólida como se imaginava. E o teto da dívida pública terá de ser elevado até o final de fevereiro.

China

Na segunda maior economia do planeta, também apareceram sinais de fraqueza na indústria. O índice ficou no nível mais baixo dos últimos seis meses, em 50,5 pontos. O número impressionou os mercados porque o nível de 50 divide tendências: acima, mostra expansão, abaixo indica contração.

Emergentes

Desde que os EUA começaram a reduzir a quantidade de dólares que injetam no mercado, países que haviam se tornado receptores de investimentos por oferecer retorno maior do que os desenvolvidos, começaram a ser afetados. Até um novo grupo foi criado, Os Cinco Frágeis (Turquia, Indonésia, Índia, África do Sul e Brasil), em referência ao risco de desvalorização cambial.

Brasil

O país cresce pouco, a inflação aumenta, as contas públicas não melhoram. Ontem, quando bolsas de valores caíram em quase todo o mundo, por aqui a queda se acentuou após a divulgação do déficit comercial recorde de US$ 4,057 bilhões em janeiro.

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